Capítulo 18

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Sam se afastou e Ellie seguiu para a sala de reuniões. Guardou as apostilas para distribuí-las ao final da reunião, verificou o equipamento audiovi­sual e colocou blocos e água sobre a mesa.

Os gerentes começaram a chegar, e a maioria de­les a cumprimentou com familiaridade.

— O que é isso sobre uma creche no prédio? Assustada, Ellie viu que Trevor, do departamento de vendas, vira as apostilas e pegara uma.

— Não me diga que vamos mudar a filosofia e virar um banco sensível — ele reclamou, folheando o livre to.

Ela estava prestes a arrancar o material da mão dele quando Margot, do departamento de avaliação de produtos, inclinou-se sobre ele para ver.

— Onde conseguiu isso? — Ela examinou a pá­gina. — Mostre onde menciona a creche.

O gerente à esquerda de Trevor quis ver também, e em pouco tempo muitos deles estavam debatendo calorosamente os prós e contras de manter esse tipo de serviço na instituição.

Ellie observou apreensiva, com medo de Sam che­gar enquanto ainda discutiam o assunto. Em qualquer outro momento ela ficaria feliz pelo interesse deles. Tivera esperança de que, ao incluir as pesquisas na apostila, a idéia de uma creche no banco para filhos de funcionárias pudesse evoluir. Tivera o impulso de retirar a página antes da reunião, mas os eventos do dia anterior a fizeram esquecer isso.

O problema era que Sam não havia exatamente aprovado a iniciativa dela. Na verdade, ele não sa­bia de nada.

— Teria feito uma grande diferença para mim — Margot falou para os colegas. — Eu teria meios de vir trabalhar. Eu seria a presidente agora. Em vez disso, tive que lutar para ir em frente, e no final foi 'mais fácil ficar em casa com os gêmeos e criá-los na pobreza. Parabéns, Sam.

Ellie olhou em volta alarmada. Sam acabara de entrar. A voz penetrante de Margot imediatamente chamou a atenção dele, e para o pavor de Ellie, ele se aproximou. Franzindo a testa, inclinou-se para ver a página que todos examinavam. Ellie o ouviu dizer:

— Uma o quê? Onde está escrito isso? Com o coração na garganta, ela viu Sam pegar a apostila. Ele se apoiou na mesinha lateral para exa­miná-la e depois levantou o olhar. A gravidade do que ela fizera retumbava em sua cabeça, e sentiu a culpa subir ao rosto. Mas o orgulho não permitiria que abaixasse o olhar para o homem que a chama­ra de garota dos sonhos e fizera um amor delirante

com ela.

Uma mentira. Por que a mente fértil dela não

criava uma alternativa? Ainda procurava o que di­zer quando seu ex-chefe, Stephen Fletcher, entrou. — Oi, pessoal — Fletcher disse, colocando a pasta sobre a mesa sem notar Sam do outro lado da sala. Depois ele sorriu e esticou as mãos. — Ellie, meu amor. Você está maravilhosa. — Ele a abraçou. — Ainda manda no banco?

Fletcher.

A voz grave partiu o ar. Fletcher se afastou dela como se tivesse sido golpeado, e as conversas paralelas foram interrompidas de imediato. Todas as cabeças se viraram.

Samos Stilakos tomara sua posição. O terno ele­gante e a postura enfatizavam sua autoridade.

— Se não se importar de tirar as mãos da senhorita. O'Dea... — Ele falou com e alma, mas os olhos dele pareciam adagas. — Sentem-se. Por favor.

O semblante do pobre Fletcher desmoronou. Uma sensação de embaraço tomou conta do grupo. Sam assentiu com hostilidade para Ellie. — Eleanor, As portas.

Ela andou para fechá-las numa ação o mais na­tural possível. Quando sentou, não pode se privar de olhá-lo com severidade pelo tratamento que ele

dera ao ex-chefe.

Apesar do olhar frio com que retribuiu, Sam apresentou as propostas de forma tranqüila, como bom profissional que era. Tudo correu bem com os gerentes, que não o receberam amistosamente quando ele assumira o banco, pondo fim a muitos privilégios que vigoravam até então. Agora eles o aplaudiram, considerando, afinal, o fato de terem um líder competente e dinâmico.

Ele dirigiu alguns comentários a ela. Todos foram educados e até mesmo respeitosos. Quando fora pe­gar água, vários homens se levantaram para ajudá-la, mas Sam parou de falar para pegar a jarra antes de todos. Ele serviu um copo e entregou a ela com cortesia extrema, tomando o cuidado de não tocá-la nos dedos.

Os gerentes pareciam mais descontraídos na pre­sença dele do que em qualquer outra ocasião, mas isso só piorava tudo. Antes de saírem, para o lamen­to de Ellie, alguém ainda teve ânimo o bastante para reacender a discussão sobre a creche. Inteligente de­mais para não perceber a oportunidade de quebrar o gelo, Sam permitiu que o assunto fosse desenvolvi­do, parecendo relaxado com as mãos sobre a mesa. Ela fez um esforço para prestar atenção ao de­bate. Um dos funcionários mais antigos era contra mães que trabalhavam fora em qualquer circunstân­cia e com isso gerara um intenso debate.

— Precisamos do ponto de vista de uma mulher jovem — Margot declarou, olhando em volta. — O que acha, Ellie? Você se imagina trazendo seu bebê para o trabalho?

O coração de Ellie congelou. Todos os olhares se voltaram para ela, incluindo o de Sam. Era a última coisa sobre a qual poderia opinar na presença dele. Em outras circunstâncias ela teria adorado partici­par da discussão com essas mesmas pessoas, e sabia que podia ter sucesso. Mas não na frente de Sam. Não depois da noite anterior.

Ela evitou os olhos dele, mas sentiu-o queimar seu rosto. Desconhecendo os acontecimentos, os gerentes ficaram inflamados para convencê-la de seus pontos de vista. Sem saber, cada palavra que diziam feriam a sensibilidade dela.

— Não vai querer trabalhar se tiver um bebê, não é, Ellie? Ela vai querer ficar em casa e cuidar do filho adequadamente, como qualquer mãe decente.

— Besteira, Gary — Margot disse, provocando-o. — As mulheres têm o direito de trabalhar. Ellie é empenhada no trabalho. Não vai querer largar tudo para se dedicar a fraldas e golfadas. Ela vai querer um pouco de tudo, não é, Ellie? O trabalho e a família.

— Por que o marido não a sustentaria até a crian­ça chegar na idade escolar?

— Ele talvez não tenha emprego. Ela pode ser a provedora do lar.

— Não daria certo trazer um bebê para cá. Desconcentraria o trabalho. Seria melhor colocar a criança em uma creche perto daqui.

Os argumentos ficaram ainda mais torturantes.

— E se ela quiser amamentar?

— Então não devia ter um bebê.

A discussão pegou fogo. O tempo todo ela sentiu o peso do olhar de Sam queimando-a até a alma. Finalmente um deles parou de falar pelo tempo su­ficiente para que notassem o silêncio dela.

— Olhem para a pobre Ellie. Estamos interrogando-a e ela nem começou a pensar em bebês. Pa­rem de pegar no pé dela.

Todos os olhos se voltaram para ela de novo.

Ela sentiu o pânico subir pela garganta. Sabia que todos estavam avaliando a idade dela, especu­lando sobre sua vida amorosa e suas poucas chan­ces. Os ovários eram o centro das atenções. Em um momento, algum espertinho mencionaria sobre os apelos do relógio biológico e a mandaria achar o homem de sua vida.

Era o pior dos pesadelos para uma mulher que priorizava o trabalho.

Normalmente, ela conseguia dar um sorriso se­reno e dominar a situação de forma confiante. Mas não naquele momento. Pela primeira vez ela se viu fracassada.

Conseguiu ficar de pé e dizer com dignidade:

— Se me derem licença, tenho coisas a fazer. — Ela saiu da sala e correu para o banheiro.

***

Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now