PNF - Capítulo 22

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[Miguel Sobral]

Desconhecido: Precisamos conversar. Não adianta tentar fugir!

Fazia mais ou menos meia hora que eu encarava aquela mensagem na tela do celular sem saber o que pensar, o que fazer e como agir. Droga! Eu realmente não estava preparado pra isso, não agora, e eu até imaginei que algo do tipo aconteceria – ele já tinha dado provas suficientes que era esse tipo de pessoa insistente – mas não esperava que fosse acontecer somente dois dias depois de nos reencontrarmos.

Reencontrar o Rodrigo e descobrir que ele é pai do Yuri, namorado na minha filha, foi uma das piores experiências da minha vida até então. Primeiramente eu senti o baque do choque, eu olhava para aqueles dois na sala e nada conseguia me fazer acreditar que era real. Nossos filhos já que conheciam há uns bons seis meses, como deixamos que isso acontecesse, como não ficamos sabendo antes? Por Deus!

Depois veio o medo, cada parte do meu corpo sentiu o impacto que isso poderia causar e as consequências que viriam agora que sabíamos que estávamos presos a isso, e que agora eram nossos filhos que se gostavam. E por último, o desejo de que a história que tivemos antes não viesse à tona e que não pudesse de alguma forma estragar o novo relacionamento que se formava. Por isso fingi que não o conhecia.

Mas agora eu me via meio que sem saída, olhando para aquela mensagem e sabendo que não poderia fugir por muito tempo, até porque ele disse que não adiantaria. Como é que ele havia descoberto meu numero assim do nada e tão rapidamente sem que desconfiassem? Mas aí eu me lembrei de que ele era o Rodrigo e toda e qualquer pergunta feita, não precisava necessariamente de uma resposta. Ele simplesmente conseguiria, ainda mais se fosse pra ter o que ele queria.

"Me mande o endereço de onde você achar melhor. Eu irei."

Decidi por fim responder e acabar logo de uma vez com aquilo, eu não iria conseguir fingir que isso não estava acontecendo mesmo e tinha certeza de que ele também não me deixaria em paz. Era impressionante como eu ainda podia prever algumas de suas atitudes.

Permaneci encarando a tela por um tempo, andando de um lado pro outro, tentando não me arrepender da minha confirmação e chegando até a torcer para que acontecesse algum imprevisto e ele não pudesse ir. Mas eu não teria tanta sorte, claro que não. A Clara chegou lá pela hora do almoço depois das suas aulas e me pegou daquele jeito.

—Oi pai.

Ela cumprimentou assim que me viu, indo se sentar no sofá e largando sua bolsa na mesinha de centro. Deixei de caminhar sem rumo pela casa e me sentei junto a ela, a vendo mexer entretida no celular.

—Hi sweet. Tá com fome?

Negou minha pergunta com cabeça e depois parou pra me encarar, largando o celular de lado e me lançando um olhar que eu jurava que poderia ver a minha alma. E talvez, pelo nosso nível de ligação pai e filha, pudesse mesmo, já que ela foi certeira quando acabou de me avaliar.

—Você tá triste.

—Eu não estou triste.

Apesar de não ser uma pergunta, eu acabei negando rapidamente e desviando o olhar pra qualquer outro lado.

—Mas está esquisito. E isso desde o jantar na casa do Yuri.

Ah! Obvio que eu deixei transparecer algo durante esses dois dias, mas também, eu só conseguia pensar no desastre que fora e em como o destino havia brincado com as nossas caras ao aprontar aquilo.

—Eu tô bem, tá!? Eu s... só...

—Você não gostou do pai do Yuri, né? Nós queríamos tanto que vocês se dessem bem.

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now