Capítulo 30

2.4K 282 27
                                    

Jogo um pouco mais de água no convés, é uma de minhas muitas tarefas diárias, retiro uma mecha de cima de meu olho e volto a esfregar o chão, minhas mãos já estão calejadas após tantos anos de trabalho árduo.

Meus olhos estão pesados, o vento sopra forte e salgado, o dia está cinza o céu coberto de nuvens, mergulho a escova no balde mais uma vez, sem querer derrubo o balde despejando toda a água.

- Preste atenção no que está fazendo garota!

Escuto a voz raivosa de minha constante sombra, o imediato.

- Me desculpe...

Sinto seu pé em minhas costas meu corpo cai, tento me reerguer mas ele coloca mais peso em minhas costas me mantendo no chão.

- Fique no seu lugar... Limpe essa bagunça.

Sinto algumas lágrimas molharem meus lábios, ele sai e eu levanto rápido.

- Você não é meu capitão!

Digo mais alto do que gostaria, jogo minha escova nele mas erro, ele atinge abaixo de minhas costelas com seu punho, sinto minhas costas baterem contra o chão molhado, ele sobe em cima de mim, com as mãos em volta de meu pescoço ele bate minha cabeça no chão, sinto minha visão embaçar.

- Você não devia estar nesse navio, o capitão está errado!

Faço como o capitão me ensinou, rápido coloco meus pés em seu peito e o chuto para longe de mim, levanto um pouco tonta e corro, corro para o timão, escuto os passos dele atrás de mim, os homens não interferem, vejo o capitão de costas, perto de Felippe que segura uma espécie de mapa, ele se vira e me olha curioso por alguns segundos, corro para ele na tentativa que ele me proteja mesmo que minha cabeça diga que é pouco provável, ele nem se move quando me escondo atrás dele, o imediato para a frente do capitão, seus olhos queimam em ouro ódio.

- Capitão!

O capitão olha rápido para mim como que me perguntando o que estava acontecendo, apenas me encolho atrás dele.

- Qual a situação Carter?

Ele aponta furioso para mim.

- Ela está causando tumulto, desafiando os outros e chegou a tentar me atacar!

O capitão me puxa para sua frente pela gola, percebo que minha roupa está um pouco transparente.

- O que sugere que seja feito?

Tento escapar, ele vai me matar, é isso que ele quer desde o começo.

- O código diz que mulheres não poder estar a bordo, a pena infelizmente é morte!

O capitão ri, ele está mesmo dando risada? Me debato tentando me soltar mas ele segura meu cabelo.

- Amarre ela no mastro e a deixe sem comida por dois dias!

Ele me joga na direção do imediato, caio perto de seus pés.

- Mas capitão...

- ISSO MESMO SENHOR CARTER EU SOU O CAPITÃO, NUNCA SE ESQUEÇA DISSO...

O imediato me puxa com raiva, me debato em seus braços, não, de novo não.

- Sim senhor capitão!

Sou arrastada para longe, meus gritos são ignorados então paro, ele parece decepcionado por eu ter parado, ele puxa forte meus braços para trás e os prende ao mastro, ele segura meu rosto, ver seu rosto me dá vontade de vomitar, sua expressão é de raiva misturada a presunção, cuspo em seu rosto e recebo uma bofetada na cara, ele sai me deixando presa lá.

As horas parecem andar para trás, o ar parece mais pesado que o normal, aos poucos a luz da espaço a escuridão, eu sou invisível para todos, meus braços e pernas doem, o vento parece cortar meu rosto, meu corpo todo treme com o frio, aos poucos todos os homens vão se retirando até que apenas eu fico no convés, eu e o vigilante provavelmente.

Fecho os olhos tentando pensar em coisas quentes, sinto as correntes se afrouxarem e caírem de meus pulsos, sorrio, o capitão veio me soltar, abro os olhos e me deparo com o imediato, no momento que vou gritar minha boca é coberta com um pano, sinto ser amarrado atrás de minha cabeça, viro o rosto vendo mais dois homens, me desespero, tento pegar minha espada mas eles seguram meus braços, o imediato fica a minha frente.

- Espero que doa!

Ao falar isso ele começa, um soco atrás do outro, tento contar para não me entregar a dor, tento gritar mas é inútil, tento lutar mas são muitos, minha visão começa a embaçar, não sei se por causa das lágrimas... Tudo fica escuro...

- Joguem ela no mar!

É última coisa que escuto...

Sete MaresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora