Na escola, a mochila estava mais pesada. Dentro dela, as roupas bem dobradas e os sapatos brigavam com os materiais por espaço.
Eu estava cansada, acabei cochilando na aula de filosofia e por pouco não fui pega pelo professor. Ficar de detenção não era mais uma opção, então dei graças a Deus por ter escapado ilesa.
Ao fim da aula, fui até o banheiro me trocar. No lugar da calça jeans, camiseta larga e tênis, vieram a camisa social, a saia "lápis" (não entendi o porquê do nome), a meia calça fina e os saltos. Tomei o máximo de cuidado para que ninguém me visse daquele jeito, mas fui pega.
— Srta. Jones? É você? – Perguntou Sr. Kyle, meu professor de geografia.
Praguejei baixo.
— Olá, Sr. Kyle.
— Desde quando usa roupa social?
— Eu tô trabalhando agora. Preciso usar.
— Gostei de ver. – Disse ele, sorrindo.
Dei um sorriso forçado e corri para pegar o ônibus, torcendo o pé a cada 3 passos. Porcaria de saltos.
— Tá certo, nunca mais eu vou vestir essa coisa antes de pegar o ônibus. – Suspirei, em meio aos solavancos.
Chegando em frente à empresa, ajeitei a roupa e os cabelos, mostrei o crachá de identificação para os seguranças e entrei. Tony Stark estava falando algo com a recepcionista e, ao me ver, disse:
— Ah, agora sim. Como se sente, Srta. Jones?
— É pra parecer culta ou ser sincera?
Ele riu, entendendo. Sorri e fui até o elevador. Quando cheguei em minha sala, comecei logo a trabalhar.
Eram pouco mais de 16h. Eu estava em pé analisando o mapa de Nova York emoldurado na parede, tentando criar ligações entre os últimos acontecimentos no Brooklyn e o resto da cidade, quando bateram na porta.
— Entre. – Falei, sem tirar os olhos do mapa.
Ouvi passos lentos se aproximarem, até alguém parar alguns passos atrás de mim. Virei-me e, Deus do céu, seria pedir demais apenas um dia de sossego?
Peter olhava para mim sem esboçar muita reação. Fiquei olhando para ele, esperando, até que me cansei e perguntei:
— O que foi agora?
— Ahn... O-Oi Helena. Eu vim aqui pra... – Tossiu, aparentemente nervoso – Você tá bonita de roupa social.
— Obrigada. – Disse, sendo o mais paciente possível com o jeito bobo e tímido de Peter. Ele respirou fundo e, em um instante de coragem, perguntou:
— Helena, o que vai fazer amanhã depois do trabalho?
Franzi o cenho. Não. Não era possível.
— Peter, eu tô trabalhando.
— Se não tiver compromisso, o que acha de irmos até a lanchonete que foi inaugurada essa semana? Ouvi falar bem de lá.
— Você tá me chamando pra sair?
— Sim. Não! É. Eu... Como amigos. Não me leve a mal.
— Olha, me desculpa, mas eu...
— Qual é. Não vai ser tão ruim.
Segurei em meu colar, indecisa. Pensei por alguns segundos sob o olhar ansioso de Peter, que já estava me deixando nervosa, até que suspirei e perguntei:
—... Se eu disser que sim, você me deixa trabalhar em paz?
— Sem mais interrupções. – Ele ergueu as mãos em ato de rendição.
— Ótimo.
— Pera. Então isso é um sim?
Fiz que sim com a cabeça.
— Ah. Uau! Então... Vamos direto ou prefere que te pegue na sua casa?
Se minha mãe me visse saindo com um garoto, ficaria no meu pé até o fim. E eu não estava afim de ficar aguentando histórias de namorado.
— Vamos direto. É melhor.
— Ótimo. Então... Até amanhã!
Ele deu um sorriso bobo e saiu. Acho que meu sim foi algo inesperado não só para mim, mas para ele também. O que eu tinha na cabeça?
Sentei e tentei voltar ao raciocínio, em vão. A idiotice que eu havia acabado de fazer ficava ecoando em minha mente. Por que eu havia aceitado? Não havia sentido naquilo. Respirei fundo e forcei-me a focar no trabalho.
Ao chegar em casa, tomei um banho quente, jantei e passei um tempo com minha mãe.
— E então – Começou ela – Tem garotos bonitos por lá?
Ela parecia adivinhar os piores momentos para começar certos assuntos.
— Mãe!
— O quê? Eu sou curiosa.
— Ah, eu ainda não conheço bem o pessoal, mas tem um ou outro cara bonito.
— Algum pretendente?
— Pensando no fato de que quase todos ali tem mais de 30, acho pouco provável.
— Hahaha quem sabe alguma exceção ali não te conquista.
— Difícil.
— Acho que ainda é cedo pra dizer. – Ela sorriu.
Lembrei-me de meu "ilustre" compromisso do dia seguinte e pensei em contar a ela, mas não queria ouvi-la perguntar de Parker todos os dias como sabia que faria, então decidi me calar.
— Meus pés estão doendo. – Mudei de assunto.
— Por causa dos saltos? Com o tempo você se acostuma.
— Espero. Parece que eles foram esmagados por um elefante.
— Que exagero. – Ela riu.
Gostava de fazer minha mãe rir. Era algo que me fazia bem. Enquanto ela ria parecia, pelo menos por um instante, que estava livre dos problemas.
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I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...