Capítulo 33

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6h. O despertador tocou impiedosamente, como fazia todos os dias. Levantei, sentindo o peso de meu corpo arrastando-se pelo chão. Após estar vestida, com o cabelo decente para sair na rua e de ter tomado café, saí rua afora a caminho do colégio.

Apesar de não ter dormido nada na noite anterior, não sentia sono, apenas cansaço físico, o corpo pesado.

Cheguei no colégio e percebi uma grande agitação nos corredores. Sem entender nada, fui até meu armário como todos os dias, não dando muita importância para a algazarra a meu redor.

— Bom dia, Lena. – Disse Sofia, chegando ao meu lado.

— Bom dia. Que bagunça toda é essa?

— Não ficou sabendo? Parece que o pai do Tyler Watson foi atacado por uma gangue e desapareceu! A galera tá falando que ele foi sequestrado, mas até agora ninguém ligou pedindo resgate.

Sequestrado? Essa história me cheirava a outra coisa...

Passei a manhã relutando contra a tentação de dormir nas aulas, enquanto me esforçava para manter o foco. As aulas se arrastavam uma após a outra, e nada do que os professores diziam parecia fazer sentido. Eu realmente precisava dormir.

Sofia iria para a Itália nesse mesmo dia, pois a confusão de sua família parecia ter cessado, e ela finalmente poderia voltar para seus passeios e seus crushs italianos loiros de olhos azuis. Esse foi o assunto durante toda a aula.

Quando cheguei na empresa, havia gente andando para todo lado.

— Hoje é dia... – Falei para mim mesma, sentindo que a movimentação parecia me perseguir.

Fui para minha sala, esquivando-me de funcionários apressados que andavam com tablets, pastas e grandes montes de papel. Assim que fechei a porta de minha sala, lembrei do que diziam a respeito do garoto de meu colégio. Eu tinha certeza de que havia sido obra daquela gangue. Estava separando alguns arquivos, quando bateram na porta.

— O Sr. Stark pediu os arquivos sobre o ataque do dia 15... – Disse Peter, abrindo a porta.

Sem responder, peguei a pasta com os documentos e estiquei o braço para entregar a ele. Peter veio até a mesa, pegou a papelada e ia saindo, quando parou e virou-se para mim, perguntando:

— Helena, qual é o problema?

— Problema nenhum. – Respondi, sem olhar para ele.

— Para, Helena.

Olhei para ele, séria. Não estava com cabeça para discutir. Peter encostou a porta e continuou, aproximando-se novamente de minha mesa:

— Tava tudo indo tão bem! A gente tava trabalhando junto, e agora que finalmente resolveram agir no caso, você tá estranha. Eu não tô entendendo.

— Você conseguiu o que queria. Pode parar de fingimento agora. – Respondi, seca.

— O quê? Como assim?

— Para de se fazer de tonto, Peter! Deu certo. Você conseguiu chegar onde queria. Vai logo e para de ser falso! – Irritei-me.

— Falso? Por que eu seria falso com você? – Ele realmente parecia confuso.

— Continua fingindo que não entende, não é?

— Eu realmente não tô entendendo mais nada, Helena! Você se fecha do nada! Fica brava comigo e eu nem sei por quê! Eu nunca sei!

— É, Peter. Você nunca sabe de nada. – Ironizei, brava.

— Lógico que não! Você nunca me deixa saber! Tudo o que sei sobre você tive que descobrir por mim mesmo!

— "Tudo" o que sabe? Você não sabe nada sobre mim!

— Eu posso não saber tudo, Helena. Posso não saber seus segredos ou o que se passa aí dentro. Mas eu sei algumas coisas sobre você, sim.

Balancei a cabeça negativamente, olhando para o lado.

— Eu sei que você fica mexendo no pingente da sua correntinha quando tá nervosa. Sei que se inspira no Sr. Stark porque antes de ser um herói ou um bilionário, ele é um inventor e nunca se acomodou no que faz, sempre buscou saber mais. Sei que suas bochechas ficam rosadas quando você recebe um elogio, e que você geralmente não sabe como reagir. Sei que você desvia o olhar quando esconde algo, porque não aguenta mentir olhando nos olhos de alguém. Eu sei que você é linda, Helena, e tem um caráter incrível, mas que tenta esconder quem é por insegurança, porque acha que não é boa o suficiente. Mas você é.

Olhei para ele, perplexa. Ele havia reparado em todas essas coisas? Eu estava confusa, agindo na defensiva.

— Isso não significa nada.

— Ah não? Bom, talvez eu realmente não saiba nada sobre você, não é? Talvez o cara da lanchonete te conheça bem melhor que eu. Talvez seja por isso que você tem me evitado tanto.

— O quê? Que cara da lanchonete?

— O loiro que estava com você e uma garota ontem. Que pegou na sua mão.

— Charlie é meu amigo, Peter. Isso não tem nada a ver com ele.

— Não tem como saber, não é? Eu não sei nada sobre você. – Ironizou ele, irritado.

Sentindo o sangue subir, exclamei:

— Para com isso! Você não me conhece, Peter! Não sabe nada da minha vida, não sabe pelo que eu passo! Você não tem o direito de falar assim de mim!

— Então por que você não fala? Hein? Me fala o que você tanto esconde, Helena! Me fala! O que pode ser tão ruim na sua vida a ponto de te fazer ser assim tão fria? – Ele já estava quase gritando, nervoso.

— Você quer mesmo saber? Ótimo! A minha mãe tá com câncer e ontem eu recebi a notícia de que o tumor se espalhou pelo corpo! Ela tem pouquíssimo tempo de vida! A minha mãe tá morrendo! Ela tá morrendo e eu não posso fazer nada! – Gritei.

Eu já estava segurando as lágrimas. Peter olhava para mim sem reação.

I (don't) Need a Hero!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora