Capítulo 42

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Ao deitar a cabeça no travesseiro, fechei os olhos e suspirei. Acomodei-me confortavelmente na cama, até perceber a triste realidade: eu não estava com sono. Estava cansada fisicamente e mentalmente, mas não conseguia dormir.

— Merda... Vamos lá, Helena. Não é hora de ficar acordada. Já são... – Peguei meu celular para ver as horas e surpreendi-me ao ver que não eram nem 23h30 – ... Menos de onze e meia. Legal...

Fiquei olhando para o teto pelo que pareciam ser horas, e nada de conseguir dormir. Olhei as horas no celular novamente.

— Onze e quarenta? Sério?

Virei para o lado. Já estava começando a ficar irritada. Talvez ler me dê sono, pensei. Acendi a luminária e peguei meu livro, abrindo na página onde havia parado da última vez.

A história baseava-se em um assassinato, e continha alguns acontecimentos considerados sobrenaturais. Os personagens principais estavam sob grande perigo, e cada página fazia meu coração bater mais forte.

Percebi que o livro estava atrapalhando ainda mais minha busca pelo sono, pois a cada acontecimento eu ficava mais acordada e atenta. Por fim, decidi interromper a leitura e novamente tentar dormir. Já havia passado quase uma hora, talvez agora eu conseguisse descansar.

Após algum tempo consegui, finalmente, pegar no sono.

Sempre sonhei bastante. Sonhos sem sentido, sem uma ordem lúcida de acontecimentos ou mesmo de raciocínio, mas desta vez fora diferente. Eu estava em um quarto escuro, sozinha. Estava assustada e com medo, até que ouvi a voz de minha mãe. Eu procurava e chamava por ela, mas não a encontrava. Ela dizia que o tempo estava acabando e eu não conseguia entender. Encontrei, então, um interruptor e acendi a luz do local. Ao olhar para o chão, o desespero tomou conta de mim. Minha mãe, Tony, Peter, May, Charlie, Sofia. Todos mortos. Os corpos estendidos no chão sujo de sangue. Eu gritava e tentava sair dali, mas a porta estava trancada. Não havia saída. Não havia saída. Não havia saída!

Acordei desesperada, debatendo-me e chorando muito. Encolhi-me no canto da cama, tremendo.

— Helena? O que aconteceu?! – Perguntou Peter, aparecendo na porta do quarto assustado.

Eu cobria a boca com a mão. Não conseguia falar ou mesmo respirar, apenas chorava e tremia.

— O que aconteceu? – Ouvi May perguntando, em meio ao som de meus próprios batimentos que ecoavam em minha cabeça.

Vi os dois conversando, mas já não entendia mais nada. Tudo passou a ser um borrão indefinido em meio ao barulho insuportável dentro da minha cabeça.

Peter sentou ao meu lado e May trouxe um copo com água. Os dois esperaram que eu me acalmasse e bebesse, para então perguntarem:

— Você está bem?

Respirando com mais facilidade e tentando não gaguejar, respondi:

— Acho que sim.

— Eu fico aqui até ela se acalmar, May. Pode ir dormir. – Disse Peter.

May fitou-o com um olhar preocupado e ele sorriu, tranquilizando-a. Por fim, ela cedeu. Deu um beijo de boa noite em cada um de nós e foi dormir.

— Tá mais calma? – Perguntou ele, assim que May saiu do quarto.

— Acho que sim.

— Foi um pesadelo?

Fiz que sim com a cabeça, tentando não lembrar das cenas horríveis que passavam como flashs em minha mente.

— Tá tudo bem agora. Tô aqui com você. – Disse o garoto, pousando a mão sobre meu ombro.

— Pode ir descansar, Peter. Eu tô legal. – Tentei bancar a forte.

— O quê? E te deixar sozinha depois do que aconteceu? Sem chance. Vou ficar aqui com você até você dormir.

— É sério, você não precisa fazer iss...

— Será que dá pra parar de bancar a durona? São 3h da manhã. Não é hora disso. – Ele me interrompeu. Calei-me, sem reação.

Ele passou a mão levemente por meus cabelos e disse, quase num sussurro:

— Deixa eu cuidar de você.

Olhei para ele por alguns instantes, e acabei cedendo.

— Promete que vai descansar depois?

— Prometo. Deita aí. – Ele sorriu, indo apagar a luz.

Deitei e me cobri, enquanto Peter sentou na beirada da cama e ficou acariciando-me levemente, como minha mãe fazia quando eu ficava mal. Aquilo mexeu muito comigo, e não consegui conter as lágrimas. Tentei não deixar Peter perceber que eu estava chorando, mas ele ouviu o chiado de meu nariz entupido.

— Ei, tá chorando? – Ele perguntou, tentando ver meu rosto.

— Não. – Menti, com a voz embargada.

— Vem cá.

Sentei-me na cama ao lado de Peter, que me abraçou. Após soltar-me, ele recostou-se levemente e eu apoiei a cabeça em seu peito, ainda soluçando. Conforme Peter me acariciava de maneira tão suave, fui ficando sonolenta. Seu peito quente trazia-me conforto, e o suave perfume em sua camiseta agia como um anestésico, deixando-me cada vez mais relaxada. Adormeci e não tive mais sonhos. A noite fora calma e tranquila.

Ao acordar pela manhã, senti o perfume de Peter e sorri. Deve ter ficado no meu travesseiro, pensei. Aconcheguei-me, a fim de tentar dormir mais um pouco, quando percebi que havia algo errado.

Abri meus olhos e percebi que não estava sozinha. Peter ainda estava ali, e dormia profundamente. Por um instante, cheguei a admirar o quão doce ele era até quando dormia, e então caiu a ficha. Peter havia dormido ali?

— Ai meu Deus! – Exclamei, quase pulando da cama.

Peter se assustou e instintivamente rolou para trás, caindo da cama.

— O quê? O quê? – Perguntou ele, levantando-se totalmente confuso, com os olhos ainda entreabertos.

— Você dormiu aqui???

Peter olhava para mim tão espantado quanto eu. Ambos confusos, com o rosto inchado por acabar de acordar e levemente descabelados. Ele olhou em volta e, percebendo que estava em meu quarto, arregalou os olhos e franziu os lábios.

I (don't) Need a Hero!Where stories live. Discover now