Sete Mares

Capítulo 46

  A noite fria trás uma brisa salgada, o céu e o mar se estendem até onde meus olhos alcançam, as estrelas parecem brilhar mais do que em qualquer outro lugar, fecho os olhos deixando minha mente vaguear e aproveitar cada segundo em que posso sentir isso. Estou em casa!

Levo os dedos até meus lábios lembrando de cada sensação de quando os lábios dele tocaram os meus, sorrio comigo mesma, ele virá!

Fecho os olhos quando escuto outra garrafa se partindo e dou uma leve risada apesar de preferir ser discreta os homens não ligam muito para isso e a altas risadas e cantorias vindas do bar atrás de mim, mantenho minha cabeça baixa para ninguém ver que sou uma mulher.

Olho para longe onde em um lugar mais alto posso ver a mansão do governador, para onde irei ao amanhecer, não deixarei o capitão enfrentar isso sozinho eu devo pagar minha dívida a ele.

- Então é assim que você vive agora? Escondida em meio a ratos?!

Me viro para a voz e sorrio ao ver Noah parado a poucos metros de mim.

- Não estou me escondendo, antes eu me escondia e vivia com medo, agora eu sou livre...

- Todos diziam que você tinha fugido com os piratas a bordo do Imperatriz, mas eu duvidava, porque eu conhecia Rachel Jones e ela nunca fugiria com piratas... Eu estava errado!

Suspiro e me aproximo dele lentamente ficando a poucos centímetros e pego sua mão.

- Eu não fugi com eles, eu fui sequestrada, torturada, feita escrava e então fizeram tudo mais uma vez mas alguns deles são diferentes, o Capitão é diferente, você não faz ideia do que ele já fez por mim, de quantas vezes ele me salvou, ele me tornou alguém mais forte.

  Consigo ver uma lágrima brilhar em seu olho mas ele não a derrama, escuto um longo suspiro.

- Você gosta dele?

Demoro alguns segundos pra entender o que ele quer dizer com isso e quando entendo solto sua mão.

- Não desse jeito, ele cuidou de mim e me acolheu como aprendiz, ele é meu capitão... Mas não houve um único dia em que não pensei em você. Por favor me deixe contar tudo a você e venha comigo.

  Ele nega com a cabeça e se aproxima de mim encostando sua testa na minha, fecho os olhos, posso escutar sua respiração.

- Eu não quero falar disso, vamos embora daqui, você fica comigo e bem longe desses vermes... vem comigo.

Sinto lágrimas brotarem em meus olhos, como posso decidir entre o homem que amei toda minha vida e minha liberdade? Ele não espera uma resposta e pega meu pulso com firmeza para me levar.

- Não posso Noah!

Ele não solta meu pulso e fica apenas me encarando por alguns instantes. Uma garrafa voa pela janela quebrando o vidro do bar, ele me solta.

- Desculpe... Tudo bem, por que não vamos até as pedras como nos velhos tempos e você me conta mais.

Sorrio vitoriosa para ele, esquecendo de tudo o pego pela mão e corro em direção a praia o arrastando comigo, as ruas estão desertas e em poucos minutos chegamos a praia, as ondas negras chegam perto de nossos pés, solto sua mão envergonhada e começo a caminhar em direção às pedras enquanto lhe conto tudo sobre as aventuras que vivi no mar e sobre como me tornei a mestre de armas, lhe mostro todas minhas armas e ele parece impressionado, conto sobre o capitão, sobre Felippe, Eduardo, Jaime e também sobre o cruel Imediato Carter. Enquanto lhe conto alegre ele apenas me observa em silêncio as vezes acenando com a cabeça para que eu continue.

- Lembra de quando me ensinou a nadar?

Ele ri e para ao meu lado sobre a pedra onde nos encontrávamos, as ondas batem forte contra ela e o mar está agitado essa noite.

- Você diz quando você pulou no mar porque eu disse que você era muito nova pra nadar e você quis provar que estava certa?

Dou uma leve risada e o empurrão de leve antes de sentar sobre a pedra, ele se senta ao meu lado.

- E como é o nome dele? Você só o chama de capitão.

Sorrio feliz para ele, é a primeira pergunta que ele faz.

- O nome dele é Willian, Willian Balk mas ele prefere ser conhecido apenas como capitão ou imperador, por isso poucos sabem seu nome... antes de vir pra cá eu estive em Port Royal e lá...

Ele me interrompe juntando nossos lábios, é um beijo diferente do último, é mais voraz e urgente, sinto seus dedos em meu cabelo e entrelaço meus braços em seu pescoço, seu cheiro é como o mar, sinto estrelas estourarem em minha mente mas então o som de uma pedra rolando me faz sair do transe e o empurrão de leve para longe olhando para trás de seu ombro onde vejo uma dezena de soldados vindo em nossa direção, olho para trás de mim mesma e vejo mais homens vindo, me posicionou em frente à Noah.

- É uma armadilha, fique atrás de mim!

Puxo minha espada em uma mão e uma adaga em outra, como ele e souberam? Estamos cercados, não há para onde correr, não podemos pular no mar com ele agitado assim e sem conseguir ver as pedras abaixo, é suicídio.

- Muito bom Sr. Lewis!

Me viro para Noah, minhas pernas estão bambas e sinto como se uma espada tivesse sido atravessada em meu peito, olho em seus olhos esperando que ele tome uma posição ao meu lado mas ele apenas abaixa a cabeça, olho de volta para os homens que estão a poucos metros de nós, iluminados apenas pelas estrelas e pela lua.

- Por que Noah?

Pergunto entre dentes sem conseguir o encarar, me sinto enojada e com vontade de vomitar.

- Por que você não é minha Rachel, ela foi morta por piratas imundos assim como meus pais e minha irmã, minha Rachel nunca se juntaria a esse tipo de animal!

Ele cospe as palavras contra mim, não consigo conter minhas lágrimas.

- Largue as armas e se renda agora!

- Eu já falo com vocês!

Grito para os homens e me viro para Noah baixando a espada e erguendo minha adaga perto de seu rosto, me sinto quebrada por dentro, uma dor pior que a morte aperta meu peito, respiro fundo e abaixo minha adaga contendo minha tristeza e ódio.

- Tem razão! Não sou sua Rachel, não sou um peixe ou um cavalo para ser de alguém!

Caminho em passos largos em direção aos homens ainda com a espada em mãos, pronta para lutar até o fim mas antes de chegar até eles sinto uma forte pancada em minha cabeça.