Capítulo 14

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(Capitão)

Jogo o último corpo ao mar e passo a mão pelo cabelo tirando as mechas que insistem em cair no meu rosto, resmungo cansado e pela primeira vez olho para mim mesmo a procura de qualquer corte mas não encontro nenhum, sorrio de lado, tive mais sorte que eles, dou uma última olhada para a trilha de corpos deixada para ser levada pelo mar, passar a eternidade no mar, qualquer marujo desejaria uma morte assim.

- Bebam e festejem homens!!!

Grito para os homens de aparência cansada que parecem esperar que eu diga algo a mais.

Mas apenas me retiro para meu quarto parando na porta antes de entrar por ouvir vozes.

- E o que aconteceu depois?

Conheço a voz inocente do pequeno Jaime.

- Depois? Eles navegaram juntos em direção ao horizonte.

Sorrio involuntariamente, uma história, ela contou uma história pra ele.

- Mas e depois?

Tento empurrar a porta mas ela nem se move, escuto ruídos dentro do quarto então a porta abre espaço o suficiente para apenas uma lâmina passar, escuto um suspiro feminino e a porta se abre completamente, a pele dela está molhada de suor e sua roupa vermelha e grudada em seu corpo, seu cabelo bagunçado, seu rosto mostra uma confusão de sentimentos. Balanço a cabeça vendo que estava encarando e a empurro para o lado passando por ela vou até Jaime que está sentado na minha cama.

- Como tá garoto?

Ele me olha e sorri de leve.

- Bem... Ela cuidou disso.

Ele fala apontando para a perna que está enfaixada olho para o chão onde uma camisa minha está espalhada aos trapos, então olho intrigado para a garota atrás de mim.

- Por que não trás uma garrafa de rum pra nós Jaime?

Ele levanta rápido e sai correndo.

- Se você se apoiar muito na perna machucada vai abrir mais o corte e sangrar muito.

  Escuto ela falar pra ele antes dele sair.

- Como sabia o que fazer?

Pergunto intrigado, o jeito que ela enfaixou, que ela distraiu ele e que ficou calma, isso não é normal, não em uma menininha, em uma ladra barata de uma ilhazinha.

- Acho que não lhe diz respeito.

Escuto a voz dela atrás de mim, uma voz indiferente, não com raiva ou medo como de costume, me viro pra ela que agora encara suas mãos molhadas pelo sangue de Jaime, ela olha sua blusa enxarcada pelo sangue do homem que ela matara com suas mãos.

- Eu matei um homem... Eu... Ma..tei..
Seus ombros começam a tremer levemente, posso escutar seu soluço baixinho, congelo, pela primeira vez em anos não sei o que fazer.

- Olha, aqui você não vai conseguir nada chorando feito uma criança mimada, ou você é forte ou você morre, hoje você foi forte e está viva... Você agiu bem com Jaime ele podia ter morrido... Sabe... Tem outros homens feridos... Talvez você pudesse ajudar... Talvez...

Ela levanta a cabeça me encarando sem entender muito, suspiro e tiro a adaga preta que ela tinha pego outro dia e estendo pra ela.

- Não faça besteira ou eu te mato.

Ela me olha e olha a adaga, seus olhos parecem os olhos de uma criança ela estende a mão esitante e pega a adaga. Jaime entra rápido carregando uma garrafa, risadas já preencheram o convés e a lua cheia ilumina todo ele, sorrio e pego a garrafa, tomo um gole, olho pra garota mais uma vez, ela colocou a adaga no cós e tenta freneticamente limpar o sangue de seu corpo, estendo a garrafa pra ela.

- Bebe!

Mando entregando a garrafa em sua mão, ela está trêmula mas leva a garrafa aos labios, vejo um pequeno gole passar por sua garganta, ela começa a tossir, dou risada dela, ela me encara e toma outro gole maior e outro, então tosse mais vezes e me entrega a garrafa, pego e saio atrás de Jaime que dá risada da garota.

- Vamos beber a vitória...

Falo a olhando, ela me encara por alguns segundos e então olha para trás, entendo então coloco a garrafa no chão e saio fechando a porta atrás de mim. Por que ela ajudaria Jaime assim ela podia ter morrido, arriscou a vida por um de nós, ela nos odeia mas se arriscou por ele.

Passo as mãos pelo cabelo e então sorrio para o garoto a minha frente e bagunço seu cabelo loiro.

- Como era a história?

Sete MaresWhere stories live. Discover now