PNF - Capítulo 48

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[Miguel Sobral Aguilar]

—Tá gravida?

Certo, eu tentava me convencer de que se fosse aquela notícia que eles queriam nos dar, não era tão ruim quanto parecia – e olha que parecia bastante – e eu não daria um escândalo quanto a isso, seria mesmo só o choque inicial. Ok. Calma.

—Decidiram que vão colocar a gente num asilo e nos abandonar lá?

A voz do Rodrigo atravessou meus pensamentos que já pareciam ruins o suficiente, sugerindo algo muito pior e perturbador, embora em alguma parte da minha cabeça em confusão, eu soubesse que aquilo não fazia muito sentido.

—Não pai, e não Rodrigo... nós não faríamos isso.

—A gravidez ou o asilo?

—Os dois, eu acho.

Ah você acha? Você acha... realmente acha?

—E-eu... eu.. s-si.. – Clara gaguejou, incapaz de formular algo concreto com o Rodrigo encurralando ela.

—É bom ver ele fazendo isso com outras pessoas além de mim. Qualquer palavrinha fora de lugar da nisso aí, eu aprendi depois de muito tempo. Tomara que vocês também possam aprender!

O Yuri riu, dando as costas pra nós e indo até a cafeteira para encher sua xicara. Estávamos na cozinha desde encontramos os dois ali preparando algo para o café e fomos chamados para conversar seriamente, mas até agora, ninguém havia falando nada com nada.

—Esperem. – Interrompi a pequena divagação de todos. – A gente tá perdendo o foco. Vocês disseram que tinham algo pra falar...?

—Oh sim. Dissemos.

—E então?

Será que todo mundo ali estava fazendo suspense só pra me deixar ansioso, preocupado e criando mil teorias na cabeça? Sinceramente eu já estava achando que era algo grave, dado que os nossos filhos se entreolharam e permaneceram um minuto em silêncio, enquanto o Yuri largava seu café e voltava a posição anterior.

—Ih gente, é tão ruim assim?

—Pai, lembra que antes da Clara vir pra cá eu estava planejando viajar e fazer um intercâmbio? – Ele tentou relembrar o pai.

—Lembro, mas..

—Eu voltei a pensar nisso... – Completou e até então eu não sabia onde me encaixava nessa história. – É algo que eu realmente quero fazer, só deixei um pouco de lado quando ela veio morar aqui porque sabia que não ia conseguir ir naquele momento. Mas agora... agora eu quero tentar.

—Oh, hum, okay. É... acho que tudo bem, podemos ver isso.

Pela hesitação e a sua falta de fala, era evidente que o Rodrigo tinha ficado surpreso demais com aquela informação, era algo que provavelmente eles já tinham conversado, mas deu pra ver que ele não esperava.

Isso me fez voltar ao assunto principal:

—E onde você entra nisso? – Questionei a Clara, querendo mais que tudo desvendar todo o assunto já que as informações estavam sendo postas na mesa. Ela me olhou surpresa, talvez por eu ter chegado tão rápido aquele desfecho e sorriu desacreditada. – Clara...

—Pai... Eu quero ir com ele.

—Pra treinar o inglês, imagino. – Deixei que o sarcasmo me atingisse, dando uma de Rodrigo, que inclusive estava quieto desde então, e tratei de entendê-los melhor. – Vocês estão pensando nisso há muito tempo? Já viram tudo certinho?

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now