Capítulo 21

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Jogo mais um pouco de água no chão e volto a esfregar, aos olhos da maioria sou invisível e facilmente dispensável, mas não para todos.

-Hey Rachel...

Ergo a cabeça já sorrindo com a alegre voz do garotinho a minha frente, solto a escova e puxo as mangas de volta cobrindo meus braços.

- Bom dia Jaime.

Ele me entrega um pratinho com pedaços de pão, sento no chão onde ainda não está molhado e começo a comer.

- E então... Eles conseguiram?

Arqueiro uma sombrancelha pensando na sua pergunta.

- A história... Você não terminou de contar ontem... Eles conseguiram fugir?

Sorrio de lado pra ele e solto o prato no chão, tiro os farelos de cima de mim.

- Fugir? Não, eles não fugiram eles lutaram.

Ele parece encatado com a história e senta a minha frente.

- Mas não eram cinquenta navios contra eles?

- Eram... Mas eles eram corajosos... Não eram como aqueles contra eles... Eles eram livres e por isso não fugiram porque fugir seria renunciar sua liberdade...

Os olhos dele brilham de emoção ao ouvir minha história.

- E eles venceram?

Sorrio pra ele, um final feliz é claro.

- Sim... Eles lutaram por três dias seguidos até que não sobrou um inimigo em pé, então eles foram embora com todo o ouro dos navios inimigos e continuam navegando até hoje.

Ele abre um grande sorriso, pega o prato vazio e sai correndo, sorrio de leve, não era esse final que Noah havia me contado nessa história mas acho que esse final é melhor... Um final onde as pessoas que lutam por liberdade ganham.

- É uma boa história... Mas não devia encher a cabeça do garoto com essas idéias.

Olho para trás vendo o imediato, Carter, o homem que me tirara do navio na primeira vez que embarcara, o porquê ainda não sabia.

- Já terminou de limpar para estar descansando?

Baixo a cabeça, depois do capitão ele é quem tem maior autoridade, e nas últimas semanas ele deixou claro não aprovar minha presença no navio, mas não se encontra em conseguir muitas tarefas para me manter ocupada.

- Ainda não mas...

- Então não devia estar aí parada, mexa-se ou eu faço você se mexer.
Não olho em seus olhos, não é uma boa ideia o desobedecer então puxo as mangas e volto a limpar, escuto os passos dele se distanciarem, continuo esfregando o chão, na minha opinião esse é o navio pirata mais limpo de todos, dou uma leve risada e me levanto, jogo a água de volta ao mar e deixo o balde em um canto, caminho até a borda e me debruço.

- Bom dia senhorita Rachel.

Sorrio e olho para o lado onde um jovem se debruça ao meu lado, ele tem cabelos pretos e levemente ondulados até os ombros, seus olhos não negros e sua pele morena.

- O vento está a nosso favor hoje não é mesmo?!

Ele sorri me olhando e olha para o mar.

- É a primeira garota que eu conheço que é tão atraída pelo mar... Ele quase a chama para ele.

Sorrio e fico em silêncio por alguns segundos, escutando o mar, ele parece mesmo chamar por meu nome, sorrio de leve.

- Sabe para onde estamos indo?

Ele suspira e olha para o mar.

- Não faço idéia provavelmente procurando algum cargueiro ou indo a algum porto... Singapura talvez.

  Balbucio o nome desconhecido algumas vezes até que soe natural, como ele não sabe? Ele não é o que chamam de navegador... Achei que ele deveria saber, ou talvez ele só não possa me contar.

- Por que você veio para o mar Felippe?

  Olho para ele.

- E por que eu ficaria em terra? Seguindo ordens, vivendo na miséria enquanto obedecia a um rei que vive banhado em ouro.

Relacho meu corpo, é verdade eu passei a vida na miséria enquanto as pessoas que mandavam em nós viviam na riqueza.

- Entendo...

E agora eu entendo mesmo, antes eu via os piratas como homens sem lei, bandidos, assassinos e ladrões... Não posso dizer que eles são bons, nunca diria isso depois do que fizeram e do que tentaram fazer comigo, mas são homens livres e que desafiam a coroa por isso são temidos, lutam lado a lado... E eu nunca mais vou voltar a ser a prisioneira de homens que mandam outros morrer por si.

- Sei que entende... É uma mulher inteligente, mais que esses ratos pelo menos.

Ele fala rindo, já estou acostumada com esses tratos entre eles, eu não me atreveria mas percebo que entre eles isso não passa de uma brincadeira.

- Rachel!

Reviro os olhos e me viro vendo mais uma vez o homem que faz do meu dia um inferno.

- Se já terminou o chão pode ir pra cozinha.

Suspiro e digo tchau baixinho. Apesar de ele ter mandado eu o chamar de senhor eu me recuso afinal ele é o imediato não o capitão e não vejo outro homem o chamar assim então simplesmentente passo por ele e vou para cozinha.

Sete MaresWhere stories live. Discover now