PNF - Capítulo 12

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[Rodrigo Aguilar - São Paulo, 1998]

—O que?? Estados Unidos?

Perguntei piscando rapidamente, tentando fazer com que as palavras fizessem algum sentido. Não faziam.

A espera por alguma resposta ou informação estava me deixando frustrado, mas agora eu as tinha e não me contentei nenhum pouco com elas. Eu não sabia se era pior não ter tido nenhuma noticia nos dias que seguiram sem ele ir a aula, ou, aquela bomba agora.

—A senhora que trabalha lá que falou, Rô. Eu vim aqui correndo te contar... – Raquel parecia tão abalada quanto eu.

—Mas... Mas...

Ninguém vai embora assim do nada e por nada, vai? Assim, tão rapidamente que era até difícil de acreditar, tipo, foram só alguns dias do ocorrido na casa dele. Não podia ser sério. Talvez eles só tivessem falado aquilo pra despistar e fazer com que todos próximos dele acreditassem nisso e se afastassem. O que já era uma grande merda, mas ainda sim, não tão ruim quanto mandá-lo pra outro país.

Mas por outro lado... eles seriam mesmo capazes daquilo só pra mantê-lo afastado de mim e da família a qual eu pertencia.

—Quando?

Questionei cauteloso, ainda com medo de acreditar que aquilo era mesmo real, mas mesmo assim, me esforçando pra manter a linha de raciocínio. Talvez fosse acontecer no final do ano, ou no fim do semestre, isso daria tempo para que as coisas esfriassem e eles desistissem da ideia.

—Amanhã à tarde.

—O que? – Pela segunda vez me choquei com o que tinham me dito. – Raquel... não. Não pode ser.

Sussurrei mais pra mim mesmo do que alto e em bom som. Amanhã? Menos de 24 horas. Então era isso, era verdade e era tudo que tinha restado.

Senti os braços da Raquel me abraçarem com força e a ouvi soltar um suspiro alto, eu a entendia muito bem, se pra mim, que o conhecia de verdade há poucos meses, já estava sendo bastante ruim, imagina pra ela que o conhecia desde criança. Retribuí o abraço confortavelmente e pensando que provavelmente era a única coisa que eu podia fazer. Eu ainda não sabia lidar com aquele tipo de coisa.

—A senhora ainda disse que consegue tirar ele de casa por um tempinho hoje a noite pra gente se encontrar e se despedir. – Ela fungou.

—Então é isso que nós vamos fazer.

Respondi triste, porém, tentando parecer confiante. Se isso era a única coisa que nos restava afinal, iríamos fazer direito, fazer de modo que nos despedíssemos como deve ser. E eu ainda precisava entregar a ele uma coisa que consegui comprar durante a semana em que ele esteve fora e não deu, um presente pra ele se lembrar de mim e de nós.

...

Sair de casa nunca foi tão difícil assim, eu aprendi isso na primeira festa em que eu não recebi permissão pra ir quando tinha 14 anos. Certo que naquela vez meus pais descobriram por ter sido uma festa no condomínio e os vizinhos nos deduraram pela bagunça que fizemos, mas o importante era que eu havia descoberto como sair sem que ninguém soubesse.

Não foi muito diferente dessa vez, ainda mais porque o pai da Raquel ia nos levar até lá, então só foi mesmo esperar que meus pais se distraíssem e, quando o sol de pôs, sair de casa.

O clima não era muito bom no caminho todo. Raquel tinha decidido ir atrás comigo e sentava do meu lado segurando minha mão. Por mais que eu não quisesse transformar aquilo em um velório, eu não conseguia deixar de pensar que estava indo pra me despedir de alguém que ia pra longe. O Miguel. O meu namorado.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora