Vinte e oito

19.2K 1.8K 71
                                    

Capítulo 28, por Ethan Watson
Relator

Nem toda maquiagem do mundo poderia esconder o cansaço explícito no meu rosto naquela tarde. Depois de passar a madrugada inteira e um pouco da manhã com Marjorie fazendo "coisas de namorados", mal conseguia me manter de pé ou prestar atenção na reunião. A sala cheia de executivos conversando, dando idéias e fazendo perguntas retóricas estava bem mais entediante que a conferência que fomos ontem à noite, disso não tinha dúvidas.

Pedi aos deuses que o meu pai não percebesse a minha exaustão, assim como a senhora Watson fez ao botar os olhos em mim. Por sorte, não houve nenhuma ligação da minha parte à Marjorie, já que Elliot a liberou da reunião para "conhecer" a cidade, e não precisou vê-la pessoalmente para dizer isso.

E, finalmente, depois de três horas batucando na mesa para me manter de olhos abertos, sou liberado do meu inferno particular.

Mando mensagem para Rebecca pedindo sua presença no meu quarto e antes que eu mesmo chegasse nele, já recebi uma resposta dela me dizendo que estava na porta.

As portas metálicas do elevador se abrem e vejo a minha aliada de meio metro com um pijama florido e um coque torto na sua cabeça.

— Pelo visto sua noite também foi animada. — ela disse, enquanto me observava abrir a porta.

— Estou tão destruído assim? — perguntei cinicamente.

Ela apenas sorriu e soltou um comentário em italiano que não fiz questão de traduzir, ainda me fazendo lembrar da irritação que tive por ver Major falando com Connor na noite passada. Meu ódio por não saber fluentemente esse idioma não era nada comparado ao que senti naquela ocasião.

Ainda passaríamos algumas horas em Roma, pois o jatinho só pousaria no aeroporto de madrugada. Então, pedi um whisky e dividi o resto da tarde com a minha amiga. Comecei a puxar assunto, querendo contá-la sobre a minha atual relação com Marjorie, mas fiquei surpreso ao perceber que ela já havia descoberto grandes momentos.

— O after trouxe resultados, então? — deitou-se na minha cama, bagunçando os travesseiros.

Não consegui conter um sorriso. E que resultados!, pensei.

— Você nem imagina o quanto.

Rebecca levantou, ficando sentada e me encarando como se tivesse acabado de falar o maior dos palavrões.

— Não, não. Isso quer dizer que vocês transaram? — levou as mãos até sua boca. — Ethan Watson, se você tiver levado a Marjorie para esse after no intuito de dar bebida para... Oh, homem, eu sou capaz de tirar sua vida!

Então foi a minha vez de ficar surpreso. Em uma amizade de anos, me vendo todos os dias, dormindo e se alimentando na minha casa, com a minha família, Rebecca Yoongi foi capaz de me insultar dessa forma. Eu estava perplexo, essa era a palavra certa. Ela, mais do que ninguém, deveria saber que jamais iria me submeter a uma sujeira dessas.

— Por Deus, necrofilia não faz meu tipo, Becky. — respondi, esclarecendo: — Nós transamos, mas ela não estava inconsciente como você imaginou.

Ela suspirou aliviada, tirando as mãos da boca e levando ao peito.

— E foi, tipo... bom?

Eu não iria narrar a nossa noite como roteiro de um filme pornô, isso é óbvio, mas desde o dia que cheguei a comentar com a querida Srtª Yoongi sobre a existência da virgindade de Marjorie, ela duvidou do nosso lance, como se eu fosse um verdadeiro ninfomaníaco.
Mas não julgo a sua conduta, já que não costumo ter qualquer relacionamento com mulheres que não envolva sexo entre nós, essa é a verdade. Quer dizer, era a verdade, antes dela chegar.

— Você já viu aquela mulher? Não tinha como ser ruim. — beberiquei o whisky mais uma vez, rindo. — Acho que nunca quis tanto levar alguém pra cama e, pensei que depois de transarmos algumas vezes, o tesão diminuiria, sabe? Mas não rolou.

Becky xingou alto, gargalhando.

— Ah, cara, eu perdi o meu melhor soldado. Acho que você fica de p4u duro só de falar nela.

Bom, não era um comentário totalmente verídico, contudo, nem de longe era uma mentira.
Seguro a garrafa e sirvo o copo dela, deitando do seu lado, já esperando o seu espetáculo de surto ao escutar as palavras que eu diria futuramente.

— Pode ser que eu esteja namorando com ela. — digo com a melhor das camuflagens.

Pode ser. Quem eu quero enganar? A pedi em namoro desavergonhadamente e estou como uma garotinha de colegial enchendo a cara no quarto contando tudo para um melhor amigo gay.

— Pode ser que eu esteja morrendo de inveja de você. — Rebecca falou tomando tudo de uma vez só. — Sempre pensei que eu fosse deixar "essa vida" primeiro, preciso encontrar alguém para irmos em dates de casais.

Odiei a idéia, entretanto, optei por não destruir os seus planos assim tão rápido.

— Você não pode contar a ninguém, combinamos que seria melhor. — expliquei.

Na verdade, o combinamos dessa colocação não passava de uma grande fraude. Marjorie decidiu. Por algum motivo, ela não queria misturar as coisas e nem por sonhos gostaria que meu pai ficasse sabendo.

E por coincidência, ao pensar no diabo, ouço o meu celular tocar. O senhor Watson estava avisando que sairíamos mais cedo de Roma, logo após o jantar pra ser mais exato.

Aviso a Rebecca e ela procura forças na sua embriaguez para levantar e ir para o seu quarto arrumar sua mala, coisa que eu também precisaria fazer naquele exato momento.

Procura-se uma Secretária [concluída]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant