L1|| XIV. Céu e Peito Aberto

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É

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É. 

Está tudo acabado mesmo.

Fadas. Fadas!

Existem. 

Com asa, varinha e tudo. Bem, eu não cheguei a ver a varinha. Mas existem. Andando por aí, entre nós. Como nós. Com jardineiras e botas de couro. Meu Deus... que mais não-humano será que existe em nosso meio? O que fazem? O que querem? E mais importante...

Por que querem vir para um mundo tão cagado como este?

Também não sei.

Como é que não estou mais em choque com isso? Como aceitei ajudar duas garotas que nunca vi em minha vida que me contaram uma história insana e nessa cidade gigante cheia de tudo que é gente louca?

E aquelas asas... se falsas, são os efeitos especiais mais bem feitos que já vi. E ao vivo!

No caminho para o escritório, tento por meus pensamentos em ordem.

Começo a duvidar que o tal elixir me fez mais disposta a dar-lhes ouvidos. Elas me dão um soco, me convencem que a bebidinha é só para me curar e pronto! Um plano perfeito para me darem drogas e me fazerem alucinar aquelas asas. E assim, roubarem meus orgãos. Ou qualquer outra coisa terrível que pessoas fazem quando sequestram jovens garotas.

Mesmo assim... eu acredito! Pelo menos por enquanto. Sei que é loucura. Mas agora, acredito em Cali e sua busca pela correção da ordem de seu mundo e sua determinação em salvar sua espécie.

E a dor e solidão que vi em Alexis...  pareceu com a minha. No começo, tinha confundido com arrogância e impaciência. Ela é prisioneira de alguém. Seu pai a abandonou, sua irmã desapareceu e com eles todas suas memórias de tempos melhores... tudo o que conhece agora é tristeza e servidão. Claro que faz sentido ela ser assim.

Um frio me sobe a espinha. Sei bem o que o abandono de um pai ou mãe podem fazer com você. Nada supera, nada substitui. É difícil uma árvore manter-se de pé quando não se tem raízes.

Ao chegar no prédio do trabalho, passo pelo Seu Jair na portaria e seu sorriso simpático. A semelhança entre ele e Flavio é gritante. E eu não gosto de reparar nisso, pois me pergunto se sou parecida com minha mãe ou com meu pai. Olhei a foto deles tão poucas vezes, que a grande verdade é que não me lembro. 

Não é tão dificil me ver por aqui ao sábados. Por outro lado, é raro ver por aqui quem está com o Seu Jair: Doutor Gregório, o clínico-geral que tem uma sala aqui no prédio, alguns andares a baixo do meu. Ontem considerei marcar uma consulta com ele a conselho de Flavio, explicar as dores que sinto quando acordo. Acabei esquecendo e neste momento me sinto tão bem, mas tão bem, que acabo deixando pra lá.

Talvez não precise mais me preocupar com as dores. Talvez peça mais alguns vidrinhos de elixir Adariano para Cali e tudo ficará bem.

Dr. Gregório é, ao menos nas vezes em que o vi, bem mal-humorado. Seu Jair é o unico que o aguenta em todo o prédio e em troca, ele passa horas na portaria conversando com ele. Ele é um médico extremamente bem conceituado. Deve ter uns cinquenta anos, mas exala jovialidade. Acho suas escolhas de vestimentas interessantes para um doutor. Camisas do Kiss, Rolling Stones, entre outras bandas antigas de rock, sempre combinados com um par de calças jeans. Barba sempre por fazer e quase descabelado, nunca, nada que o faça parecer um médico de confiança. Por causa de um infarto no músculo da perna, anda de bengala. Muitas vezes, ele ajuda Flavio com as matérias da faculdade de medicina, e por isso os dois também são próximos.

ADARISOnde as histórias ganham vida. Descobre agora