PNF - Capítulo 09

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[Miguel Sobral - São Paulo, 1998]


—Eu vou processar aquele filho da puta!

Meu pai berrou mais uma vez, andando de um lado por outro e parecendo estar traçando um plano muito importante. Mamãe o seguia e tentava a todo custo colocar gelo no roxo que tinha em volta dos seus olhos.

Depois daquele soco, tudo se tornou uma grande confusão de pessoas de um lado pro outro, pessoas chocadas com que tinha acontecido e pessoas tentando acalmar a situação, já que meu pai parecia não querer deixar assim e pretendia revidar.

No meio daquilo tudo, senti as mãos do Rodrigo pegarem as minhas discretamente, antes dele me olhar e sussurrar alguma coisa ­– que foi impossível ouvir pelo barulho – e se certificar de que eu estava bem antes de se afastar de mim e ir em direção a sua mãe. Fiz o mesmo, chegando até meus pais e um homem desconhecido que segurava meu pai e falava pra ele se acalmar sem resultado, já que ele gritava palavras de ódio e tentava sair dos braços do homem.

No caminho pra casa não foi muito diferente, minha mãe veio dirigindo visto que era praticamente impossível pro meu pai, enquanto nós ouvíamos insultos e mais insultos contra os Aguilar. Agora, depois de quase meia hora que tínhamos chegado, ainda estávamos ali, meio abalados pelo que tinha acontecido.

—Menino. – Dona Lurdes sussurrou, me chamando atenção de modo que só eu escutasse. Já era noite, mais do que o horário que ela costumava ficar, então sabe se lá porque ela ainda estava ali. – O que aconteceu?

Ela me perguntou assim que eu me aproximei. Embora eu tenha ouvido gritos o suficiente, ainda não sabia exatamente o que tinha acontecido e como começou.

—Eu não sei... quer dizer, foi uma briga. – Esclareci. – Com o Mauro Aguilar.

—Meu Deus. – Ela parecia chocada, levando a mão até a boca e parando pra pensar. – Isso não vai acabar nunca, né?

Era a essa a pergunta que eu me fazia, até mesmo bem antes do meu sei lá o que com o Rodrigo, mas agora eu me perguntava ainda mais. Será que não acabaria nunca?

—É, acho que não. – Respondi por fim.

—Desde quando comecei a trabalhar aqui que ouço essas picuinhas. Sabe, a Simone, mulher do Mauro, não é uma pessoa ruim, claro que não conversamos sobre esse assunto. – Ela dizia baixo e apontando pros meus pais que estavam mais longe, mostrando que era deles que ela falava. – Mas tirando isso, acho que eles são boas pessoas. Assim como vocês são.

Completou e eu sorri ao ouvir falar da mãe do Rodrigo daquela maneira, pois das vezes em que a vi nas reuniões de pais no colégio, ela parecia ser legal, até mesmo pra dar bronca no filho. O que dificultava tudo era essa briga ridícula entre nossas famílias.

—É, eles não devem ser ruins. Pelo menos o... – Comecei a falar animadamente, mas vi que estava começando a falar demais e parei rápido. Mas vi que já não tinha mais volta, pois dona Lurdes me olhava questionadora. – O filho deles. É... é... ele é meu amigo.

—Isso é bom, filho. – Ele me respondeu contente. – Se ele é legal contigo, não deixa de fazer amizade não. Quem sabe essa briga não acabe de vez pela amizade de vocês.

Me disse e eu agradeci por ela não ter entendido ou percebido a relutância que eu tive em dizer a palavra amigo, mas querendo mais que tudo que ela realmente estivesse certa em achar que algum dia essa briga acabaria. Talvez eles pudessem conversar e se resolver, talvez eles pudessem ser pelo menos civilizados uns com os outros, talvez Rodrigo e eu pudéssemos contar que... Quem eu estou querendo me enganar com isso tudo? Isso nunca iria acontecer!

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now