PNF - Capítulo 30 - PARTE II

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[Miguel]

Esperei durante alguns segundos qualquer movimentação indicando que ouviram o barulho da campainha e que estavam indo abrir o portão, e nesse meio tempo, pensei em desistir diversas vezes. Foram os segundos mais longos da minha vida até então, a espera parecia durar horas e eu realmente não sabia o que fazer. O que eu falaria? O que eles fariam? Era compreensível até que eles não quisessem me atender, visto que fui eu que forcei a me manter distante inicialmente.

De repente o portão começou a se abrir e eu fui obrigado a dar fim a todos àqueles pensamentos porque ali estava ela. Minha mãe, Judite Sobral, não muito diferente do que eu me lembrava, com as mesmas feições de sempre, porem deixando claro que o tempo tinha passado. E como tinha passado. E eu mesmo não sabia o quanto de saudades ele tinha deixado.

—Oi. – Disse quando ela abriu um pouco mais do portão, dando margem apenas para que seus olhos captassem quem era.

—Miguel?

Perguntou confusa e eu engoli em seco, prendendo a respiração e segurando qualquer emoção que estivesse a ponto de sair.

—Oi.

Pronto. Após confirmar que de fato era eu, só esperei pra ver qual seria a sua reação depois de todos esses anos, e nesse meio tempo acreditei que minha ansiedade poderia me causar algum ataque no coração.

—Miguel? – O portão se abriu mais um pouco, revelando o interior da casa, mas minha atenção estava nela e em como sua feição ia mudando aos poucos de confusa para alegre e surpresa. – Miguel!

—Sim, hum...

Fui interrompido e antes mesmo que eu pudesse processar, estava sendo envolvido dentro de um abraço ainda que meio desajeitado. Surpreso, eu permaneci estático sem saber como reagir àquele abraço inesperado, ficando parado ali por alguns segundos.

—Filho.

Sussurrou bem próxima do meu ouvido e eu deduzi que estivesse na ponta dos pés para que conseguisse fazer isso, já que nesses anos eu consegui crescer alguns bons centímetros. Ela tinha um cheiro confortável, cheiro do qual eu conhecia e me lembrava, por isso, não hesitei em retribuir o abraço apertado antes que ela me soltasse. Quando nos soltamos, ela voltou a me fitar como se de repente eu fosse sumir como num passe de mágica, sorri contido a ela e esperei por qualquer reação.

—Miguel! É você! Você tá aqui...Vem, entra.

O sorriso que ela carregava ao dizer aquilo deixou meu coração mais calmo, mais acalentado e mais seguro de que eu fizera a escolha certa em procura-los. Segui seus passos, embora ela ainda permanecesse com uma das suas mãos presas a minha para me guiar pra dentro, e entrei de volta a minha antiga casa.

Tudo, praticamente tudo, estava diferente do que eu me lembrava e nem me surpreendi com aquilo, visto que foram muitos anos. A sala não estava só redecorada, como também o acesso à parte de cima de casa havia mudado de lugar, meu pai sempre gostou de reformas e eu presumi que fora ele o principal envolvido nisso. De repete me bateu a curiosidade de saber como estava meu quarto, se tinha mudado muito, se ainda parecia nem que fosse minimamente com o que eu lembrava... ou se ainda existia. Talvez não, mas isso também já não importava mais.

—Carlos, olha aqui quem está aqui.

Minha mãe alertou contente ao meu pai que deveria estar em algum lugar dali, fazendo com que eu de repete me tornasse receoso. Meu pai sempre fora muito mais duro e fechado, e, possivelmente a recepção calorosa que recebi da minha mãe, não viria da mesma forma da parte dele. Eu tinha quase certeza disso, mas não me importava, não mesmo, eu havia ido ali com um propósito, que era avisar que tinha voltado definitivamente e que minha filha queria os conhecer, e não me abalaria com qualquer coisa.

Por Nossos FilhosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz