Procura-se uma Secretária [concluída]

Dois

Capítulo 02, por Ethan Watson
Currículo Perfeito

— Eu não acredito que estou vendo isso! — mamãe grita na sala, segurando a prancheta que estava comigo horas atrás.

As entrevistas finalmente acabaram e agora estamos em mais uma reunião tediosa para decidir quem vai ocupar o cargo. A decisão final é do meu pai, mas ainda assim, a senhora Watson insiste em participar e, quis me colocar no combo também.

— O quê? — pergunto tentando lembrar de cada detalhe que escrevi naquele papel. — Escrevi alguma palavra errada?

Deus do céu, que eu não tenha rabiscado nenhuma bobagem...

Da última vez desenhei uma gravura inocente e coloquei "o pênis de Tyler" ao lado em um documento importante, nunca vi o meu pai mais furioso, apesar de ter sido hilário a cara de todos os velhotes na sala de reunião.

— Creio que todas estejam erradas, mas não no sentido ortográfico. — me fuzilou com o olhar. — Leia isso, Elliot.

Ela caminha até a mesa e entrega uma das folhas à ele.

Um sorriso se forma nos lábios avermelhados dele, e eu consigo relaxar um pouco.

— Ethan, você não tem jeito. — tentou me repreender, contudo, sua diversão estava tão clara como a água.

— "Número 4: Payton Adams. Pontos positivos: Seios fartos, lábios carnudos e uma bunda enorme. Pontos negativos: Tem uma aliança." — mamãe leu em bom tom, e encaro sua expressão raivosa ainda confuso. — “Número 7: Joel West. Pontos positivos: é gay. Pontos negativos: é gay.” — ela iria continuar, mas o timbre rouco do meu chefe a corta.

— Ele é gay?

— Ah, pai. Ele estava mais interessado em você, que no próprio salário. Como não percebeu? — dou de ombros.

A boca da minha mãe vai ao chão.
Sério que eles não haviam percebido? Estava tão óbvio.

— Por que não escreveu nada sobre o físico da Marjorie? — a ruiva observa a prancheta. — E ela não é uma perfeccionista estúpida, como disse aqui.

— Como que eu poderia reparar no seu corpo se ela deixa a própria avó escolher suas roupas? Não viram aquele vestido horroroso?

— Ethan. — papai fala. — Nem todas as moças gostam de mostrar demais, e além disso, é uma entrevista de emprego. Ela não ia à uma festa.

Ai, Deus. Por que tão chato?

Confirmo com a cabeça, balançando para um lado e depois para o outro. Está na cara que ele já escolheu quem contratar.

Desde que a srta. Hayes deixou essa sala com o seu currículo perfeito, ele e mamãe não param de falar no seu maldito nome.

Não sei como e nem por qual motivos continuaram a entrevistar os outros candidatos, porquê a cada pessoa que saia, chegava uma comparação com ela.

Isso era irritante.

Saio da sala enojado e pronto para vomitar em mais alguém que tocasse no assunto.

— Você viu a gata que veio hoje aqui? — Rebecca fala, entrando na minha sala.

— 50 mulheres estiveram aqui hoje, tem como ser mais específica?

— Trevor do setor 3 disse que ela era ateniense. Como será o gemido com sotaque meio grego? — sentou na minha cadeira e começou a girar.

Reviro os olhos.

— Jurei vomitar na próxima pessoa que falasse nessa mulher. É melhor calar a boca e vazar daqui.

— Na verdade, eu preciso de uma carona. Quando vai pra casa? — mudou de assunto com uma cara de nojo.

— O que houve com o seu carro?

— Está na oficina, preciso que me leve até lá.

— Não vai rolar. — dou de ombros, negando com a cabeça.

— Qual é, Ethan? Eu sempre te trago das festas, e ainda te deixo dormir no meu sofá fedendo a sexo hétero. Vai me negar uma carona? — a loira gesticula na minha frente, indignada.

Tento segurar o riso por relembrar das nossas aventuras juntas.

— Ok, você venceu. — caminho até a porta e abro pra ela sair. — Te encontro no estacionamento às 18h.

Rebecca pula da poltrona e sai rebolando pelo corredor movimentado.

Ela é uma boa amiga, acho que a única que tenho até hoje. E apesar de pegar mais mulheres que eu, nem de longe alguém consegue perceber que gostamos do mesmo sexo.

Essa descendente de japonês é uma vaca sem coração, assim como eu. Talvez seja por isso que sempre nos entendemos tão bem.

Caminho até o balcão com alguns drinks que peguei da sala do meu pai e coloco um pouco de whisky no copo, antes de telefonar para Tyler e saber quais são nossos planos para a noite.

Bom, eu espero que ele já tenha algum.