PNF - Capítulo 16

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[Miguel Sobral – Flórida/São Paulo]

—Você acha que a gente se precipitou? Que eu me precipitei? – Questionei inseguro.

—Não.

—Mas foi assim tão do nada...

—Pai... – Clara se adiantou pacientemente. – Não foi do nada, você foi pra lá e voltou com essa decisão. Foi uma decisão com o coração, não foi? Essas são as melhores, simboliza que algo de muito bom está pra acontecer.

O fato era que depois que a ficha tinha realmente caído, eu entrei em um estado de confusão e indecisão que colocava em duvida tudo que já tinha decidido até então. As semanas que haviam se passado depois da minha volta e minha inesperada decisão, foram uma loucura total, corremos com tudo, precisamos dar fim em algumas coisas e resolvermos outras. A Clara, logicamente, havia amado a ideia de nos mudarmos e desde então só vinha falando sobre isso. A nossa casa, por enquanto, ficaria fechada e nós receberíamos ajuda da Elizabeth ­– que ainda estava no Brasil por causa das galerias – pra acharmos uma casa legal que alugaríamos.

—Nem sei porque eu te pergunto, você tá adorando tudo isso. – Lhe disse revirando os olhos, ela nunca me desencorajaria, não quando o assunto era esse.

—Lógico, eu sou brasileira!

Clara me respondeu fechando uma das caixas no seu quarto e me entregando contente.

—Na verdade não é não.

—Sou sim e fim de caso.

—Você tá adorando o fato de que finalmente vai morar na mesma cidade que seu namoradinho, né? Já que ele tá demorando pra vir, você vai até ele.

Peguei uma das caixas que ela já tinha empanturrado de coisas e empilhei junto com as outras, a empresa de mudanças internacionais cuidaria disso junto com todas as outras coisas.

—Ele não é meu namorado, pai. – Ela suspirou. – Nos conhecemos na internet em um grupo de brasileiros que moram aqui e brasileiros que querem morar. Acho que agora ele é meio que meu amigo.

Filhos acham que enganam pai, quando na verdade, nós sabemos até mais que eles, vemos tudo o que existe nas entrelinhas bem antes de acontecer. Se não estava acontecendo nada entre eles ainda, era só questão de estarem finalmente no mesmo país e na mesma cidade para rolar, eu via como ela ficava quando estava falando com ele ou quando falava dele pra mim.

—Veremos.

...

"—Tô ansioso pra você chegar. Vou te levar pra conhecer vários lugares. Você precisa conhecer minha casa também, já que só conhece meu quarto".

Inclinei a cabeça levemente, de modo que eu me apoiasse no ombro da Clara e metade do meu rosto aparecesse na tela do notebook. Do outro lado, a expressão que antes estava sorridente e animada, foi se fechando ao poucos e se tornando tímida.

—Oi. – Acenei.

"—Porque você não falou que seu pai estava ouvindo? É... é que... meu computador fica no quarto, por isso ela só conhece ele."

A ultima frase foi dita a mim de forma quase envergonhada e explicativa, como se esperasse que eu entendesse e não criasse caso com aquilo.

Apenas fechei o semblante, levando dois dedos até os olhos e depois os apontando em direção a tela do computador, tentando não sorrir com a expressão de assustado que recebi.

—Relaxa, Yu. Meu pai só tá querendo te assustar. – Clara tranquilizou

—É, relaxa, Yu.

Imitei seu tom de voz, fazendo com que Clara revirasse os olhos. Fazia mais ou menos meia hora que eu estava ouvindo aquela conversa, que parecia não acabar nunca, e sempre um assunto atrás do outro, então eu decidi interromper um pouquinho já que não tinha mais nada pra fazer.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora