Capítulo 25

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(Rachel)

  Me distraio de minha dor, meu corpo aos poucos silencia suas súplicas, presto atenção a cada palavra que ele conta, ele para a história várias vezes em dúvida se deve ou não continuar, ele me olha nos olhos sempre que toca em algum ferimento, seu jeito é firme mas cuidadoso.

  - E então... O que o homem fez?

  Pergunto baixinho, e desvio os olhos dos dele.

  - Bem... Ele roubou um barco e foi atrás deles... E até hoje ele procura vingar sua esposa e filha.

  Me encolho de leve, ele é o homem da história? Aquele a quem tiraram tudo? Ele quer vingança?

  Abro a boca para perguntar quando escuto um grito vindo de fora.

  - Navio a vista!

  Escuto o capitão xingar várias vezes e se levantar.

  - Fique aqui! É uma ordem Rachel!

Me encolho novamente, não quero que me machuquem, derrepente volto a sentir meu corpo implorando, fecho os olhos tentando não ouvir em minha mente meus próprios gritos, as risadas, seus olhos.

Escuto a porta ser fechada e abro os olhos de leve, estou sozinha, sinto o balançar do barco, e os gritos do capitão, suas ordens a todos homens, a correria e barulho dos metais e canhões sendo posicionados, tapo meus ouvidos com as mãos, cantarolo uma música antiga que cantava quando era pequena, volto a fechar os olhos quando minutos depois escuto o primeiro tiro, imagino o mar, forte batendo contra as rochas, outro tiro, gritos, vai ficar tudo bem, tento não pensar, lembro da vila, da praça, maçãs e peixes, posso até sentir os aromas, o barco chacoalha violentamente, bato o ombro na parede e se possível me encolho mais, aperto mais as mãos sobre os ouvidos, inútil, posso escutar os gritos, algo bate na porta, dou um pulo de susto, procuro por minha adaga, não a encontro, de novo, a porta se abre violentamente, grito e fecho os olhos forte, escuto o som de uma espada contra sua bainha.

  Sou puxada pelo braco, um grito de pura dor escapa pela minha garganta.

  - Quieta prostituta.

Lágrimas escorrem pelos meus olhos os abro vendo o uniforme do homem, um uniforme, ele me arrasta para fora e me joga no chão de joelhos, olho em volta, vejo sangue espalhado então vejo vários homens acorrentados, Jaime está entre eles, tento correr até ele mas o homem me segura, corro os olhos pelos outros homens, paro meus olhos nos olhos do capitão, ele se debate quando me vê e leva um soco no rosto, sinto minhas mãos serem presas para trás, então o homem me levanta e começa a me levar em direção ao homem que mais odeio, o imediato, um leve gemido de dor escapa por minha garganta quando tropeço.

  - Sei caminhar..

Falo e me surpreendo com minha voz, recebo um leve empurrão.

  - Rachel?

Olho em volta a procura de quem falou meu nome, o homem me solta, vejo outro rapaz também de uniforme se aproximar paro meus olhos em seus olhos azuis, me perco por alguns segundos, são como o mar.

  - Meu Deus Rachel é você!

  Ele me abraça, o que faz um leve grito escapar.

Sete MaresWhere stories live. Discover now