Capítulo 87

6.2K 622 662
                                    

Ao levantar na segunda-feira para ir para a aula, estava apreensiva. Eu já não me sentia tão enjoada, mas estava com dor de cabeça e completamente paranóica. Charlie pareceu perceber que eu não estava bem, e perguntou delicadamente:

— Lena, tá tudo bem? Você parece nervosa.

— Tudo bem, sim.

— Lena, como você tá? Tá enjoada ainda? – Perguntou Sofia, chegando no meio de nós. 

— Enjoada? – Perguntou Charlie.

— É, eu não estava muito bem esse fim de semana. – Respondi, visivelmente nervosa.

Charlie olhou para mim com seu típico olhar de "precisamos conversar", e eu entendi o recado. Sofia entrou para a aula, e ao invés de entrar também, fui com Charlie até a famosa arquibancada onde sempre conversávamos quando o assunto pedia privacidade.

— Tá legal, o que tá rolando? – Perguntou ele.

— Longa história.

— Bom… Eu não me importo em perder aula de filosofia e sei que você também não, então acho que temos tempo.

Sorri. Charlie me conhecia muito bem. Era como um irmão pra mim.

— Certo… bom, na segunda-feira passada eu…

Contei para Charlie sobre o encontro da semana anterior, sobre tudo o que rolou, sobre meu enjoo na sexta-feira e a hipótese levantada por Sofia que havia me deixado de cabelo em pé. Charlie ouviu tudo atentamente sem me interromper e esperou que eu concluísse a história para abrir a boca:

— Tá, então a conclusão de tudo isso é que você tá com medo de estar grávida?

— Basicamente. – Encolhi os ombros.

— Olha, Lena… Eu não sou expert no assunto, mas acho que demora mais que uma semana pra passar mal quando se está grávida. E outra, se vocês usaram camisinha é muito difícil acontecer.

— Eu sei, mas é mais fácil pôr isso na cabeça quando não se está apavorada.

— Relaxa. Vai ficar tudo bem. Logo você vem toda estressada sem motivo e dando patada em todo mundo, e vamos ter a certeza de que é sua TPM monstruosa chegando.

Sorri, um pouco mais calma. Era muito bom ter Charlie para conversar e desabafar. Ele sempre quebrou o desespero que Sofia muitas vezes criava com seu jeito… Intenso de ser e pensar.

Passei a aula toda pensando nisso e repetindo para mim mesma mentalmente que não havia como que me preocupar, e estava com tudo sob controle, até Sofia perguntar:

— Você já contou pra ele?

— O quê?

— Pro Peter. Já falou que tá passando mal e… – Percebi que a frase não acabava aí, mas ela se deteve.

— Não. Não é nada. Não quero preocupar Peter com bobagens.

Sofia fitou-me por um instante, até que deu de ombros, se despediu e foi embora. Pronto. Eu já estava paranoica novamente.

Passei em frente a uma farmácia no caminho para o ponto de ônibus, e tudo o que me veio em mente foi comprar um teste de gravidez.

Chegando na empresa, entrei em minha sala e respirei fundo, tentando manter a calma. Bateram à porta, e minha voz falhou quando fui dizer que podiam entrar.

— Tudo bem aí? – Perguntou Peter, entrando e fechando a porta.

— Oi. Tudo sim. Como foi a aula? – Perguntei, tentando não demonstrar nervosismo.

— Foi tudo bem, sem grandes novidades. Tem certeza de que tá bem?

— Sim… Por quê?

— Porque eu te conheço. Você tá vermelha e sua voz tá falhando. Você tá segurando o choro?

— N-não…

— Tá sim. O que aconteceu? – Perguntou ele, abraçando-me.

— Nada. Não acordei bem, só isso.

— Lena, se estamos juntos agora, não pode ter segredo entre a gente. Você sabe meu maior segredo, e pra isso funcionar preciso que me fale as coisas.

Fechei os olhos e afundei o rosto em seu peito. Eu não ia falar nada. Não até que tivesse alguma confirmação.

— Deve ser TPM. – Falei.

Peter passou a mão por meus cabelos e me deu um beijinho no topo da cabeça.

— Tem algo que eu possa fazer? Posso comprar um chocolate, se quiser. – Disse ele, sem jeito.

Sorri. Peter era a pessoa mais doce que já havia conhecido.

— Não se preocupa, vou ficar bem. – Tranquilizei-o, com um sorrisinho.

Peter suspirou, provavelmente me achando uma grande teimosa. 

O resto do dia pareceu se arrastar, e a única coisa que martelava em minha mente era o medo.

Chegando em casa, guardei minhas coisas. Estava sentada no sofá assistindo a um programa qualquer na televisão, quando Tony disse da porta:

— Estava pensando em irmos jogar boliche agora. O que acha?

— O boliche não abre de segunda. – Respondi, distraída.

— É mesmo? Interessante. – Disse ele, aproximando-se – Então será que pode me dizer onde você e o Peter realmente estavam na segunda-feira passada?

Arregalei os olhos, paralisada. Merda!

— Ahn… Onde nós estávamos? Bom, nós… – Gaguejava, tentando encontrar uma resposta que não sentenciasse minha morte.

— E já que vai me explicar onde estavam, aproveita e explica isso aqui, Helena! – Ele exclamou, já quase gritando.

Ao olhar em sua mão, uma onda de apavoro surgiu em meu rosto. Tony segurava um teste de gravidez indicando positivo.

Espera. Teste de gravidez?

— Eu não… – Fui responder, mas fui interrompida por Pepper, que apareceu na sala.

— O que está acontecendo? – Perguntou ela, e então viu o que Tony segurava – Tony! Você estragou a surpresa.

— Surpresa! Você sabia e não me falou nada? Pepper, a Helena é uma criança! Eu não acredito que vocês…

— Tony – Interrompeu ela – Isso não é da Helena.

Levei as mãos à boca, incapaz de conter minha surpresa. Pepper estava grávida! Tony olhava para ela, totalmente sem reação, e eu olhava para ele, com vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

— Parabéns, papai. – Disse Pepper, dando um beijinho em seu rosto, deixando-o com cara de bobo.

Quando fui tomar banho, quase chorei de alívio. Eu estava menstruada.

I (don't) Need a Hero!Where stories live. Discover now