Quarenta e Três.

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   Assim que cheguei em casa no outro dia, liguei pra Harryck e disse que precisavamos conversar na manhã seguinte. Dito e feito, Harryck bate na minha porta ás exatas 10hrs da manhã. Eu até poderia dizer que acordei com as suas batidas na porta, mas não, eu nem dormi nessa noite.
- O que aconteceu com a sua cara? - ele pergunta apontando pra mim. Dou espaço pra ele entrar fecho a porta e vou ao meu banheiro ver o que Harryck se referia.
- Eu não dormi essa noite - digo assim que vejo as olheiras no reflexo do espelho. Saio logo depois e vou até ele na varanda.
- Isso tem haver com o que queria falar comigo? - ele me olha.
- Sim, vou direto ao ponto - suspiro antes de falar - Você lembra de Ashton?
   Os olhos dele se arregalam feito os meus quando ouviram o nome dele.
- O garoto com câncer que você cuidou? Que abandonou todos os seis para cuidar dele? - assinto já com lágrimas nos olhos.
- Ontem um caçador com caracteristicas do Ash, antes de se matar disse que o seu nome era Ashton e que eu o abandonei.
- Você nunca abandonou Ash, eu lembro do seu desespero procurando médicos melhores em todo o canto. Você nunca aceitou que era estado terminal. - uma lagrima desce sem permissão pelo meu rosto. Lembrar de Ash me doi tanto, ele foi um dos que verdadeiramente me fez significado a palavra amor.

                 ° R e m e m b e r °
- Garota? - sou puxada de uma forma brusca por um garoto de péssima aparência - Deixou cair. - ele me entrega uma rosa que Gabriel tinha me dado, eu estava brava com ele e ele tentava me agradar como nunca antes.
- Fique para você - forço um sorriso ao menino, aparentava ter a minha idade de quando me transformei - Está bem? - ele sorri forçado também.
- Vou morrer, mas estou ótimo. - ele diz começando a rir e tossindo logo após.
- O que você tem? - pergunto o encarando.
- Câncer, mas acredite, estou melhor do que quando aparentava realmente bem. - sorrio fraco.
- Sinto muito. - o abraço.
                               ° ° °
    Não entendo até hoje a empatia que senti ao conhecer Ashton. Era algo que me apertou o coração saber que aquele garoto de sorriso largo iria morrer mês após o dia que nos conhecemos. A partir daquele dia não paramos de nos ver até a sua morte. Foram 42 dias de amizade, e a amizade mais sincera que já tive em anos. Eu o amava. Ash era um tipo de irmão mais novo para mim.
      Passei noites e noites pensando em transforma-lo, mas não queria trazer aquela maldição a ele. Ele via tanta beleza na morte quanto via na vida. Me arrependi da minha decisão assim que os aparelhos indicaram que ele já não estava mais naquele corpo, e nesse momento eu não estava lá para dar meu ultimo beijo em sua testa. Cheguei apenas 10 minutos depois, pois havia ido na cidade buscar novos medicamentos, e nesses 10 minutos de atraso eu não pude dar tchau pra alma mais linda que conheci.
      Ashton me trás dor, nesse momento que me desligava e ligava constantemente, as vezes não aguentava a ideia de que eu acordaria pela manhã e não iria mais ve-lo. Não iria mais rir de suas piadas bobas, e sorrir toda vez que eu observava sua simplicidade. Ele era mais novo do que eu achava quando o conheci, tinha apenas 16 anos. Apenas 16 anos que foram mais bem vividos do que muitas eternidades por ai.
     Eu o admirava, por todas aquelas coisas que ele não via de sí mesmo.
     Eu abandonei Ash na cama para buscar novos remedios na cidade. 10 minutos de atraso me fizeram uma dor que irei levar pra vida toda. Ou levará a minha própria morte.
     Todas as pessoas que amei, e os matei, estão vindo. Não gosto da ideia de ter outras pessoas que amo para eles machucarem. Talvez Harryck seja o único que consiga fazer um feitiço para proteger o Quartel.

Always and Forever.Where stories live. Discover now