Capítulo 49

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— Helena...

— Eu tô falando sério, Peter. Fiquei preocupada.

Ele olhou para mim com ternura, os olhos quase se fechando de exaustão.

— Eu tô legal. – Disse ele.

— Dá pra ver. – Retruquei, apertando a gaze contra um corte em seu peito e fazendo-o morder o lábio inferior e jogar a cabeça para trás, fechando os olhos por conta da dor.

— Eu entendo que é seu trabalho como herói, mas pra ajudar os outros você precisa estar vivo. – Minha voz já não continha raiva, mas receio.

Passamos alguns instantes em silêncio, até que Peter resolveu falar:

— Tava mesmo preocupada comigo?

— Por que a surpresa? Eu sou tão fria e cruel assim? – Perguntei, sem tirar os olhos do que fazia.

— Porque você simplesmente não tá olhando na minha cara desde ontem.

Merda! Eu sabia que cedo ou tarde esse assunto viria à tona, mas não esperava que fosse tão cedo assim. Olhei para ele tentando formular uma resposta decente, sem obter sucesso. Joguei a gaze no lixo, fechei a maleta e levantei-me para ir guardá-la, dizendo:

— Peter, descansa. Vai dormir e amanhã conversamos sobre isso.

— Por que você sempre foge quando não quer falar sobre alguma coisa?

Parei onde estava. Peter estava me enfrentando? Eu não sabia dizer se estava mais indignada com essa afronta ou mais em pânico com a situação. Senti mil borboletas no estômago e por um segundo cogitei a ideia de simplesmente sair correndo.

Coloquei a maleta sobre a escrivaninha e apoiei-me na mesma, ficando de costas para Peter e respirando fundo. Eu normalmente partiria para a briga ao ser enfrentada dessa maneira, mas Peter fazia eu me sentir um tanto vulnerável.

— O que eu deveria fazer? – Perguntei, ainda de costas para ele.

— Que tal, só dessa vez, você enfrentar o problema? Ou vai me mandar sair, como você sempre faz?

Olhei para ele incrédula, franzindo o cenho. Peter não pareceu hesitar e continuou olhando fixamente em meus olhos, sustentando meu olhar com igual seriedade. O garoto tímido e assustado já não estava ali, mas sim um rapaz decidido e determinado que parecia não ter medo de pôr as cartas na mesa.

Desviei o olhar, tensa. Dando-me por vencida, sentei ao seu lado na cama e disse, após um suspiro:

— Ótimo. Vamos enfrentar o problema então.

Peter engoliu em seco e perguntou, olhando fixamente para mim:

— Por que me evitou o dia todo?

— A noite de ontem não foi uma das mais comuns.

— Mas não foi tão ruim assim.

— E o que te faz pensar isso?

— Se você não quisesse, teria me parado.

Xeque-mate! Como negar um fato? Foi então que percebi que aquilo não era um blefe. O garoto realmente sabia o que estava fazendo.

Olhei para ele. Se eu não o conhecesse tão bem, diria que a confiança em sua voz era inabalável. Ainda assim, me senti encurralada.

— Você tem me evitado desde que nos conhecemos. Sempre que tento me aproximar, dar mais um passo, você recua ou me impede, mas você nunca deixou de estar aqui. Eu nunca consigo entender se você me quer por perto ou não.

Ele parou, provavelmente esperando uma resposta, mas eu permaneci no mais absoluto silêncio. Peter suspirou e prosseguiu:

— Eu só quero entender você. Eu quero saber como devo agir sem que você fique brava comigo ou que se afaste e me deixe paranoico pensando onde foi que errei. Abre o jogo, Lena. Eu não aguento mais esse campo minado que é minha relação com você.

Não havia escapatória. Não havia como disfarçar, nem mesmo desculpas para dar. Eu teria que abrir o jogo, e só Deus sabe o quão difícil esse momento estava sendo para mim. Dei um longo suspiro e perguntei:

— Você quer a verdade?

— Quero.

— A verdade, Peter, é que eu tô confusa. Sabe... Você apareceu do nada com esse seu jeito doce e meio atrapalhado, sempre procurando uma desculpa pra me ver ou falar comigo, e isso me deixou completamente desarmada. E não era pra isso acontecer. Eu odeio o jeito como eu me sinto vulnerável quando tô com você, como não consigo simplesmente mandar você cair fora e ficar numa boa, porque eu sinto sua falta. Mas eu não deixo você se aproximar porque eu tenho medo.

— Medo?

— Eu tenho medo porque sempre que alguém é importante pra mim, eu acabo perdendo esse alguém. Meu pai morreu antes de eu nascer, quando minha mãe ainda tava grávida; meus avós morreram meses depois que minha mãe ficou doente; o único cara pra quem eu tive coragem de me abrir e assumir meus sentimentos me traiu dois meses depois, e agora eu perdi a única pessoa que eu tinha, que era minha mãe. Eu atraio destruição, Peter. E eu não quero que você se aproxime porque eu não vou aguentar perder mais ninguém... Não outra vez.

As palavras saíam mais rápido que meus pensamentos pudessem controlar, e uma lágrima escorreu sobre meu rosto. A maldita vontade de chorar havia me pego de jeito, mas eu segurava o quanto podia, sentindo a garganta arder. Peter olhava para mim desconcertado, e eu me sentia extremamente ridícula.

Ele secou minhas lágrimas e segurou meu rosto gentilmente, fazendo-me olhar para ele.

— Você não atrai destruição, Lena. E você não vai me perder. – Ele sussurrou.

— Como você pode ter certeza? – Tirei sua mão de meu rosto – Peter, você vive enfrentando pessoas armadas, explosões e situações de risco todos os dias. Olha pra você! Tá todo machucado, poderia até ter morrido!

— Morrido? Ah, Lena... Você não vai se livrar de mim assim tão fácil. Se eu morrer, quem vai ficar atrapalhando você no trabalho, te provocando e fazendo você revirar os olhos?

Suspirei e olhei para o chão.

— Eu tô aqui, Lena. Não vou te deixar.

— É um pouco mais complicado que isso.

— Então me explica.

I (don't) Need a Hero!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora