L1|| VI. Paulista vs Pamplona

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Cai a noite na cidade, e mesmo com a vidraça fortemente temperada do nono andar, ainda posso ouvir o caótico trânsito de buzinas e xingamentos dar ritmo à noite paulista

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Cai a noite na cidade, e mesmo com a vidraça fortemente temperada do nono andar, ainda posso ouvir o caótico trânsito de buzinas e xingamentos dar ritmo à noite paulista.

Bauer foi ao encontro de um cliente no finzinho da tarde e agora eu estou sozinha, frente ao espelho do pequeno banheiro do escritório, experimentando o vestido que comprei na hora do almoço para ir a festa de Lucas hoje á noite.

É um vestido preto, com mangas curtas e saia rodada. Até que gostei, a única coisa que não curti muito foi o decote. Não estou acostumada com meus peitos tentando saltar para fora do que estou vestindo. Eles são meio grandinhos e sempre tentam escapar.

Olho o decote novamente e tento cobrí-lo mais, puxando o tecido para cima, pelo menos até a hora de encontrar Lucas. Mas por ser alta, o raio da saia sobe e daí minha bunda ganha visão panorâmica. Que maravilha! Por que não fazem roupas para pessoas altas que tapem duas partes do seu corpo ao mesmo tempo? 

Solto meu cabelo da costumeira trança embutida em que o coloco todos os dias. É a única forma que consigo controlá-lo no lugar. Gosto do meu cabelo, apenas gostaria que fosse... menos, sabe? São longos e negros, começando ondulado na raíz e terminando em grandes e definidos cachos. Quando digo que gostaria que ele fosse menos me refiro a seu volume e quantidade. Eu tenho cabelo para dar e vender, e ele se arma mais que arapuca indígena.

Decidindo como usá-lo hoje a noite, sou interrompida pelo barulho da porta da frente do escritório. Fico apreensiva, já que não estava esperando ninguém aquela hora. Clientes raramente aparecem aqui depois do horário de expediênte, especialmente numa sexta-feira a noite.

Penso em trocar de roupa para ir lá ver quem é, mas por não ter espaço no banheirinho, me troquei na minha sala - a recepção-  e deixei minhas roupas sobre minha mesa.

Droga!

Me ocorre que pode ser um ladrão. O pensamento me paralisa, mas suspiro aliviadamente quando reconheço a voz que ecoa monótona meu sobrenome.

— Moralles. 

Bauer. Ufa!

Pisando descalça no chão frio, vou até minha mesa e lá encontro um Bauer confuso, com minha calça jeans em mão, a erguendo e a observando como se fosse um objeto alienígena.

Quando vê que cheguei na sala ele me olha de cima abaixo, e me faz preferir por um momento que fosse um ladrão.

De confuso, ele passa a surpreso. 

— Olá moça, você viu minha secretária por aí? — Olha para os lados a "minha procura". Quando volta seu olhar a mim, seu sorriso curva um lado de seus lábios. Acho que Bauer fez uma piada. — Acho que vou despedí-la e contratar você.

Colocando o cotovelo sobre a mureta a frente de minha mesa, ele descança a cabeça sobre sua mão. Seus olhos pousam em meu decote, enquanto os meus reparam que a gola de sua camisa está desabotoada, e a gravata que ele usava mais cedo sumiu. Sua expressão é mais leve que de costume, sua postura mais solta. Parece cansado, mas de bom humor.

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