Capítulo 22

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Sam manteve a calma. Abriu a porta do carro, en­trou, travou o cinto de segurança, em movimentos calculados. Inseriu a chave e deu a partida, sem qualquer tremor nos dedos. Com precisão controla­da ele dirigiu até o fim da rua e parou no sinal.

Uma onda de emoção apareceu para dominá-lo. As mãos dele se apertaram contra o volante.

Mulheres não o rejeitavam. Não duas vezes. Nem uma vez. O sinal ficou verde e ele enfiou o pé no acelerador.

Ele a teria. Por quanto tempo quisesse, e ela se­ria grata. Ela rastejaria por mais. Ficaria de joelhos, chorando para ter um caso com ele.

Sam puxou a gravata e afrouxou o colarinho. Fi­zera a única coisa possível. Então por que se sentia um canalha?

Era natural ela estar aborrecida. Perdera o empre­go. Se ele era culpado por algo, era ter subestimado o quanto ela ficaria aborrecida. Ele lembrou o mo­mento em que ela abrira a porta para ele com expec­tativa nos olhos de safira e seu coração se contraiu.

Ele desejou poder fazer qualquer coisa para apa­gar a dor que causara a ela. Voltar lá, devolver-lhe o emprego, acertar tudo, voltar no tempo...

Como conseguiria se recuperar aos olhos dela?

Era arrasador descobrir como podia ser tão fa­cilmente esquecida pelos amigos com quem traba­lhara durante anos.

Nos dias seguintes à crise eles ligaram, ávidos por saber o verdadeiro motivo da saída dela. Ti­nham esperança de ouvir algum escândalo sobre ela e Sam. Era humilhante, mas ela desempenhou bem seu papel e fingiu ter decidido mudar de emprego.

Em pouco tempo as ligações diminuíram.

Mas ela não se esqueceu de Sam. Noite após noi­te, sofria pensando na última vez que estivera com ele. Doía saber que ele priorizava a honra pessoal, em detrimento da felicidade e da segurança dela.

Não importava quem estava certo. Nem que partiu dela a iniciativa da demissão e a insistência em falar de ética. Precisava que ele sofresse tanto quanto ela. E que se preocupasse, se lamentasse. Rastejasse im­plorando perdão enquanto ela o desprezasse.

Mas ele não entrou em contato. Não ligou para saber como ela estava se sentindo nem para tirar dúvidas sobre reuniões e compromissos.

Depois de três semanas, o silêncio dele deixou claro que era mesmo o fim. Ela passou a ter raiva de si mesma. Como podia ter se permitido cair na mesma armadilha?

Jamais ficara tão mal. A paixão por ele era quase insana.

Tentou lutar contra a saudade, mas não conse­guia parar de desejar que o telefone tocasse nem de correr para a janela na esperança de ver o carro dele chegar. Verificava sua caixa postal uma dezena de vezes ao dia. Em alguns dos piores momentos chegava a pensar em mandar uma mensagem de texto para ele, implorando para que perdoasse as coisas abomináveis que ela dissera.

Mas não faria isso. Samos Stilakos jamais a perdoaria, então, se preparou para reconstruir a vida e começar do zero.

Seu lado prático se dedicou à tarefa de retomar as atividades.

Ela passou a se preparar para o próximo empre­go e as entrevistas. No início, não usou a carta de referência de Sam por puro orgulho, mas quando cedeu, portas que certamente ficariam fechadas se abriram para ela.

Semanas depois da última conversa, ela se viu em um dilema quando uma amiga do banco ligou para convidá-la para um almoço de despedida em sua homenagem. Ironicamente, a presidência con­cordara com o evento.

O que significaria? Seu primeiro instinto foi de evitar ser submetida a esta tortura, mas seus amigos não mereciam ser tratados com frieza. Além disso, ela já estaria perto de uma entrevista. Voltar ao lu­gar que amava seria difícil, porém não mais do que a possibilidade de reencontrar Sam.

Não conseguia afastar a esperança patética de que ele teria planejado este almoço para poder vê-la, e devia ter percebido que sua luta para tirá-lo da cabeça e do coração ainda não tinha terminado. Por outro lado, ele poderia não estar lá. Por que estaria, quando ela dissera jamais querer vê-lo de novo?

Mas se ele não fosse, que novo tipo de dor se apresentaria a ela?

O dia estava nublado. Uma tempestade se for­mava no horizonte, e o céu tinha um aspecto triste. Depois de quase vomitar de ansiedade, ela vestiu o melhor terno e se preparou para outra performance digna de um Oscar.

Ela se saiu bem na entrevista, pois assim que dei­xou o escritório, ligaram para dizer que o emprego era dela. Ao menos isso era animador. Dos amigos do banco, só Beth sabia o que ocorrera na verdade, e agora ela podia anunciar que tinha outro emprego.

Ainda assim ela se preparou na hora de passar pelas portas de vidro na entrada do banco, e se la­mentar pelo afastamento daquele lugar que tanto amava.

Aproximou o dedo do botão do elevador que in­dicava o andar de Sam. Mas a certeza de ver uma outra beldade reinando em sua mesa era cruel de­mais. Então foi direto para o restaurante.

***

Sam tentou não olhar para o relógio. Ainda as­sim, via os minutos passando com o canto do olho.

E se ela não viesse?

O buraco negro que havia no peito dele inchou e ameaçou engolir o mundo. Estava em todo lugar. No apartamento... No banco...

Ela mantivera a palavra de não procurá-lo. Não fizera contato em semanas. Houvera apenas um te­lefonema da boutique para informá-lo da devolução dos presentes. A rejeição das roupas o magoara pro­fundamente. Representava mais um sinal do quanto fora sem tato com ela. Tudo que fizera foi ofender a sua sensibilidade.

Precisava achar as palavras certas. Quais seriam?

Pensou em Natalie, nas mulheres que conhecera antes de se casar e no quanto elas gostavam de frivolidades caras. As atitudes que ele pensava dominar sobre as mulheres pareciam equivocadas.

***

Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now