Capítulo 15

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(Rachel)

  Assim que a porta se fecha desmorono, freneticamente tento limpar o sangue em mim as lágrimas escorrem sem parar "Eu matei um homem" é a única coisa que passa pela minha cabeça, a imagem dele caindo na minha frente e a minha mão segurando a espada de repete em minha mente vez após vez me arrasto até a parede ficando escorada nela abraço minhas pernas contra o corpo, corpo este que se recusa a parar de tremer, então a lembro de Jaime com a perna sangrando e cerro os punhos, que tipo de monstro faria isso com um menino, olho para a porta onde a garrafa de rum se encontra ao lado, engatinho até ela e sento ao lado da porta, levo a garrafa aos lábios, o rosto de Noah passa pela minha mente, o que ele acharia se me visse agora? Tomo um grande gole que parece queimar minha garganta, o gosto é horrível mas nesse momento eu não ligo, lembro de meu pai chegando noite após noite bêbado em casa e choro mais, um gole, enxugo as lágrimas com a manga da camisa, lembro de correr para fora de casa quando criança, outro gole, lembro do sorriso travesso de Noah correndo junto comigo enquanto fugiamos de comerciantes zangados, mais um gole, me levanto cambaleante a suspiro, olho de relance para o caderno acima da mesa e o guardo comigo, abro a porta lentamente, uma brisa salgada sopra meus cabelos e faz com que eu suspire com a sensação, sensação de vida, ando, um passo de cada vez, sem olhar para os lados eu desço ao convés, as poucas risadas cessam por alguns momentos e são substituídas por cochichos e insultos, não ligo, continuo andando, passo por todos até que não tenha mais para onde andar, me escoro na borda olhando as ondas negras, vendo as estrelas através do mar, me perco no movimento da água, a brisa salgada, tudo que sempre amei, derrepente parece que todos meus problemas desapareceram e sem saber o porque percebo que estou sorrindo, escuto um suspiro ao meu lado mas não quero olhar, não quero perder isso que estou sentindo agora, não posso, sinto como se eu pudesse tocar as ondas se apenas estendesse a mão, sorrio lembrando da sensação das ondas passeando pelos meus dedos.

- Uma mulher que é chamada pelo mar...

  Não a sarcasmo em sua voz, não há nada em sua voz, posso sentir seus olhos sobre mim. Me pergunto o que ele vê, o que ele pretende?

- O que fazia na praia aquela noite... você com certeza ja tinha percebido o que estava acontecendo não tinha?

  Suspiro e tomo um gole da garrafa ainda em minhas mãos. Tenho vontade de contar, não sei o porque amas eu quero mesmo falar mas não sei o que.

-Tinha...

  Imagens daquela noite passam por mim, olho para seus olhos, ele não parece se incomodar, pela primeira vez ele parece relaxado perto de mim.

- Eu estava indo embora... meu pai... Henri....(suspiro"casamento")... Noah..... muita coisa aconteceu naquele dia.

  Ele da risada, fico sem entender o motivo dele rir.

- Imagino que sim...

Ele passa a mão pelo rosto como se não tivesse entendido mas estivesse tentando pensar melhor.

- Mas por que roubou meu caderno?

Penso um pouco, não sei, desvio o olhar.

  - Eu não sei... acho que sou assim mesmo, você pegou meu único dinheiro... sou uma só uma ladra? realmente não sei o porquê, curiosidade talvez, ou apenas seja quem eu sou.

  Tomo outro gole e escuto ele rir de novo, isso começa a me irritar um pouco.

  - Não acho que seja só uma ladra... e no fim isso salvou sua vida... Não acredito em conhecidencias... Era o seu destino estar aqui... e também ajudar o Jaime... Ele é um bom garoto.

  É minha vez de rir, olho para trás e vejo o pequeno adormecido em um canto, o convés agora está quase vazio.

-Destino... eu estou fugindo do meu... Se você não acabar me matando talvez eu consiga um melhor...

  Lembro de Henri e seu olhar pra mim quando disse dele "Não posso me casar com você" esse era meu destino mas de um certo modo eu fugi dele.

-Hum... então está tentando fazer seu destino...

  Que destino? Que destino eu poderia ter junto a eles? São assassinos... Eu sou uma assassina... Eu não esitei em matar aquele homem...
 
- Vai me matar assim que conseguir seu caderno não vai?

Ele não me responde apenas fica olhando para o mar.

Retiro o caderno e estendo para ele.

- Não importa... Eu não sou mais quem eu era, não sei no que estou me tornando... Então se vai me matar mate enquanto ainda consigo me reconhecer...

  Ele me olha sem expressar nenhuma emoção, toma o caderno de minha mão.

- Você só morre quando eu assim desejar... O que fez por Jaime foi bom... Talvez ainda possa ser útil por um tempo...

Sete MaresWhere stories live. Discover now