Quarenta

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Capítulo 40, por Marjorie Hayes
Sem despedidas


Fui covarde demais para aparecer na empresa no outro dia. Depois de passar a noite inteira chorando e me martirizando por ter mentido sobre a traição, meu estado não era dos melhores.

Me culparia eternamente por ter inventado àquela história medíocre para Ethan, mas sei que estamos em momentos importantes da nossa carreira, e ele nunca aceitaria o aborto. Entretanto, me culparia ainda mais se jogasse todo o nosso trabalho em segundo plano.

Minha vida inteira foi em prol disso, ser reconhecida por meu próprio trabalho. Tinha acabado de me transformar em sócia executiva de uma das maiores empresas de toda a Califórnia e se essa gravidez aparecesse agora meu mérito iria para o lixo gradativamente.

A secretária que subiu de cargo porque dorme com o filho do chefe estaria nas manchetes de Long Beach.
Sei que provavelmente Ethan nunca me perdoaria por tirar — mesmo que indiretamente —, seu direito de paternidade, mas se continuasse com àquilo, eu nunca me perdoaria por renunciar tanto e no final ser só mais uma que subiu na vida transando com CEOs.

E, como esperado, todas as minhas coisas estavam na sala do apartamento de Alla e Josh.
Tenho sorte por eles não terem encontrado outra pessoa para alugar o meu antigo quarto.

Estava tomando café da manhã com Alla, enquanto ela tentava me consolar com belos discursos feministas.

O corpo era meu e o filho também, se não estivesse pronta para ser mãe, eu poderia fazer aquela escolha sem ser uma vaca egoísta.

Tinha deixado o carro no estacionamento do prédio de Ethan no intuito de me desvencilhar dos seus presentes. Não queria nada que me lembrasse, contudo, não consegui deixar o anel.

Não que isso mudasse alguma coisa ou estivesse fazendo qualquer diferença, já que literalmente tudo o lembrava. Ainda nos veríamos na empresa algumas vezes, e teríamos de nos cumprimentar como se nada tivesse acontecido.

Como se nada tivesse acontecido.

Isso seria o inferno.

Eu amava Ethan, amava de verdade.
O que os outros iriam pensar sobre mim profissionalmente era tão importante assim ao ponto de deixá-lo me odiar pra sempre?
Ao ponto de me fazer ser infeliz e mudar o meu destino com a merda de uma mentira?

Olho para Alla à minha frente novamente.

— Acha que vou me arrepender de tudo isso?

Ela respirou antes de me encarar. Já imaginava o que viria a seguir.

— Major, sempre vou te apoiar, mas você acha mesmo que está fazendo o certo? Se a resposta for sim, não tem porque se preocupar. — deu de ombros.

E aí estava o problema. No fundo, eu sabia melhor que qualquer um a resposta para a minha própria pergunta.

Levantei rapidamente e fui direção a pilha de malas no canto da sala. Procuro uma peça de roupa descente e chamo um táxi.

O trânsito estava ruim e isso servia quase como uma punição para mim. Quanto mais desejava estar na empresa, mais veículos passavam a frente.

Demorou certa de 30 minutos de tortura para finalmente pisar na fachada do prédio.
Rebecca não estava na recepção, então passo diretamente para o elevador.

Respiro fundo algumas vezes antes de caminhar até a sala de Ethan.

Dou passos longos e deixo três batidas singelas sob o metal frio. Não houve uma resposta.

Procura-se uma Secretária [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora