Capítulo 4

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Quatro meses depois, Ellie era secretária do chefe mais cruel e exigente que o Banco Sirius jamais ti­vera. Estava há 26 dias no cargo, e ainda não sabia como conseguira ficar tanto tempo. Mas sabia de uma coisa:

Sam Stilakos tinha péssima memória.

Ou uma vida sexual muito intensa. Por que outro motivo ele esqueceria a noite que ardia na lembrança dela? Por outro lado, se ele lembrasse, ela iria parar na sarjeta e teria seus planos de vida destruídos.

Ainda assim, era decepcionante descobrir com que facilidade havia sido esquecida.

Por algum tempo ela chegara a pensar que ele po­dia ser um ótimo ator. Durante as semanas em que o viu todos os dias e trabalhou com ele na atmosfera tensa do escritório, encontrou o olhar impenetrável sobre mesas de reunião e se derreteu ao ouvir a voz dele ao telefone. E ele não demonstrou nem uma vez tê-la reconhecido. Nem flertou com ela. Era apenas educado.

Não era surpresa que a ex-mulher dele tivesse problemas.

Um barulho de algo quebrando despertou Ellie. A visita da ex-esposa não estava indo bem. Quase na mesma hora ela viu uma senhora elegante apare­cer na porta externa. Ela se apresentou como Irene Stilakos.

Ellie escondeu a fascinação por trás da expressão profissional. Era a mãe de Sam. Mas não era grega!

— Ele recebeu uma visita inesperada. — Ellie sorriu, imaginando que Irene também ouvira o ba­rulho. — Não deve demorar. Gostaria de um café enquanto espera?

Irene Stilakos sorriu, recusou e sentou em uma poltrona. Ela descartou uma série de revistas e pe­gou uma cópia do balanço anual do banco.

Ela parece simpática, pensou Ellie, procurando alguma semelhança com as belas feições de Sam. Tinha uma aparência agradável. Era surpreendente o fato de ter um filho tão...

A porta do escritório de Sam foi aberta com vio­lência. Ellie estremeceu, e a mãe de Sam olhou quando uma voz seca cortou o ar.

— Qualquer um pode errar, Sam! Não sabe o que é perdoar?

Houve uma resposta breve, e Natalie, atriz de novelas e ex-mulher de Sam, apareceu na porta de costas.

— Sabe por que tem medo de ir ao meu casa­mento, querido? Pois não conseguiu encontrar ou­tra mulher em quatro anos. Sabe por quê? Pois não consegue me substituir! Jamais conseguirá.

Bateu a porta com força. Antes de sair ela pa­rou, falando sozinha e revirando a bolsa. Parecia ser problemática. Uma problemática sexy, exatamente do tipo que enlouquecia os homens.

Inconscientemente, Ellie passou a mão no coque preso à nuca. Sabia desde o início que não causara uma impressão marcante. Pensara em ficar loura quando Sam se tornara seu chefe, mas decidira por outro caminho, pintando o cabelo de um vermelho profundo. Parecia ter funcionado bem. Bem de­mais, até.

Observou enquanto Natalie pegava lenços de pa­pel para secar o nariz modelado cirurgicamente. De repente ela viu a mãe de Sam e ficou paralisada.

Irene Stilakos levou um susto e ficou ainda mais ereta na poltrona.

— Oh. Não se incomode comigo, Natalie. Só es­tava pensando que você devia andar com cuidado com esses saltos. Precisa ter cuidado com a coluna. Pense no futuro, quando estiver grávida.

Natalie expirou ultrajada e se virou para Ellie.

— Está olhando o quê? Espera ter alguma chance com ele?

Ellie sentiu o rosto ficar vermelho. Seus lábios se abriram para negar, mas a acusadora não se calou.

— Não tente negar. Já ouvi você falando com ele com essa voz melosa. Está atrás dele. Todas estão. Não acha que uma mulher sabe?

Ellie buscou uma postura profissional, sabendo que a mãe de Sam estava ali. E Sam ouvia muito bem.

— E apenas o modo como eu falo. Não posso me dar ao luxo de gritar e nem de jogar coisas. E tenho trabalho demais a fazer para ficar atrás de alguém.

— Sei. — A risada delicada de Natalie ecoou na sala. — Está escrito em sua testa. Pode ficar com esse bruto de sangue-frio, se achar que agüenta. — Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Tente viver com um perfeccionista. Veja como é ser dis­pensável. — Ela balançou os cabelos e seguiu em direção aos elevadores.

Ellie se recompôs e viu a mãe de Sam observando-a.

— Não é verdade. Não gosto dele. Quer dizer, ele é bonito, brilhante e muitas outras coisas, mas não faz o meu tipo. É exigente demais, arrogante e mandão. Não que isso seja ruim em um chefe. Por favor, não se ofenda...

A mãe de Sam deu um sorriso preocupado, como se fosse necessário convencê-la.

— ...mas prefiro homens com menos poder. Mais simpáticos. — A recorrente imagem de si mesma nos braços fortes de Sam voltou à sua cabeça, mas ela se forçou a se concentrar. — Gosto de homens mais acessíveis. Emocionalmente. Entende o que quero dizer?

Na realidade, não passava de uma mentira des­carada. Ela só se apaixonava pelos homens errados, totalmente inacessíveis.

A mãe de Sam parecia saber disso, pois franziu a testa para Ellie e balançou a cabeça. Ellie achou que era melhor reparar o que disse.

— Não quero dizer que não é bom trabalhar para ele. Ele é maravilhoso e muito receptivo com as pessoas que não o irritam, mas no sentido pessoal ou sexual eu jamais o acharia atraente...

Ela parou. O olhar da mãe de Sam se deslocou para a direita de Ellie, e ela teve a terrível sensação de que havia alguém na porta do escritório. Olhou para baixo e viu um par de sapatos de couro.

O olhar apavorado subiu até chegar aos olhos es­curos e inteligentes de Sam Stilakos, que brilhavam com uma expressão enigmática. Havia um riso cí­nico na boca sensual.

O coração dela parou.

— Entre — disse ele, segurando a porta para Ire­ne sem tirar os olhos de Ellie. Irene deu um olhar caloroso para ela quando passou. — Falo com você depois, Eleanor.

Ele fechou a porta.

Ellie ficou transtornada. Quanto tempo ele perma­neceu ali? Não era possível que não tivesse ouvido.

E se Irene contasse a Sam sobre as acusações de Natalie? Já devia estar contando.

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Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now