PNF - Capítulo 23

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[Rodrigo Aguilar]

Sem forças pra continuar, mas continuando assim mesmo porque não tem outra alternativa.

—Espera!

Notei que ele vinha seguindo meus passos, apressado tentando me acompanhar, enquanto eu ia em direção aos portões do parque ecológico pra sair dali. Mesmo como seu pedido, não parei e continuei andando mais rápido ainda. Já tinha ouvido e falado tudo que tinha pra falar, iria encontrar meu carro e dar o fora.

—Eu nem te conheço moço, para de me seguir senão eu vou chamar a polícia. – Falei por cima dos ombros, ouvindo um suspiro irritado dele depois disso.

—Você encheu a boca pra apontar meus defeitos, mas tá se mostrando a porra de um crianção com isso.

Fui obrigado a parar, me virando pra ele rapidamente e o encarando. Crianção? Epa, alto lá.

Continuei olhando interrupto pra ele, tentando transmitir toda a raiva que eu sentia por ter ouvido o que ouvi e esperando que sua cabeça explodisse depois do meu olhar fuzilante. Queria não sentir nenhum pouquinho atraído pela nova versão dele que estava bem ali na minha frente, era bem diferente daquele de adolescente, mas eu vinha falhando miserável, assim como falhava antes. E se eu vasculhei o perfil no Facebook da filha dele pra ver mais fotos, isso não é da conta de ninguém.

—Acha que tá me ofendendo me chamando de crianção? Tente novamente mais tarde.

—Rodrigo...

—Não, Miguel, tudo bem. Eu vim aqui pra conversar com você e já tive minhas duvidas esclarecidas. Os beijos que a gente trocou na adolescência não significaram nada pra você, agora você é hétero e pai de família e esqueceu tudo que ficou no passado. Legal. – Joguei tudo na cara dele, o vendo franzir as sobrancelhas em sinal de confusão, que por sinal, era a coisa mais... eu não ia dizer sexy. Não ia mesmo.

—Você entende que é imaturidade você ficar assim só porque não ouviu o que queria, né?

Ele usou um tom de voz parecido com o que eu usava com o Yuri quando tentava explicar o porquê de ter que guardar todos os brinquedos depois de brincar. Revirei os olhos pra ele, avaliando a possibilidade de voltar a caminhar e deixá-lo ali.

—Eu tenho o direito de ficar como quiser. Agora da licença, como você disse, eu 'virei' gay, e você estando muito próximo pode virar também. – Usei todo o meu sarcasmo, debochando do que ele tinha me falado. Talvez eu devesse dar uma aula de sexualidade a ele, mas eu não estava a fim. – E, alias, eu não sou gay, eu sou panssexual, tá.

Finalizei, me virando e continuando com meus passos, mas ele voltou a me interromper. Dando os passos que faltavam e pegando no meu braço, me obrigando a me virar.

—Espera, é sério.

Falou mais baixo devido a nossa proximidade. Sabe aquele arrepio que desce sua espinha dorsal, te fazendo tremer inteiro e depois se arrepiar até os pelinhos da sobrancelha? Então, eu nem tive.

—O que você quer? – Perguntei me soltando.

—Os nossos filhos... A Clara é uma Sobral, o Yuri um Aguilar e eles estão tão felizes juntos. Eu não quero que eles passem pelo que nó... ah... é... eu não quero que qualquer vestígio que ainda possa existir dessa briga entre nossas famílias interfira no romance deles.

Eu ainda não tinha pensado nisso, talvez por ter ficado mais focado na sua volta e no desgraçamento que seria tê-lo como pai da menina que meu filho gostava – alias, tem nome pra isso? – que não pensei em mais nada. A briga entre nossas famílias já não era mais tão lembrada com o passar dos anos, talvez porque as famílias finalmente conseguiram se destruir aos poucos, causando a falência das empresas, perdendo o grande poder que tinham e consequentemente o motivo daquela rivalidade toda. O Miguel não estava aqui pra ver, mas foi uma época bastante tortuosa de se presenciar e esperava não ter que passar mais por isso, especialmente porque eu também acabei sofrendo alguns ataques logo depois que ele viajou. Como por exemplo, ter que trocar de escola, aguentar a fúria dos meus pais e ir morar com minha tia porque, misteriosamente, surgiram boatos de que eu era um viadinho e estava doente por 'fazer programa' com homens mais velhos.

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now