L2|| XXI. Um Velho Amigo

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VERENA

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VERENA

Se ele não sair de cima de mim imediatamente, vai acabar me matando. 

Me matando de tanta fofura. 

— Por Guendri, você tá mais pesado que da última vez que te vi! — digo enquanto gargalho embaixo de seu gigante corpo preto, suas penas quase me sufocando de tanto que me fazem cócegas. Protejo meu rosto de seu bico torto que é trêz vezes o tamanho de minha cabeça e que ele usa para me afagar daquela maneira sem delicadeza que sempre faz quando ficamos um tempo sem nos ver. — Isso dói, Anjinho! 

Anjinho, um dos meus melhores - e mais penosos- amigos, que por um acaso também é o predador de minha espécie, parece feliz em me ver. E honestamente, eu também estou feliz em revê-lo. Tento corresponder a seus carinhos mas sou pequena demais para fazê-lo daqui de baixo dele.

— Tá bom, tá bom! Também senti saudades!! — digo entre risadas escandalosas causadas pelas cócegas do movimentar de suas penas sobre mim. — Por que você sempre têm que fazer todo aquele escarcéu quando nos encontramos? Quase me matou de susto!

Tento me desviar de suas bicadas alegres, mas minhas mãos são infinitamente pequenas perto de qualquer parte do corpo dele. Mesmo se contendo ele solta um daqueles rugidos-gorjeios que sabe que pode me ensurdecer, e eu tento tapar meus ouvidos a tempo.

Ele está empolgado demais, tadinho.

— Se acalma, Anjo. Você ainda pode me matar se não se controlar! — o relembro. Parece ter que esquecido de que está equipado com várias armas nocivas a minha existência.

Depois de muita insistência de minha parte, ele se afasta e eu finalmente consigo respirar por completo. Ele se coloca de pé ao meu lado, batendo suas amplas asas. Quando me levanto, dou uma boa olhada em meu amigo. Não consigo esconder o sorriso por estarmos juntos de novo. 

Ele é enorme mas se porta como se fosse pequeno, como se meu corpo pudesse aguentar o corpo dele toda vez que decide pular em cima de mim. Como um pássaro gigante, dá duas voltas ao redor de si mesmo, ajeitando as asas com breves batidas e se joga no chão de barriga para cima. 

Eu sei o que ele quer. 

Eu olho a minha volta. Sei que do jeito que ele está, ninguém humano pode vê-lo. Mas podem me ver. E se alguém me ver agora, provavelmente vai achar que estou louca, brincando e falando sozinha com o ar a minha volta. 

Minha vestimenta por si só, já não transparece muita normalidade.

— Aqui não! 

Ele não desiste. Faz  uma birra que nem parece a besta-fera que é, bate as asas no chão mesmo causando um breve e local terremoto, soltando outro gorjeio alto. Revirando meus olhos e sabendo que ele não vai desistir até que eu faça o que quer -culpa minha, eu o mimei demais- me ponho a escalar seus penachos até chegar no topo de sua barriga. Em escala, acho que uma pena dele é uns vinte centimetros maior que eu. 

E eu não sou pequena. 

Quando me sento na barriga dele, lhe afago a quente e preta crosta que se esconde em baixo das longas penas com movimentos largos. A área que cubro com o carinho é pequena, mas mesmo assim ele adora.

— Chega agora, né? — pergunto com um sorriso. Ele gosta tanto do cafuné que eu não consigo não ficar feliz em vê-lo feliz e poderia continuar por muito tempo se não estivessemos em público. — Se alguém me ver vai achar que sou louca e chamar as autoridades locais. Anda, você têm que se transformar. 

Ele faz um som que posso jurar que é ele tentando pedir mais. 

— Não... chega, nesse mundo você tem que se transformar, Anjinho. 

Pulo de cima dele e no chão me afasto um pouco. Ele se coloca de pé. É bizarro assistí-lo se transformar dentre rajadas circulares de um pó negro e vermelho, tornando aquele corpo enorme e assustador num negocinho pequeno e felpudo. 

Concentro minha magia que não é de fada nele, e o ajudo a se transformar.

Um cachorro. 

Bem ao menos é isso o que o meu amigo koll se torna aqui no mundo humano. Ás vezes vira um gato, dependendo do humor dele. De qualquer forma, com o corpo menor eu consigo finalmente abraçá-lo por completo.

E pronto, ele fica todo ouriçado novamente, vindo até mim com suas curtas patinhas. 

Eu o pego no colo. 

— Tá bom, para de me lamber! — ele não para de me lamber. — Chega, Anjo! 

Dei esse nome a ele a conselho de Dona Martinha. Vim algumas vezes com ele para o mundo humano e o fiz copiar a forma de um cachorro que ela tinha e que fora atropelado por um carro. A tragédia a deixou triste, e imaginei que ver o koll num formato que ela conhecia a alegraria de alguma forma. 

Anjo era o nome do cachorrinho Yorkshire dela. Agora com ajuda da minha outra magia, o caçador de fadas conseguia ser a cópia exata dele. 

E assim dessa forma, ele finalmente podia ser visto por humanos.

— Como você me achou aqui, seu safadinho? — pergunto, afanando seus pelos e ele balança o rabo. 

Ele late. Ou tenta. Foi muito difícil ensiná-lo a latir porque eu mal sabia como exatamente. Assim como foi muito difícil ensiná-lo a tomar esta forma. Se não fosse minha ajuda, não creio que poderia transformar-se. 

Na verdade, se não fosse minha outra magia creio que ele já teria me devorado. Quando nos encontramos pela primeira vez entre Viár e a Corte Feróz, ele me perseguiu alucinadamente. Quando finalmente usei ela contra ele, foi como se algum canal de comunicação fosse aberto entre nós. Nos conectamos ali de alguma forma que até hoje não sei explicar com certeza, mas ele parou de me atacar. E desde então sinto que através dela temos alguma afinidade, ele e eu. 

Por mais que tenhamos nos entendido, sua essência não mudou: ele é um perigoso e letal caçador de fadas. E por isso, não pode entrar em Adaris, nem o deixo se aproximar de outras como eu. 

Como por exemplo, de Alexis. 

— Ei... — afago seu queixo, fazendo-o me olhar. — Minha irmã está na cidade. Nada de atacá-la, hein! — admoesto com a melhor cara brava que posso fazer. Ele tenta latir em resposta, mas o som que sai é horripilante. — Por Guendri, Anjinho, você precisa treinar isso.  — ele tenta de novo, não melhorou. Rio da fofa tentativa. — Tudo bem, com o tempo você melhora. Agora sabe o que eu queria saber: de onde você veio? — como veio parar no mundo humano? Teria ele seguido meu rastro? Se eu sumi mesmo por cinco anos, como foi que me encontrou? — Enfim, vamos para a casa da Dona Martinha. Lembra onde é?

Ele dispara a soltar aquelas bizarras tentativas de latidos que não condizem com seu pequeno corpo e pula do meu colo, correndo a minha frente e parando alguns palmos de mim. Quando vou perguntar o que está fazendo, se transforma de volta na imensa e demoníaca besta-fera devoradora de fadas que é, e ali fica. 

Algo dentro de mim me diz que ele quer que eu monte nele, mas que ele não quer me levar para Dona Martinha. 

— Vai me dar uma carona para um lugar surpresa, é? — escalo seus penachos e sento na posição mais confortável possível. Não sei para onde ele planeja me levar mas confio nele. — Tudo bem, me leve. Mas me faz invisível que nem você. — peço. Ele pode fazer isso com o que estiver em contato com seu corpo original. — Não to afim de causar mais comoção no mundo humano do que já causei. 

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n/a. oi? tem alguém ai? kkkkk

ADARISOnde as histórias ganham vida. Descobre agora