Na manhã seguinte, quando acordei, não demorei a ir tomar café, pois estava com fome. Na sala, minha mãe assistia ao noticiário, e uma frase dita me fez quase derrubar a xícara.
"E ontem, por volta das 19h, um assalto foi flagrado na região do Queens, e o herói conhecido como Homem Aranha apareceu para intervir.", disse o apresentador, com o ar sensacionalista de sempre.
Fui até a sala e comecei a assistir também, com medo de terem flagrado algo que nos comprometesse.
— Bom dia. – Disse minha mãe.
— Bom dia.
— Desde quando vê jornal?
— É pra aula de atualidades. – Inventei.
Assisti à reportagem, tensa. O que eu diria para minha mãe caso alguma câmera tivesse flagrado a mim?
Após as informações serem passadas, mudaram a notícia, e eu suspirei aliviada. Não havia nenhuma imagem nem nada que pudesse comprometer.
Passei o domingo todo criando um mapa com os pontos de incidência dos crimes e relações entre os desaparecimentos, as datas e todos os dados possíveis.
Na segunda feira, a manhã foi agitada. Mal cheguei em meu armário, Sofia chegou com o que parecia um interrogatório, de tantas perguntas.
— Olá, Jones.
Quando Sofia me chamava de Jones, sabia que iria ouvir.
— Bom dia, Sof.
— Quer me contar alguma coisa?
— Acho que não.
— Estava ocupada no sábado? Ou deixou de sair com a gente pra ler de novo?
Suspirei.
— Tinha um compromisso marcado.
Sofia ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— Compromisso?
— Sim.
— Aposto que ficou lendo o dia todo.
— Já falei, Sof. Passei a tarde toda fora ontem.
— Tá difícil de engolir essa sua história, Helena.
— É sério. Eu já tinha marcado com o Peter na quinta e...
— O quê? Você saiu com o garoto???
Fiquei muda, praguejando mentalmente por ter citado o nome de Parker na conversa.
— Responde, Helena! Você saiu com ele?
— É, mas não é o que você tá pensand...
— Eu não tô acreditando! Vocês estão juntos? Vocês estão juntos e você não me contou?
— Quê? Não! Eu...
— Bom dia, meninas. – Charlie chegou. Agora não faltava mais nada.
— Charlie! Você não vai acreditar no porquê da Helena não ter saído com a gente sábado! – Disse Sofia, elétrica.
— Ficou lendo de novo? Ou desenhando?
— Ela saiu com o Peter!
— Peter?
— É! O garoto que eu te falei. Que levou ela até a casa dela depois do café.
— Sofia! – Exclamei. Ela havia contado tudo para Charlie?
— Tá namorando, Lena? – Perguntou Charlie, num sorrisinho.
— Não! Eu não t...
— Ela tá! Só não admite.
— Sofia! – Exclamei, brava.
— Quando vai apresentar seu namorado pra gente? – Perguntou Charlie, provocando.
— Mas eu não...
— É verdade. Quero conhecer ele.
— Meu Deus do céu! Eu e o Peter somos só amigos! Não tem namoro! Não tem nada! Nada!
Saí, já irritada, e fui para a sala. Odiava quando ficavam supondo situações e não me deixavam falar. Mas que inferno!
As aulas foram produtivas. Como estava irritada, não consegui sequer sentir sono, e me forcei a realizar todos os cálculos e acertar todos. Manias estranhas provocadas pela raiva...
Ao fim da aula, guardei um livro no armário e saí. Quando passei do portão, fui agarrada pelo braço. Era Luke. Ele me prensou contra o muro, dizendo:
— Aí, Helena. Eu andei pensando sobre a gente, e eu topo tentar de novo.
— Eu não voltaria com você nem se fosse o último cara do planeta. – Soltei, enojada.
— Não tem problema. A gente pode ter um lance mais aberto. Confesso que seria até melhor pra mim.
— Sai da minha frente, vai, Luke. Eu tô atrasada.
— Vem cá. Eu vou fazer você mudar de ideia! – Disse ele, e inesperadamente tentou me beijar.
Atingi um soco em sua boca, já sem paciência alguma.
— Sai da minha frente! – Repeti, num tom mais alto.
Luke me fuzilou com o olhar e, cheio de raiva, segurou meu pulso com força.
— Eu tô perdendo a paciência, Helena! – Ele disse, com o rosto próximo ao meu.
— Solta ela! – Ouvi.
Luke e eu viramos, surpresos, e percebemos que não estávamos sozinhos. Quando vi o traje vermelho e azul, não sabia dizer se estava brava ou aliviada. O "destemido" Homem Aranha estava ali.
— Que isso? Quem é você, cara? – Perguntou Luke.
— O Homem Aranha.
Ele franziu o cenho numa careta, dando a entender que não o conhecia.
— Homem Aranha. O herói. O cara das teias. Não? Nada?
Luke balançou a cabeça, negando.
— Tá cada vez mais difícil ganhar reconhecimento hoje em dia. – Reclamou o herói.
— Foi mal, cara.
— Não, tudo bem.
— Aí, Aranha. Pode ir. Tá tudo sob controle aqui. – Falei, tentando me soltar das mãos de Luke.
— Hmm... Não, acho que não. – Disse o Aranha, observando minha falha tentativa.
— Espera! Acho que conheço você! Você é o cara do Youtube, não é? – Disse Luke, ainda segurando meu pulso.
— Ah, viu só! Eu tô sempre por aí.
— Alôôôu? Se as madames forem continuar a fofocar, me avisem. Tenho horário. – Falei, impaciente.
— Ah, é! Desculpa. – Disse Peter.
Em menos de um segundo, ele acertou um soco no rosto de Luke, que acabou me soltando com o impacto.
— Corre, Helena! – Exclamou.
YOU ARE READING
I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...