Capítulo 26

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— Eles tiveram um filho?

— Não, mas tenho certeza de que houve um. Eu costumo saber quando uma garota está grávida. Acredito que a gravidez não prosseguiu. Só Deus sabe o que houve. Seja o que for, as coisas ficaram ruins entre eles. Sam jamais falou nada, é claro. E logo após o fim do casamento, Natalie estava exi­bindo seu caso com Michael. Ela fez todo o possí­vel para provocar uma briga entre Michael e Sam. Se Sam conseguisse superar e vir ao casamento... — Ela se recostou e ficou pensativa.

Ellie ficou parada e se forçou a dizer com frieza:

— Suponho que seria difícil para Sam ver sua ex-esposa se casar com outro.

— Oh! — Irene fez um gesto de desprezo. — A garota mimada mal chegou a ser esposa dele. Mas Sam é um grego antiquado. Parece muito com o Pai. Se acredita que a honra foi manchada, é muito orgulhoso. — Ela revirou os olhos. — Homens Quem sabe o que pensam?

Ellie foi para seu quarto, luxuosamente mobiliado como o de Irene. Espelhos refletiam a luz do lago, mas era difícil apreciar a vista com o coração repleto de sombras.

Rejeitar um grego três vezes seria um insulto à honra dele? Claro que sim. Deixaria qualquer ho­mem furioso. Ele jamais iria querer pôr os olhos nela outra vez.

— Ellie?

Ela se recompôs. Irene se reinstalara em uma pol­trona na sala e examinava sua bolsa. Quando viu Ellie, deixou a bolsa de lado e jogou as mãos para o alto.

— Está certo, eu me rendo. Diga a verdade sobre você e Sam se precisar. Lamento que tenha ficado sem graça. Pensei que conhecia você melhor. — Ela colocou uma das mãos sobre o seio e olhou para Ellie com um olhar reprovador. — Tive a impressão de que você gostaria da tática. Nunca pensei que pudesse realmente ser hipócrita.

Ellie engasgou e deu uma risada chocada.

— Irene, chegou ao limite! A outra mulher sorriu.

— Espero que sim. Agora seja gentil e peça um chá. E peça que mandem um mordomo.

— Um mordomo?

— Bem, querida, precisamos desfazer as malas. Alguém precisa achar meus remédios.

O remorso arrancou Ellie da tristeza. O que esta­va pensando ao provocar uma mulher com proble­mas no coração?

— Sim, é claro. E por que você não descansa an­tes de encontrar Rosemary e Jack?

— Boa idéia. E acho que preciso comer. E você?

Ellie fez que não com a cabeça. Estava inquieta, e não tinha fome. Mas Ellie O'Dea, com todos seus defeitos, era uma mulher de ação. Precisaria enfren­tar a noiva.

Depois da chegada do mordomo, e de Irene to­mar um lanche e pegar um livro para ler, Ellie foi para seu quarto se trocar.

O grupo havia se dispersado enquanto ela esta­va se acomodando. Algumas pessoas foram para o terraço perto do lago. Natalie ainda estava no bar, olhando para o nada. Michael estava conversan­do com uma morena com cara de atriz que ficava olhando toda hora para Natalie entre gestos furiosos e sons irados.

Não era uma boa hora, segundo o bom senso de Ellie.

Parou por um momento para decidir aonde ir quando um garçom surgiu ao seu lado. Pediu um suco e seguiu para o terraço, e foi imediatamente tomada pelos aromas da piscina, protetor solar e mares ia.

Uma sombra a cobriu do sol, e ela olhou para a frente. Natalie estava lá, com vestígios na maquia­gem que faziam parecer que estivera chorando.

— Você e Sam estão mesmo juntos? — Ela ficou de pé por um segundo, depois puxou uma cadeira e sentou. Como um gênio, o garçom apareceu do nada e ela pediu um drinque.

— Não — Ellie admitiu.

— Ah, certo. Achei mesmo que Irene estava me provocando. Morei com Sam o tempo suficiente para saber algumas coisas a seu respeito. Ele jamais dormiria com alguém do trabalho, a não ser que tivesse mudado muito. Assim que qualquer uma mostrava interesse... — Ela fez um gesto de gar­ganta cortada. — Você é recepcionista dele, não é?

— Fui secretária dele.

Foi. — Ela arregalou os olhos. — Ele se li­vrou de você também?

— Sim.

A loura a observou com solidariedade inespera­da.

— É uma pena. Mas você ainda deve ter chance, senão por que Irene a traria?

Ellie deu de ombros.

— Essa combinação foi feita há tempos. Antes de... — Ela imitou o gesto feito por Natalie de gar­ganta cortada.

Natalie assentiu, apoiou a cabeça nas mãos e olhou para a mesa.

— Eu tinha esperança de que ele ainda pudes­se aparecer. Se vocês estivessem juntos, pensei que você poderia convencê-lo. Sei que ele tem idéias antiquadas e nunca perdoa ninguém por nada, mas seria muito importante para Michael se Sam supe­rasse tudo e seguisse em frente.

Natalie estava pensativa, e num esforço para dis­traí-la, Ellie falou:

— Não vai ter uma despedida de solteira? Já teve?

Ela olhou para frente.

— Quem precisa disso? Eu não ligo. Só quero 0ie casar com o amor da minha vida naquela praia amanhã e esquecer o mundo. Não preciso de nin­guém para segurar meu véu. E uma praia, afinal.

Ellie imaginou se a morena no bar era uma das damas.

Natalie terminou a bebida e ficou de pé. Fez men­ção de que ia embora, depois se virou, inclinando-se na direção de Ellie.

— Sabe, Sam é um grego muito antiquado, como o pai. E como o meu também. Ele não entende que uma mulher pode querer ter vida própria. Ele acha que ou a mulher tem que ser uma propriedade sua, ou deve cuidar da própria vida, mas não as duas coisas ao mesmo tempo. O que ele quer é alguém que se sinta feliz em ser boa esposa e mãe, — Ela se despediu dele e deixou o recinto.

Ellie sorriu, mas uma ironia massacrava seu co­ração. Talvez fosse o que ele desejava. Pelo menos, foi o que desejara com Natalie. Mas as regras eram diferentes com a ex-secretária.

A loura se afastou. O que fazia algumas mulheres serem desejáveis como esposas a ponto dos homens brigarem por elas e fazerem de tudo para conquis­tá-las, enquanto outras só podiam querer ser aman­tes?

Se Irene estivem certa sobre o bebê, que tragédia teria afastado os recém-casados? Mal podia imagi­nar Sam com um filho.

***

Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now