PNF - Capítulo 26

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[Rodrigo Aguilar]

—Você fez o que??

Abaixa o volume da televisão e só me escuta pelo telefone.

—Dei um cheiro nele, digamos assim.

O que tem de mais? Eu não entendia o porquê da Raquel ficar tão transtornada depois que eu lhe contei o que aconteceu no dia anterior. Grande coisa. Por favor. E daí que eu ainda não troquei a roupa que estava porque tinha ficado com o cheiro dele? Idaí??

Esse povo faz tempestade com gotinhas de Neosoro.

—Rô, você pode parar de ser inconsequente pelo menos uma vez na vida?

Inconsequente eu? Que absurdo. Eu sou a pessoa mais consequente do mundo, aqui em Nárnia não conhecemos outra pessoa mais consequente que eu. As pessoas olham pra mim e pensam: é a consequência em pessoa.

Mas eu entendia seu modo cauteloso de tentar me dizer as coisas, por trás de toda aquele reboco de maquiagem aprendida em tutorias no YouTube, ela tentava colocar um pouco de razão na minha cabeça, já que previa o que iria acontecer daqui pra frente.

—Ok. Reconheço que eu posso ser inconsequente às vezes, mas Kell... eu... aaa, eu não diria que isso foi um ato inconsequente. Aconteceu sem querer, eu juro que estava distraído e não planejava tocar nele daquela forma, mas aconteceu... Foi algo totalmente de instinto, e lógico, eu não perdi a oportunidade de tirar minhas dúvidas.

A reação dele – muito hétero diga se de passagem – só comprovou que algo de errado naquele seu discurso 'sou hétero e nunca nem vi os beijos que troquei com você na adolescência' não estava certo.

—Lembra quando seu filho entrou na puberdade e você praticamente deu uma palestra a ele de como ele não poderia começar a tocar nas meninas sem a permissão delas? O que houve agora?

Ela voltou a falar, me encarando acusatoriamente e com certeza me julgando. Eu costumava dar aquele olhar quando via algo de errado ou quando alguém abria a boca pra falar besteira, mas ei, eu não estava tão errado assim por ter deixado os hormônios falarem. Estava?

—Eu só o encoxei, ele poderia ter se afastado no primeiro momento, no entanto ficou. Hétero de Taubaté. – Expliquei convicto de que não estava errado, eu não assediei ninguém, pelo amor de Deus.

—Você não pode querer tirar as pessoas do armário à força, Rodrigo. Especialmente quando nem sabe se elas estão mesmo no armário.

—Eu bati na porta desse armário e vi ele lá, tá entre a regata branca e a camisa pólo, logo acima dos sapatênis. Ou seja, no mínimo bissexual. – Revirei os olhos ao ter que explicar aquilo a ela.

—De onde você tirou essas associações? – Me perguntou confusa, apenas dei de ombros, pois não era uma coisa fácil de explicar. – Eu só não quero que você estrague, sabe... Estrague qualquer coisa que possa surgir com essa sua impulsividade, visto que ele não tem as mesmas idéias e desejos que você. E logo agora que ele voltou, sabe, podemos resgatar pelo menos a amizade que tínhamos.

—Amizade? Você acha mesmo que pode existir amizade depois disso? Depois da nossa história...

Lhe perguntei um tanto quanto exaltado, porque eu simplesmente não acreditava que aquilo que ela estava dizendo poderia acontecer. Talvez até pudesse dar certo se ele não tivesse voltado tão diferente e com ideais tão ultrapassados.

—Comigo ele foi super legal, só contigo que ele se mostrou reservado, talvez por toda a história de vocês, não sei, ou talvez porque você não sabe controlar o que fala e o que faz.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora