Capítulo 35

2.2K 260 4
                                    

Me remexo dentro do bote que tem sido minha cama nas últimas noites, desde que o capitão deixou claro que não sou mais sua prisioneira eu me recuso a dormir em sua cama, me recuso a dormir na cama de um homem, mas não ouso ir dormir onde os homens dormem.
Resmungo incomodada com a luz, sento no bote e esfrego os olhos, viro o rosto vendo o sol já alto no céu, olho para o outro lado, há pouca movimentação no navio, alguns poucos homens aqui e alí, saio do bote e solto um leve gemido ao ajeitar minha postura, caminho cambaleante até às escadas, estico os braços me espreguiçando.
- VELAS!
Dou um pulo com o susto do grito, ele repete o mesmo grito, olho para cima, no mastro um homem grita várias vezes, os homens dão risadas e correm pelo convés, o capitão rompe meus pensamentos ao sair rápido de sua cabine, ele caminha até a borda do navio.
- Velas Espanhóis... Cavalheiros... Em seus lugares!
Corro meus olhos por todo convés, pra onde eu vou? Eu não tenho um lugar, pra onde devo ir?
Vejo o capitão se aproximar de mim, ele para a minha frente.
- Me de a espada e entre no bote!
Olho incrédula para ele.
- Quê?
- Agora garota, me dá a espada!
Sinto as lágrimas brotarem nos meus olhos, olho para minha espada e então para o capitão, retiro a espada, ele a toma de minha mão.
Ele parece ver algo atrás de mim então me olha por alguns momentos e estende a espada novamente para mim.
- Não espere que eu vá te salvar de novo... E ajude a carregar o saque depois!
Ele sai pisando forte, olho em volta, atrás de mim vejo Eduardo ele sorri de leve antes de sair também.
- Preparar para erguer a bandeira!
Escuto o comando do capitão, olho para frente onde vejo o outro navio bem mais próximo que antes, engulo em seco, não é um navio de guerra, é apenas um navio mercante, um navio com homens de família, homens que estão trabalhando honestamente, e nós vamos rouba-los... Não é como se eu tivesse escolha, se não ajudar os piratas que agora me acolhem como uma deles, eles vão me matar é sua regra, e se eu ajudá-los talvez não consiga me perdoar... Se tentar ajudar o outro navio... Mesmo que eu consiga vou acabar indo para a forca.
Engulo em seco e pisco várias vezes, no que estou pensando, eu não tenho uma escolha a fazer.
- AGORA!
Guardo a espada ainda em minha mão, vejo um grande pano negro ser pendurado no mastro e aos poucos hasteado, o vento o abre revelando uma figura, a imagem de uma espada e uma arma cruzadas, o pano parece velho, está rasgado e desbotado pelo uso, olho para o navio a frente, posso sentir seu pavor, o mesmo que eu senti quando fui arrastada para esse navio.
Olho atentamente para o outro navio, e vejo uma bandeira branca presa atrás dele, suspiro aliviada.
Os homens dão risada, o Imperatriz fica ao lado do outro navio que por nervosismo nem olhei o nome, os homens começam a passar de um navio para outro usando tábuas.
- Fique ao meu lado!
Escuto uma voz falar próxima ao meu ouvido, dou um pulo para o lado me afastando, vejo os olhos zombadeiros do capitão.
- Não saia do meu lado se eu não mandar!
Ele caminha a minha frente e eu vou logo atrás dele como ele me ordenara, paro ao seu lado no outro navio, olho para os lados, os homens desse navio estão sentados todos juntos no chão enquanto os piratas lhes apontam armas, o capitão volta a caminhar, vejo um homem gordo separado dos outros, caminho atrás do capitão até a frente daquele homem.
- Você tomou a decisão certa... Mantenha seus homens calmos e tem minha palavra que não serão ferido..
Ele se vira para sair então para.
- Mas se tentarem alguma deixaremos sua carne para os tubarões.
O homem olha assustado para o capitão e então pela primeira vez para mim como que se arrecem tivesse notado minha presença, me viro já seguindo o capitão.
- Mulher...?
Paro por alguns instantes me voltando na sua direção.
- Prostituta imunda, filha do demônio...
O capitão se volta para o homem, ele coloca sua mão sobre a espada, então eu escuto um tiro, o ar parece ficar mais pesado, olho para o homem que segura a arma, então olho para o capitão que segura seu ombro e grita de dor, escuto a arma sendo preparada mais uma vez, destravada, olho para o homem, está apontada para mim, não penso, a espada está em minha mão, não lembro de ter puxado ela, giro ela rápido cortando a mão do homem fora, ele grita de dor e cai para trás ainda gritando, ele me olha surpreso, guardo a espada e corro para o capitão e me ajoelho ao seu lado.
- Droga, droga, droga, droga...
Ele está suando frio mas sorri divertido pra mim.
- Foi de raspão... Não vou morrer por isso... Já ele...
Ofereço ajuda para ele se levantar mas ele ignora se levantando sozinho.
- Matem qualquer um que tossir sem permissão!
Ele começa a caminhar de volta para o navio ainda segurando seu ombro, o sigo assustada, olho de relance para o homem ainda no chão, ele grita pragas para nós, principalmente para mim.
- Desculpe...
Abaixo a cabeça voltando a seguir o capitão já que ele não ordenou que eu ficasse ou fizesse outra coisa.
Passo pelos homens, o capitão fala algo baixinho para Felippe e volta para o Imperatriz.
- Rachel...
Me volto para Felippe.
- Fique e ajude a carregar as caixas!
Olho para ele e então para o capitão que já sumiu de meu campo de vista.
- O capitão...
- São suas ordens Rachel!
Meu coração está acelerado, apenas concordo com a cabeça, farei o que ele falar, mas minha cabeça volta para o capitão, será que ele está bem? Ele estava sangrando... Será que não precisa de ajuda? Balanço a cabeça afastado as dúvidas de minha mente, ele não precisa de mim!

Sete MaresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora