Capitulo 12

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Sento na cama esfregando os olhos, os primeiros raios de sol passam pelas poucas janelas, olho mais uma vez em volta, isso bem que podia ser um pesadelo mas é bem real, não queria ficar mais nem um minuto em sua cama, mas não tenho para onde ir, levanto rápido decidida a fazer uma coisa que devia ter feito antes já, me xingo mentalmente por não ter tido essa idéia, abro um baú e começo a mexer nos papéis dentro dele procurando algo afiado mas sem sorte passo para o segundo baú onde encontro algumas camisas e calças em péssimas condições, tiro algumas peças de dentro do baú ao sentir algo metálico contra a mão, puxo uma fina adaga de cabo preto suspiro ao ver o objeto, ela é pesada e a lâmina desenhada, o equilíbrio perfeito, sorrio comigo mesma, pirata burro, coloco as roupas de volta no lugar e escondo a adaga no cós da calça tapando com a camisa, volto a me deitar esperando que acreditassem que ainda dormia, assim que fecho os olhos escuto a porta ser aberta bruscamente e o cobertor ser arrancado de cima de mim, olho furiosa para o homem a minha frente.

- Bom dia Ratinha.

Tenho vontade de socar a cara dele com toda força que tenho, não tenho tempo de responder pois ele segura firme o meu braço e me arrasta para fora, a luz do sol me faz cega por alguns segundos, estou começando a me acostumar em ser arrastada.

- Me solta pirata... Eu sei caminhar.

Escuto ele rir e sua risada é acompanhada por outras, ele desce as escadas para o convés me puxando, tropeço quase caído em sima dele no último degrau, ele me encara e então me empurra, caio de bruços no chão por pouco não bato a cabeça.

- E sabe limpar?

Ele pergunta se abaixando ao meu lado, e sorri sarcástico, eu juro que vou tirar esse sorriso da cara dele.
Me levanto o encarando, ele levanta também como que esperando que eu reagisse, mas apenas o encaro.

- Deve saber... Mulheres fazem isso...

Ele fala ainda rindo então o mesmo garoto que trouxe as cordas se aproxima carregando um balde.

- Claro que sei, assim como sei seu mapa e você não, pois tenho algo que você nunca vai ter...

Falo sorrindo próxima a ele.

- E o que seria?

Ele pergunta ainda sarcástico.

- Descubra sozinho... Ou é muito estúpido para descobrir sozinho pirata?

  Escuto várias risadas ao redor, pela primeira vez me sinto vitoriosa, sorrio o encarando.

- Língua afiada ratinha, se fosse eu cuidava pra não perde-la.

Ele cospe no chão e se vira indo em direção ao timão.

- Limpe isso!

Aida me sinto vitoriosa, olho para o balde com água e uma escova boiando.

- Foi estúpido da sua parte, você o humilhou... Humilhar o capitão não é uma boa idéia.

Olho para o garoto na minha frente, ele parece pensativo quase como que estivesse falando sozinho, me abaixo ficando de joelhos pego a escova.

- Por que não? Ele é um idiota.

Olho mais uma vez pra ele que agora me encara indignado.

- O capitão é bom, ele venceu mais batalhas do que se pode contar ... Ele é bom.

Ele repete a última parte como que pra si mesmo. Jogo um pouco de água no chão e começo a esfregar.

- E você o conhece a muito tempo?

O encaro e sorrio lembrando de uma coisa.

- Qual o nome dele?

Ele abre a boca para me responder mas então a fecha.

- Jaime você tem trabalho pra fazer as espadas não se afiam sozinhas, anda garoto!

Um homem alto de pele negra e cabelos trançados se aproxima e dá um leve tapa carinhoso na cabeça do garoto e então me encara, vejo Jaime correr feliz para longe.

- O capitão é a única coisa que impede que você seja servida, faça seu trabalho ou ele pode mudar de ideia.
Servida? Aperto a escova com raiva, cansada de ameaças,quando ele se vira, jogo a escova com raiva nele, acerto no meio de suas costas ele volta a me encarar agora vejo apenas ódio em seus olhos.

Me arrependo na mesma hora que ele dá um passo em minha direção, aos tropeços começo a me afastar dele que continua vindo em minha direção.

- Desculpe... Me desculpe...
Ele continua vindo em minha direção, olho em volta tentando pedir ajuda, vários homens olham interessados no que vai acontecer mas nenhum se manifesta.

  Continuo me afastando dele, então eu corro, mas em vão pois sinto meu corpo ser empurrado, caio mais uma vez de bruços, me viro rápido ainda tentando escapar, mas o homem fica por cima de mim e acerta dois socos em meu rosto então começa a apertar suas  mãos em volta do meu pescoço, não consigo respirar, não alcanço minha adaga, cravo minhas unhas em seus braços, escuto vários homens o encorajando, ergo meu corpo em busca de ar mas é em vão, olho nos seus olhos e tento alcançar seu pescoço um esforço inútil, então do nada todo peso sai de cima de mim, me arrasto pra trás tossindo, o ar queima meus pulmões, olho para frente ainda tossindo vejo o capitão socar o rosto do homem algumas vezes, então ele se aproxima de mim e me puxa pelo braço, não tenho força pra lutar, tusso mais algumas vezes antes de ser empurrada para dentro da sala do capitão, escuto a porta ser trancada encaro o capitão que me analiza, seu rosto está indecifrável sem demonstrar nenhuma emoção e isso me assusta mais que sua raiva, ele caminha em minha direção, me afasto até sentir a parede.

- Eu não queria...

  Ele ri, mas sua risada está diferente, um frio percorre minha espinha, ele dá mais um passo em minha direção e eu puxo a adaga.

- Nao se aproxima... Eu tô avisando.
Aponto pra ele que para por alguns instantes.

- Solta isso... Vai acabar se matando.
Ele fala a última parte mais como uma ameaça e continua se aproximando, meu corpo treme a cada passo dele.

- Não.. não chega mais perto ou...

Ele me interrompe.

- Ou o que?

Ele dá mais um passo e dá um tapa na minha mão fazendo a adaga cair longe, em segundos ele prende minhas mãos acima da minha cabeça e aproxima seu rosto, posso sentir o cheiro do rum nele.

- É bom você aprender logo Ratinha... A única coisa que mantém você viva sou eu...

Faço que sim com a cabeça várias vezes enquanto luto com as lágrimas.

- Entendi...

Ele ainda me segura me encarando e esperando.

- Desculpe...

As palavras fazem meu peito doer ele me solta e caminha até a adaga a olha e depois de olha por alguns instantes, eu tinha prometido a mim mesma não fazer isso, não me sujeitar mais a ele, sou uma fraca.

- Ele te machucou?

  Faço que não com a cabeça, ainda tremendo e encostada na parede, ele olha em meus olhos, posso ver um brilho diferente neles algo como tristeza se não fosse ele poderia jurar que é arrependimento, mas ele provavelmente não tem esse sentimento, ele faz que sim com a cabeça e sai me deixando sozinha e  confusa, escorrego pela parede sentando no chão ainda trêmula sem perceber que as lágrimas já caiam.

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