Capítulo 9

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  Acordo com o susto de um balde de água sendo jogado contra meu rosto, tuço várias vezes fazendo a corda apertar mais em meus pulsos, escuto vários risos, estremeço de frio e raiva, olho pra cima vendo vários homens me olhando, alguns rindo outros sérios até mesmo aparentando raiva e desprezo por meio verem, talvez esperassem que estivesse morta. Sinto as cordas serem soltas e me arrasto para longe, vejo o mesmo homem que me soltou na outra noite.
- O capitão solicita sua presença senhorita.
  Ele fala já me puxando do chão pelo braço e quase me arrastando até a porta dos aposentos do capitão, ele para um pouco antes da porta.
- É melhor ficar em silêncio sobre sua última visita ao navio... Para seu bem senhorita.
  Ele fala baixo e então abre a porta me empurrando para dentro.
- Eu sei caminhar pirata.
  Falo com raiva, cansada desse tratamento rude. Escuto um leve riso antes da porta se fechar.
- Língua afiada a da ratinha.
  Continuo perto da porta até enxergar o capitão vindo em minha direção, continuo em silêncio mas olho em seus olhos fixamente sem demonstrar medo.
- Pelos mares está péssima.
  Ele diz debochando mas então se aproxima mais e fica sério me avaliando, dou um passo para trás sinto a parede encostar em minhas costas.
- Tocaram em você? Te machucaram?
  Ele fala sério me olhando nos olhos, não posso evitar e me retraio nervosa, faço que não com a cabeça várias vezes.
- Bom... Tem roupas em sima da cama devem lhe servir... Vista!
  Vejo ele se afastar mas ficar me olhando do outro lado da sala, tusso duas vezes e sem tirar os olhos dele caminho até a cama onde uma calça justa preta, uma camisa branca, um cinto e um par de botas, passo os dedos sobre o tecido macio e seco, começo a tirar o vestido, então lembro dele me olhando e o encaro friamente, ele ri da minha tentativa de intimidação e se vira ficando de costas.
  Troco de roupa mais rápido que posso sentindo meu corpo ficar imediatamente mais aquecido, prendo o cinto e vejo as marcas nos meus pulsos, roxas e doloridas e os ematomas amarelados na barriga,  tento entender o por quê dele me tratar de duas formas diferentes, sendo arrogante e agressivo e depois oferecendo roupas secas e quentes, e perguntando se tinham me machucado. Suspiro e o encaro, ele só precisa de mim viva pra ajudá-lo com o mapa, depois que terminar será meu fim, volto a olhar para o pirata que já me analisava com um sorriso sarcástico no rosto, me pergunto a quanto tempo ele já me olhava, suspiro pensando rápido em alguma coisa que pudesse garantir minha segurança nem que fosse temporariamente.
- Tenho um acordo a lhe propor... A lhe impor na verdade...
O sorriso dele se alarga sarcasticamente, ele revista as costas na parede me observando e esperando que eu continue, eu respiro o mais fundo que posso juntando coragem e pensando mais uma vez antes de falar.
- Se quer seu mapa... A localização de seja lá o que esteja procurando, vai garantir que não serei tocada, não serei machucada, devolverá meu dinheiro, não me prenderá a noite é quando eu terminar vai me libertar em um lugar de minha preferência...
  Falo tudo rápido, o sorriso em seu rosto desaparece, ele dá um passo para frente com a mão sobre o cabo da espada mas não recuo, fico olhando em seus olhos, mas meu coração acelera e meu corpo quer recuar.
- E por que não deveria te matar agora mesmo e dar sua carne para os peixes, mulher?
Ele fala dando mais um passo pra frente vindo em minha direção.
- Então f..ficará sem o seu mapa.
Me esforço para não aparentar medo mas minha voz me trai, escuto ele me xingar, ele segura meu rosto próximo ao seu, sinto vontade de vomitar com o cheiro de bebida e suor que vem de seu corpo.
- Comece a trabalhar então ratinha.
Ele fala apontando para a mesa onde antes tinha roubado os papéis, faço que sim com a cabeça estremecendo de medo, ele solta meu rosto, me pergunto o por quê de ter pego aqueles malditos papéis e onde estaria se não os tivesse pego.
Perdida em meus pensamentos caminho até a mesinha e me sento a frente dela, escuto a porta se fechar e pego um caderno com capa de couro e uma pena negra, abro o caderno e o foleio, está em branco então molho a pena e começo a escrever e rabiscar os desenhos da melhor forma que consigo, tusso mais algumas vezes, forço minha mente a lembrar de cada detalhe mas faltam algumas partes sei disso, minha cabeça doi e minha visão fica um pouco embaçada, continuo escrevendo folha após folha me perdendo no tempo, o balanço do barco que tanto sonhei em sentir agora me causa náuseas, estremeço de frio antes de virar mais uma página e esboçar o desenho de um sol nascendo no mar e acima dele algumas pequenas estrelas, passo a mão na testa molhada de suor e volto a escrever, a pena cai da minha mão, estico o braço para alcançar a pena no chão,  outra onda de dor atinge minha cabeça e acabo caindo no chão, pego a pena entre os dedos e cogito a ideia de chamar por ajuda, meus olhos pesam, começo a me levantar e ir em direção a porta, sinto meu corpo ceder e  então simplesmente tudo vira um breu.

Sete MaresWhere stories live. Discover now