PNF - Capítulo 33

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[Miguel]

"A verdade é que não conseguimos fugir do verdadeiro amor, pai, do nosso verdadeiro amor, sabe. Podemos até tentar, ter mil coisas pra atrapalhar, ter até a distância para separar, mas no final alguma coisa sempre acaba juntando aqueles que foram feitos para ficarem juntos...".

Eu não sabia exatamente o porquê, mas partes dessa conversa que tive com a Clara há dias, resolveram que seria uma boa hora de ir e vir na minha cabeça, se embaralhando de todas as formas possíveis e me deixando verdadeiramente pensativo. O problema é que eu não fazia ideia por onde começar. Um turbilhão de emoções e sensação me tomavam, minha cabeça girava com a confusão de sentimentos que eu sentia e eu já estava começando a ficar irritado por não conseguir controlar tudo aquilo dentro de mim.

A noite de ontem foi... Foi! Simplesmente foi! Eu não conseguia achar palavras pra poder descrever corretamente e, por mais que gastasse meu tempo, e eu realmente estava gastando, não conseguia chegar a uma conclusão. Tinha chegado ao ponto que tudo estava ficando cansativo demais, cada vez que eu tornava a pensar naquilo, e eu quis apenas enterrar tudo para debaixo do tapete e nunca mais desenterrar, mas, infelizmente, haviam coisas que deveriam ser encaradas.

Como por exemplo, eu... eu ter tomado a iniciativa e acabado por beijar o Rodrigo na noite passada em que saímos pra conversar e beber alguma coisa, sim, eu tinha feito e era isso que não parava de me atormentar. Minhas ideias giravam violentamente cada vez que eu pensava nesse acontecimento e alguma coisa emanava sensações estranhas e novas para meu estomago cada vez que eu me lembrava dos meus lábios tocando nos dele. Eu havia beijado o Rodrigo, bom, isto é, eu havia o beijado novamente depois de tanto tempo, depois de tantos anos e depois de ter acreditado que aquilo nunca mais iria acontecer. Porem aconteceu. Aconteceu e eu não poderia estar me manter preso a esse misto de sentimentos dentro de mim como agora. Tudo, exatamente tudo, o que eu poderia estar sentindo nesse momento se fazia presente, me fazendo ter dúvida de qual sentimento priorizar. Eu havia o beijado e, pra ser sincero, eu nem poderia falar que fora totalmente por impulso ou sem vontade – o que me deixava ainda mais assombrado – eu estava bem consciente de cada movimento meu. Também não seria certo colocar a culpa na bebida que, apesar de eu ter bebido, ainda me encontrava sóbrio, já que nos envolvemos tanto na conversa que sequer tivemos tempo para nos embebedarmos.

Eu quis aquilo. Eu sabia o que estava fazendo, não poderia negar nem pra mim mesmo.

E talvez fosse isso que me deixava mais assustado. Talvez assustado nem fosse a palavra certa a usar, mas sim com medo, sim... medo do que aconteceu, medo do que tinha acontecido comigo e medo do que iria acontecer a partir de agora.

Eu gostei – esse era o ponto – eu estava consciente – esse era o agravante – e eu sabia que, se eu fosse contar com a ajuda do Rodrigo, as coisas não parariam por aí – por fim, essas eram as consequências. Consequências de quem tinha que admitir que estava totalmente perdido e provavelmente não conseguiria mais manter a fachada. Talvez por isso o medo, minhas defesas, aquelas que eu tentava a todo custo mantê-las vivas desde que voltei e o reencontrei, todas tinham caído por terra quando nos beijamos.

Rodrigo.

Sorri inconformado ao passar pela minha cabeça um breve pensamento de que metade dos meus problemas, confusões internas e também externas, desde os meus quinze anos, tinha esse nome. E sorri ao perceber que realmente que não era exagero.

Neguei com a cabeça, ainda sorrindo e me acomodando um pouco mais no sofá para cobrir meu rosto com uma almofada, querendo desaparecer nem que fosse por uns dias, mas acabei soltando uns murmúrios incompreensíveis em derrota ao ver que isso não era possível.

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now