Capítulo 8

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Entretanto...

Ele dispensava secretárias por se sentirem atraí­das por ele. Jamais arriscaria ter um caso com sua secretária depois de tentar dar exemplos aos fun­cionários.

E o que acontecera em relação ao salário? A não ser que tivesse entendido errado, ele pretendia lhe dar um aumento. Ela pensou no momento desconfortante em que ele lhe rodeou e quase soltou um gemido. Beth estava certa. Deveria ter melhorado seu guarda-roupa. E se o assunto pessoal que ele queria discutir fosse as roupas dela?

Apesar da ansiedade que a consumia, ela fez um grande esforço para se concentrar no livreto que estava preparando para apoiar a estratégia de Sam unir os chefes de departamento. Deveria ou não incluir a pesquisa sobre creches no local de tra­balho?

A porta de Sam se abriu e ele apareceu.

— Pronta? — O olhar dele foi além dela. Ele an­dou até a mesa e pegou a foto de Mark. — Quem é? Seu namorado?

— Não. É... um amigo. — Ela achava que Mark ainda podia ser chamado de amigo, mesmo depois de 14 meses sem comunicação.

Sam examinou a foto na luz, virando-a de um lado para outro.

— Há alguma coisa nele. Me lembra alguém. Já sei. O lenhador naquela história... Qual é mesmo o nome? — Ele estalou os dedos. — "João e Maria". Ele sempre usa barba?

— Ele é alpinista. Um aventureiro.

Ele fizera Mark parecer tão ridículo que ela não conseguiu deixar de ficar na defensiva. Mas por que ficaria? Mark jamais se vestira bem. O desejo dela por roupas belas e elegantes fora um dos problemas entre eles, e ela aprendeu a suprimir essa discórdia. Mas não havia nada mais ridículo do que uma ca­misa xadrez de flanela.

— Ele gosta... de desafios.

— Ah. Todos gostamos — ele disse suavemen­te, e limpou a foto com a manga do terno Armani antes de colocá-la de volta sobre a mesa. Deu um sorriso maldoso. —Agora pode vê-lo com clareza. Está pronta?

O restaurante na cobertura estava repleto de exe­cutivos. Ela viu vários gerentes do banco, entre drinques e intrigas.

A novidade se espalharia como um raio, ela pen­sou, notando as cabeças curiosas que se viravam para vê-los. Podia até ouvi-los falando na cantina: "Ellie está de caso com o chefe". Pelo menos com a presença de outros funcionários, ele provavelmente não a surpreenderia.

O maítre os levou a uma mesa num canto dis­creto.

— Champanhe, senhor? Madame?

Ela ficou aliviada guando Sam respondeu:

— Água mineral. E um almoço de negócios.

Os executivos se apressaram para esconder as ta­ças de vinho.

Sam olhou para ela sobre a mesa.

— Eleanor — disse ele suavemente, presenteando-a com um belo sorriso. — É um nome grego. Sabia disso?

Se ao menos o sorriso não lhe parecesse uma caricia...

— Pensei que fosse francês — ela respondeu, in­capaz de suprimir seu próprio sorriso. — Por causa de Eleanor d'Aquitane.

— Eleanor d'Aquitane certamente tinha ascen­dência grega. E acho que também tinha cabelo ruivo-dourado.

Ruivo-dourado. As palavras a atingiram de sur­presa e o sorriso desapareceu do rosto dela. Se pre­cisara de provas da memória patética dele, acabara de ter. Ela não exibira seu cabelo ruivo-dourado no baile? Naquela ocasião, ele parecera entusiasmado por passar as mãos nele. Depois daquela experiên­cia, era a única cor da qual Sam devia lembrar.

Sonhos de Uma NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora