Capítulo 5

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Sam conduziu a mãe ao redor dos cacos do vaso até a sala de estar do escritório. Enquanto ela se acomodava no sofá, ele foi até a janela e examinou a vista.

— Ela parece ser uma garota adorável, Sam. Sam deu de ombros, mas algo parecia incomodá-lo. Por que ela dissera não gostar dele?

Ele relembrou as conversas de trabalho. A boca de Ellie costumava ficar séria, mas ela parecia feliz, calma e competente. Executava todos os projetos com eficiência, surpreendendo-o às vezes com sua percepção instintiva. Ele a achava encantadora.

Honrara o acordo com ela, e continuaria a honrá-lo, apesar da dificuldade. A rejeição dela no primei­ro encontro fora impressionante. No entanto... que

desafio mais interessante poderia ser apresentado a um homem?

Não que ele aceitasse relacionamentos pessoais no local de trabalho. Alguns poderiam afirmar que ele não devia tê-la posicionado tão próxima a ele.

Por um instante ele fechou os olhos. A curiosa sensação de falta de ar que ele sentia cada vez que ela entrava na sala o dominou novamente. Era im­pressionante como uma mulher se tornava mais de­sejável e atraente do que qualquer outra depois da visão do seu rosto ser negada a um homem.

Mas... Ele conhecia as regras. A linha invisível que ela exigira ao redor de si era como um fosso margeando um castelo, e em 26 dias ele jamais ten­tara cruzá-la.

Se ela estava infeliz... Poderia ser algo relaciona­do àquela noite!

A mãe interrompeu seus pensamentos. Ela o ob­servava pensativa, com a cabeça ligeiramente in­clinada.

—Não deve levar o que ela disse para o lado pes­soal, querido. Ela me garantiu que só estava falando no sentido sexual.

Ele deu uma risada.

— Foi isso o que ela disse? — Ainda assim ele ficou inquieto. Mulheres sempre o achavam atra­ente sexualmente. Se Eleanor O'Dea era a mulher que ele pensava, tinha todos os motivos para achá-lo atraente sexualmente.

A não ser que estivesse enganado.

Pensou na primeira vez que pusera os olhos nela depois de assumir o banco. Na festa de Natal.

Ele se lembrou de como ficara surpreso com as proporções da festa. Homens e mulheres maduros festejando, abraçando-se como amigos às custas da empresa. Quando ele perguntara quem fora respon­sável por organizar a festa, alguém apontara para Ellie.

Lá estava ela, em silêncio no meio da balbúrdia. Mas de uma forma estranha ela estava só, como se estivesse dentro de seu próprio lago de serenidade.

Era ela, ele tinha certeza. Ver os olhos dela pela primeira vez foi o que mais o afetou. Eram da cor de safira e brilhavam ao observar a farra dos colegas.

Usava saltos muito altos e uma roupa marrom. Pelo que ele lembrava, a roupa era um tanto dis­forme. Na verdade, a maior parte das peças que ela vestia não fazia jus ao belo corpo.

Não conseguira tirar os olhos dela, mas quando ela olhara para ele, os belos olhos se desviaram.

Ele ficara abalado. Teria se enganado?

A mãe logo foi acalmá-lo.

— Não é que ela não goste de você por quem você é, querido. Ela é exatamente o que você preci­sa. Natalie não gostou nada dela.

— Não gostou? Quando foi que Natalie gostou de alguma mulher?

— É verdade. Natalie se sente ameaçada pelo tipo de mulher com o qual não pode competir. Era sobre isso que eu queria falar com você.

— Está bem. — Ele sentou na cadeira em frente a ela. — Vamos falar sobre o casamento.

Irene sentou na beira do sofá. O rosto do filho estava paciente, mas ele tinha o olhar desconfiado.

Teria que falar com cuidado. Depois de Natalie e do divórcio, a mãe percebeu um certo cinismo adicio­nado à sofisticação dele. A semelhança dele com o pai ia além da cor da pele e da beleza. A civilidade escondia uma profundidade de sentimentos que não seriam facilmente afetados uma segunda vez.

— Serei honesta, Sam. Estou um pouco nervosa de ir ao casamento sozinha. Minha presença lá tal­vez aborreça Natalie. Quem sabe o que pode acon­tecer? — A mão dela cobriu o coração.

Sam notou o gesto inconsciente.

— Se seu pai estivesse vivo...

— Ele não deixaria você ir. — Ele se esforçou para ser gentil. — Você não precisa ir.

— Se não for, essa rixa persistirá! Não, querido, não posso me afastar de minha família para o resto da vida. Sinto falta do meu irmão. E apesar de sa­ber que você jamais admitirá, deve sentir falta de Michael. Ele não é só seu primo, é o melhor amigo que você já teve.

Uma resposta furiosa veio à mente de Sam, mas ele nada falou. O coração frágil dela não agüentaria discursos inflamados sobre a traição de sua honra. Estava claro o que ela ia pedir: seu comparecimento ao casamento do primo.

Com a ex-mulher dele.

Já fazia algum tempo desde que tivera vontade de arrancar os corações deles. Agora só queria que desaparecessem da face da terra, mas jamais diria isso a Irene. Ela era mulher, e nem era grega. O pai teria entendido.

— Não vou ao casamento deles.

A mãe assentiu.

— Ninguém pode culpá-lo, Sam, mas se não for, a história que Natalie está espalhando de que você não a esqueceu parecerá verdade. Até meu irmão parece convencido de que você não consegue mais olhar para outra mulher. — Ela revirou os olhos. — Ele escreveu um bilhete solidário perguntando sobre seu estado mental. "Se Sam não quiser vir, entenderemos", ele disse. Tenho que admitir, queri­do, achei o comentário bastante irritante.

Sam deu uma risada mordaz. Mas era verdade que não procurara uma substituta desde o divórcio. Uma Natalie era suficiente pela vida toda. No co­meço ele achara que as diferenças entre eles termi­nariam, mas elas só pareceram aumentar. Eles ja­mais pensaram do mesmo jeito. A jovem volúvel e encantadora com quem ele se casara não passava de uma criança mimada e destrutiva. Criança demais para estar pronta para as responsabilidades exigidas pela maternidade.

As entranhas de Sam se remoíam com a lembran­ça do gesto imperdoável dela em nome da carreira. Seduzira seu primo para um caso, escandalizara a família dele e acabara dividindo-a ao meio.

Enquanto ouvia a mãe falar dos preparativos para o casamento de Natalie, ocorreu a ele que, se voltas­se a procurar uma esposa, ela teria que ser diferente. Mais sutil e elusiva. O tipo de mulher que pudesse nutrir a imaginação de um homem.

Como acontecia com freqüência desde a noite do baile de máscaras, uma visão subiu à mente dele. E quanto mais ele via Ellie O'Dea, mais ficava convencido de que seu primeiro instinto sobre ela fora correto. Ela era uma mulher de fantasia.

Se ao menos pudesse vê-la com outras roupas, fora do escritório... Talvez pudesse planejar um jan­tar de negócios onde ela fosse convencida a se ves­tir com algo mais ousado. Justo, até. De cetim.

Achava que conseguiria quebrar a barreira imposta por ela. A idéia dela não achá-lo atraente era risível. Queria vê-la engolir essas palavras. Não parecia um exagero afirmar que ela o desafiara mais uma vez.

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Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now