PNF - Capítulo 46

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[Miguel Sobral Aguilar]

—Isso é mesmo necessário?

Sim!

Recebi uma resposta imediata, curta e direta, sem muita enrolação ou explicação como todas outras desde que eu vinha questionando esse evento. Até o cachorro latiu e o gato miou, parecendo entrar em concordância com as ideias malucas, e eu só pude revirar os olhos e aceitar que todos ali naquela casa estavam contra mim.

—Tá, mas eu posso não ir? – Tente mais uma vez.

––Amor, eu não casei com o homem invisível... se isso é uma festa de casamento, logo, se espera que a as duas partes estejam presentes...ou seja, meu lindo maridinho, então nem ous... Ih, caramba, chamei de amor...

Se perdeu na própria fala, me dando margem pra interromper e rebater:

—Acontece, amor, que eu não compactuei com nenhuma ideia. Isso... isso só aconteceu na sua cabeça, aí de repente você deu um pulo e falou que íamos dar uma festa.

E foi exatamente assim que aconteceu mesmo, do nada naquele dia no restaurante ele virou pra mim, com uma euforia que se eu não conhecesse pensaria que estava usando drogas, e me informou que daríamos uma festa de casamento pra celebrar e de quebra contar pra todo mundo logo de uma vez.

Sem chances de decidir algo.

Bom, quer dizer, nas últimas duas semanas que se passaram eu fui colocado pra decidir junto a ele o melhor cardápio a ser servido, a decoração e a lista de convidados, mas exceto isso, nada mais.

—'Não compactuei.' – Imitou a minha voz. – Quem fala compactuei hoje em dia, gente? Tá na década de 30, bebê?

Passou por mim, apertando os lados da minha bochecha e me fazendo formar um bico propositalmente para depois vir me beijar. Despreocupado ao nível máximo e nem dando bola pras minhas reclamações, era sempre assim e eu já nem me surpreendia mais.

Mas eu precisava reconhecer também que estava sendo um pouco chato, de modo muito exagerado, a ideia era boa – talvez um pouco excessiva e repentina – mas era boa e seria divertido, além do que, que mal há em uma festa? As pessoas fazem isso o tempo todo e é uma coisa completamente normal e social, eu tentava me convencer, mas, havia um único ponto que me deixava mais relutante em toda essa história que não me deixava relaxar de forma alguma e curtir a ideia, e era exatamente o fato de que teria também a presença quase que certa das nossas famílias lá.

Tudo aquilo de certa forma estava sendo feito com um propósito, talvez não para eles, mas por causa deles. Meus pais ainda não sabiam e a família do Rodrigo ainda estava na mesma de semanas atrás, relutantes e impassíveis. E era isso que me fazia temer tanto. Quando nós os enviamos os convites, sem direito a especificar direito o que aconteceria, só que as duas famílias estavam envolvidas e cotávamos com a presença de todos, eu só torci para que desse tudo certo. Ou, no mínimo, não desse tudo errado.

—Eu acho que vou vestir isso... ou não. – Avaliava o guarda-roupa aberto, puxando um cabide por vez e balançando a cabeça em aprovação ou negação. Eu já tinha ideia do que queria e iria atrás das minhas roupas somente mais tarde, por isso não me preocupei e me deitei na cama pra ficar observando. Nos últimos dias, com a desculpa de ficar mais fácil, ele havia separado um espaço no seu guarda-roupa e eu, visando facilidade e uma pontinha de euforia, trouxe algumas peças. Devagar estávamos deixando de evitar o inevitável.

—Pra quem pensou em tudo, achei que soubesse o que ia vestir pra esse momento desde os 15 anos.

Revidei me acomodando nos travesseiros e passando a brincar distraidamente com a Nik que havia pulado na nossa cama.

Por Nossos FilhosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant