Capítulo 20

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(9 luas depois)
  Metal contra metal, o tilintar de espada contra espada ecoa por todo convés, a lua brilha sobre nossas cabeças, giro meu corpo me esquivando de mais um ataque do capitão, tento mais uma vez um ataque direto que ele protege com sua espada, escuto a risada de vários homens e incentivos, sorrio por poucos segundos antes de tentar de novo, e de novo, sinto o seu pé acertar a parte de trás da minha perna fazendo eu cair de joelho, antes que eu consiga reagir a isso sinto o frio da lâmina encostada no meu pescoço.
Olho para cima encontrando os olhos do capitão, largo minha espada e ele sorri afastando a sua do meu pescoço.

- Foi trapaça.

Digo rindo um pouco.

- Não confie nos piratas ratinha.

Ele fala me estendendo a mão para mim, repitindo o que ele sempre fala quando reclamo de suas trapaças.
Sorrio de leve fazendo minha melhor cara de vítima e rápido passo uma rasteira nele o derrubando de costas, dou risada e me levanto sozinha, os outros pararam de rir por alguns instantes ao ver seu capitão no chão mas então esplodiram em risadas.

- Nunca confie em uma mulher capitão.

Digo sorrindo para ele, que levanta me olhando.

- Muito menos em uma mulher pirata.

Ele gargalha com seus homens, sorrio comigo mesma, satisfeita por ter o derrubado pela primeira vez em várias luas de treino após treino, Jaime me tira de meus pensamentos trazendo uma garrafa de rum para mim e para o capitão, agradeço a ele e tomo um longo gole e ergo a garrafa em comemoração, me afasto deles indo para ponta do navio, me escoro na borda no navio, não me canso de sentir o cheiro do mar, nesses meses em que fiquei aqui aos poucos conquistei meu lugar, não como uma prisioneira, mas como algo mais, conheci outros marujos e suas histórias, agora consigo os ver como homens e não como monstros do mar, tomo mais um gole e olho para lua cheia que ilumina o mar negro na noite.

- Você melhorou... Um pouco.

Sorrio ao ouvir sua voz ao meu lado, ainda não entendo como ele pode chegar sem que eu veja.

- Só um pouco?

Olho para ele sorrindo de lado ainda me sentindo vitoriosa.

- Claro... Tive umas sete chances de ganhar.

Ele fala levando a garrafa aos lábios.

- E perdeu todas essas chances?

- Não quis bater em uma menininha.

Engasgo com um gole de rum, tusso várias vezes rindo, tento me controlar e olho em seus olhos, volto a rir ao ver sua expressão séria.

- Eu não concordo.

  Ele dá risada de mim, todas as vezes que apanhei deles voltam a passar pela minha mente, quando ficava presa ao mastro nas noites frias, já não consigo mais contar quantos hematomas tenho em meu corpo, olho para a água batendo contra o casco do navio, eu achava que depois do ocorrido em terra ele não me machucaria mais, estava enganada.
Olho para o horizonte e penso no que Noah pode estar fazendo, se ele está bem.

- Sente falta dele?

Engasgo de novo mas não olho para ele, sinto um bolo crescer em minha garganta.

- De quem?

Em momento algum tinha falado sobre minha vida na ilha, então ele sabia poucas coisas sobre meu passado, passei duas noites no mastro por me recusar a contar.

- Ora garota... Dá pra ver no seu olhar, seu pai era um bêbado nogento... Mas você vive com os olhos no horizonte, tem alguém lhe esperando em casa?
Suspiro, e tomo outro gole impedindo as lágrimas de caírem.

- Tenho... Ele é meu melhor amigo desde sempre, me ajudava a conseguir comida.

Posso ver seu sorriso.

- A roubar comida não é mesmo?

- Sim... Como sabe disso?

Ele dá risada e sinto seus olhos sobre mim.

- Você roubou de mim... Com certeza não foi sua primeira vez.

Acompanho ele com uma risada fraca.

- Não mesmo... Desde bem pequena roubava pães na feira ou maçãs, ele me ajudava a fugir... Sem o Noah eu não conseguia subir em alguns lugares e acabavam me pegando.

  Conto baixo, sinto como se um peso fosse tirado de minha mente ao contar a ele sobre isso, sobre mim, sobre Noah. Tiro uma mecha de cabelo para trás mostrando minha orelha com um grande rasgo ele larga a garrafa, levo um susto com o vidro quebrando no chão, ele segura minha cabeça e analisa minha orelha, escuto ele xingar baixo desviando o olhar e me soltando.

- Capitão... Agora que eu contei sobre mim... Podia me contar algo sobre você...

Arrisco o pedido, mordo o lábio um pouco nervosa e olho para ele que está sério ainda, suspiro tentando controlar o turbilhão de emoções no meu peito.

- O que quer saber?

Ele pergunta virando o rosto para o mar.

- Seu nome? Da onde você é? Por que decidiu ser um pirata?

Pergunto rápido tudo que a tempos atormentava minha mente.

- O que? Não gosta de Capitão, ou Imperador?

Ele pergunta rindo de seus nomes, nomes contados em histórias de suas pilhagens, o demônio do mar, capitão do Imperatriz.

-Pois bem... Façamos um acordo, se conseguir me vencer mais uma vez eu respondo a uma pergunta.

Ele estende a mão para mim e eu a aperto.

- Não vou pegar leve como hoje... Foi apenas uma brincadeira até agora... Agora vai ser pra valer.

  Passo a mão pelo cabo da espada presa a minha cintura, sua lâmina fina e seu cabo negro com filigranas de prata, a adaga presa na outra perna.

Volto a olhar para o horizonte e ofereço a garrafa a ele.

- Se era pra me deixar com medo... Não conseguiu capitão.

Sete MaresWhere stories live. Discover now