PNF - Capítulo 14

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[Miguel Sobral - São Paulo/Flórida]


Ajusto o foco mais uma vez, ficando cego por alguns segundos até que a lente se ajuste do jeito que eu quero e de modo que valorize bem a peça. Experimento dar um zoom, mas vejo que não ficou bem enquadrado depois disso e que a luz que batia na peça ficou um tanto quanto ofuscada, por isso, desfaço a operação para o que estava antes. Dou o primeiro clique, separando a câmera do meu rosto pra ver a miniatura da foto pela tela e sorrio em seguida pelo resultado. Era exatamente isso que eu queria. Repito a operação, dando mais um clique e garantindo mais uma foto da mesma maneira, para que depois eu possa experimentar os filtros, e finalizo com a última sessão que faltava.

—É isso! – Exclamo feliz, mais um trabalho finalizado com sucesso. – Senhora Simmons, elas ficarão prontas em quatro dias no máximo, como combinamos. Assim que ficarem prontas, te mando as fotos reveladas como falei e mais um pendrive, cd, ou o que a senhora preferir, com elas digitalizadas e computadorizadas também.

Digo para a senhora que mal me olha, pois está admirando as peças em verdadeira adoração como se fossem seus filhos.

—Oh, Miguel, confio no seu trabalho. Mande as fotos pra galeria de Orlando, sim. – Ela me dizia num português bastante carregado que aprendera com seu segundo marido. – Que tal um jantar hoje pra comemorar essa sessão maravilhosa? Emma está ansiosa pra te conhecer.

—Infelizmente vai ter que ficar pra próxima. – Neguei, mesmo estando muito ansioso pra conhecer Emma também. – Meu vôo pra Miami sai hoje à tarde.

—Você me disse que ser brasileiro. – Perguntou e eu assenti. – Mas não quis adiar sua volta pra curtir mais um pouquinho da sua terra?

—Na verdade ontem à noite eu dei uma caminhada pela cidade, mas as passagens foram compradas e programadas pra eu não ficar muito tempo aqui. Preciso voltar, a minha princesa tá em casa me esperando.

—Entendo. Só por isso vou aceitar sua recusa. Você deve estar morrendo de saudades, eu sei como vocês não se desgrudam por muito tempo. – Ela se aproxima, batendo palmas contente demais e enlaça seus braços nos meus.

—Ela é minha paixão, nunca fiquei tanto tempo longe dela desde a faculdade. Aliás, eu tenho que ir... Estou pensando em passar em alguns lugares e comprar algumas coisas que só tem aqui pra ela experimentar.

—Oh, vai sim, Miguel. Foi um prazer ter as minhas mais novas peças fotografadas por você.

Recolhi todo o meu material, me despedi da senhora Simmons e saí da galeria a qual fui chamado pra fotografar. Dei de cara com o sol da manhã e a brisa, embora poluída, da cidade, consegui sentir um misto de conforto e paz que eu nunca pensei que sentiria voltando pra cá. A cidade ainda tinha um quê de casa, isso era bom.

Voltar ao Brasil a trabalho foi um grande desafio pra mim, não profissionalmente, digo mais psicologicamente mesmo. Era a primeira vez que voltava desde que fui mandando embora a força dali, era à primeira vez que eu tive coragem pra isso e a visita até que surpreendeu as minhas expectativas. Mas era hora de voltar.

Caminhei por alguns minutos, tentando me familiarizar com o meio e lembrar onde havia um ponto de táxi que me levasse de volta ao hotel. Eu podia estar me sentindo em casa novamente, mas muita coisa tinha mudado desde então e era inevitável me sentir perdido.

Sigo o fluxo de um grupo de pessoas que caminham na minha frente, tentando sair daquela rua mais parada onde se encontrava o galpão da galeria, para encontrar uma avenida ou algo que seja. Eu deveria mesmo ter baixado um mapa. Acabei indo parar em uma rua na transversal, mais afastada do resto, com diversas barracas e pessoas transitando em volta delas.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora