Capítulo 82

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— Antes de irmos, preciso me certificar de que você não vai ver nada. – Disse Peter, tirando do porta-luvas uma venda preta.

— Ah, não. Sério?

Ele sorriu pacientemente, esperando. Revirei os olhos e os fechei em seguida, permitindo que ele amarrasse a venda. Como era horrível não ter o controle da situação.

Já vendada e sem enxergar absolutamente nada, senti quando Peter ligou o carro e começou a dirigir.

— Posso fazer uma pergunta? – Indaguei.

— Pode.

— Desde quando você dirige?

— Há um mês, mais ou menos.

— E por que não me contou?

— Porque eu sabia que chegar dirigindo e ver sua reação de surpresa seria imperdível. E foi.

— Engraçadinho você.

Pude ouvi-lo rindo suavemente. Continuamos rodando e eu já estava ficando entediada e nervosa por não saber para onde estávamos indo.

Após um certo tempo, o garoto parou o carro e desligou o motor. Havíamos chego. Ele abriu a porta do carro e saiu. Um instante depois, a porta do meu lado foi aberta.

— Dá sua mão. Vou guiando você. – Disse ele, segurando minha mão e ajudando-me a sair do carro.

Ao pôr meus pés no chão, percebi que estava pisando em grama. Grama? Para que raio de lugar Peter estava me levando? Fui caminhando receosa, sendo guiada pelo garoto, que em momento algum soltou de minha mão.

— Agora é a parte difícil. – Disse Peter, colocando minha mão sobre um corrimão de madeira – Preciso que você suba essa escada.

— O quê? Subir vendada? Eu vou me espatifar no chão!

— Se preferir eu te puxo com a teia.

— Onde é o primeiro degrau? – Indaguei, dando a entender que a teia não era uma opção. Peter riu.

Suspirei, tensa. Não gostava da ideia de fazer as coisas sem enxergar.

— Peter, eu não…

— Confia em mim?

Não respondi. Era óbvio que eu confiava. Dando-me por vencida, ergui uma perna e tentei encontrar o primeiro degrau. Subindo um pouco as mãos e, segurando firme, dei impulso e subi para o segundo degrau. Que tarefa difícil era subir uma simples escada, meu Deus. Após alguns escorregões, uma quase queda e alguns palavrões, consegui chegar ao que parecia ser o topo daquele lugar.

— Tá, e agora? – Perguntei, me colocando em pé.

— Acho que agora já posso tirar sua venda.

Peter aproximou-se e desamarrou a venda que cobria meus olhos, revelando algo que eu jamais imaginaria.

Estávamos no que parecia uma casa na árvore. Chão e paredes de madeira clara, iluminada com luzinhas de natal que foram espalhadas pelo local. Havia um canto repleto de almofadas, formando quase um colchão de retalhos, e uma janelinha aberta, com vista para as luzes da cidade.

— Que lugar é esse? – Perguntei, encantada.

— Encontrei essa casinha abandonada há um tempo, quando impedi um assalto aqui perto. Gostei dela, então dei uma ajeitada e acabou virando um cantinho que eu chamo de meu. Você é a única pessoa que sabe disso além de mim.

Olhei em seus olhos sem saber o que dizer. Para Peter, ter um lugar só para si devia ser quase como uma salvação, e ele estava compartilhando aquilo comigo, fazendo de seu “eu” um “nós”.

— E então? – Perguntou ele, na expectativa – O que achou?

— É lindo! Melhor do que qualquer outra coisa que eu pudesse imaginar.

Peter sorriu, envolvendo-me em seus braços. O calor e aconchego daquele abraço era o único lugar onde eu queria estar.

— E quais seus planos pra essa noite? – Perguntei, olhando em seus olhos.

— Bom, pensei em termos um tempinho só pra nós. Depois de tudo o que aconteceu e com toda a correria que nós dois vivemos diariamente, é quase impossível conseguir um tempo a sós com você.

— Bom, isso é verdade. Sou obrigada a concordar que o Homem Aranha e a filha do Tony Stark não têm uma agenda lá muito vazia.

— E isso acaba tirando muitas oportunidades. Qual foi a última vez que você parou pra olhar as estrelas?

Olhei para Peter com a testa franzida e dei uma risadinha.

— Ah, não me olha assim! Vai dizer que em dezesseis anos você nunca parou e ficou olhando as estrelas, Lena?

— Algumas vezes… Mas já faz um bom tempo. – Refleti, percebendo o quão atarefada eu realmente andava, a ponto de não ter tempo de fazer coisas simples como essa.

— Acho que temos uma oportunidade. – Disse ele, apontando com a cabeça para o amontoado de almofadas.

De início não entendi, até subir meu olhar e perceber que no teto daquela pequena casa havia uma abertura, como uma janela fechada com um vidro, dando visibilidade ao céu limpo daquela noite de outono.

Peter deitou sobre as almofadas e olhou para mim, esperando eu fazer o mesmo. Fui até ele e me deitei também, olhando as estrelas pela “janela” que havia sobre nós. Apesar do céu de Nova York sem bem escuro por conta da poluição, aquele lugar, por ser um pouco afastado, permitia uma visibilidade melhor. Após tanto tempo, eu estava deitada olhando as estrelas, sem me preocupar com nada.

— É isso que você faz quando some por aí? – Perguntei.

— Não… Geralmente eu tô impedindo crimes, ataques e problemas pela cidade. Mas de vez em quando dou uma passadinha aqui pra respirar.

— Ter uma vida dupla não deve ser nada fácil.

— Não é, mas eu tenho um motivo pra continuar firme.

— Que seria…?

— Você.

Olhei para Peter. Seus olhos estavam cravados aos meus, um olhar penetrante a ponto de parecer poder enxergar a alma.

I (don't) Need a Hero!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora