CAPÍTULO UM

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*como prometido, dia 15 saindo o primeiro capítulo. Não vou falar muito aqui, só conheçam a primeira protagonista do livro. Amanhã já posto o segundo capítulo pra vocês conhecerem o segundo protagonista. Depois vou decidir os dias que vou postar hehehe.

Esse aqui é só a apresentação da Kaya e do Guto, por isso é bem curtinho.

E, antes que eu me esqueça, parabéns LunaSioli !!! Achou que eu ia esquecer, né? Hahaha*

— Guto! — gritou Kaya, girando em meio às pessoas. — GUTOO?!

Seu coração estava quase rasgando seu peito. O desespero a tomava, adrenalina corria em suas veias. O suor brotava em sua testa.

Pra onde ele tinha ido? Onde tinha se metido?! Kaya falou pra ele, falou pra ele ficar ao lado dela o tempo inteiro! A Praça estava cheia hoje, mal dava para andar, estava claro que ele ia se perder. E a culpa era dela. Por que ela tinha que levar o garoto junto? Por que não o deixara em casa? E daí que ele estava fazendo birra para ir? Crianças fazem birra o tempo inteiro, não fazem?

Kaya estava perdida. Não sabia em qual direção correr, então continuou girando até ficar tonta. Começou a andar trôpega, os braços tremendo. Parou na frente de um homem, o reconhecia, sabia que era amigo de seu pai, provavelmente conhecia seu irmão.

— Licença, você viu meu irmão por aqui? — ela perguntou.

O homem apenas balançou a cabeça para os lados. Depois, voltou a andar no mesmo ritmo da população da Praça: com passos rápidos.

— GUTOOO?! — ela gritou, girando outra vez. — Maldito seja!

Seus olhos captavam crianças, mas nenhuma era a que procurava. Como ela pôde ter sido tão negligente a ponto de perdê-lo? Parou de olhá-lo por apenas um segundo e... puft. O garoto sumira. Simplesmente sumira. Milhões de pensamentos começaram a se alastrar pela mente da adolescente. O que seu pai pensaria quando chegasse em casa? Como ela explicaria aquilo?

De repente, uma onda de alívio percorreu seu corpo ao perceber que ela não teria que explicar nada ao pai, já que Guto vinha correndo em sua direção com os braços abertos. Ela se ajoelhou para receber o abraço do garoto. Os corpos se chocaram e se apertaram um ao outro com força. Kaya estava a ponto de chorar.

— Você me assustou! — falou ao afundar seu rosto no ombro do garoto. — Pra onde foi?

Os dois se afastaram para os olhos se encontrarem.

— Pensei que tinha visto Tomás — ele explicou, entristecido. — Corri atrás dele, mas... eu estava errado...

A garota compreendeu o menino. Não precisou gritar com ele ou lhe dar uma lição o alertando para nunca mais fazer aquilo. Guto sabia que havia sido errado e Kaya confiava que não se repetiria. O garotinho sempre foi muito esperto para seu tamanho, talvez essa fosse sua maior virtude. Entretanto, o ato de correr para longe sem nem avisar fora um aviso de que, por mais que a inteligência de Guto fosse surpreendente, ela não deveria deixar de prestar atenção nele.

— Ah, Guto... — ela disse. — A gente já conversou sobre isso. Os Sem-Caras o levaram ontem. Ele não vai voltar.

Essa foi a maneira com mais eufemismos que ela encontrou para dizer que Tomás provavelmente já estava morto. Ninguém raptado voltava. Uma vez pego pelos Sem-Caras, nunca mais você era visto. Kaya viveu sua infância inteira assistindo a amigos serem levados para longe, por isso sabia o que Guto estava sentindo. Tomás era seu melhor amigo e iria ser difícil para que as coisas voltassem ao normal. Até a garota sentia falta dele, já que o menininho passava longas tardes na casa dos irmãos.

— Eu sei... — ele disse, cruzando os braços. — Mas... eu só...

Não encontrou palavras pra finalizar.

No dia anterior, os Sem-Caras vieram com aquelas máquinas de quatro rodas e começaram a agarrar todas as crianças possíveis, como sempre. Guto estava em aula e, como a escola funcionava ao ar livre — era constituída em apenas algumas cadeiras no chão lamacento da Praça —, eles não tiveram dificuldade em atrapalhar a professora. Kaya assistiu a cena enquanto enchia um balde de água na única torneira da região. Quando a máquina que transportava os Sem-Caras passou, todos ficaram tensos. A fila inteira atrás da garota olhou em silêncio para o transporte enquanto ele passava com um tom ameaçador. Estava devagar demais. As crianças da escola também olharam assustadas. Quando parou de forma abrupta e os Sem-Caras começaram a sair, Kaya berrou. O balde caiu, desperdiçando água potável. Todas as turmas de crianças se levantaram em um ímpeto e começaram a se espalhar pela Praça, correndo e gritando para fugir dos Sem-Caras. Guto não teve muitos problemas para escapar. Ele disparou até os braços da irmã e ambos permaneceram longe da situação, sem serem notados pelos sequestradores.

Eles pegaram muitas crianças da região naquele dia. Os irmãos assistiram Tomás ser puxado para dentro da máquina, paralisados com o medo e a tristeza. Só quando os Sem-Caras foram embora se permitiram chorar.

A garota balançou a cabeça para afastar as lembranças e voltar ao presente.

— Vamos, é melhor irmos pra casa — declarou.

— Mas e a troca? — insistiu Guto. — Papai falou que se não trocássemos esses pedaços de madeira nós ficaríamos sem janta hoje!

— Eu sei o que ele disse. — Ela colocou sua mão sobre o ombro dele. — Mas hoje não vai dar pra trocar. Viu como a Praça está cheia?

Culpar a lotação da Praça não era totalmente justo; os dois já haviam enfrentando dias piores. Muitas pessoas vinham de outras regiões para utilizarem os recursos dali, por isso era normal estar daquele jeito. Até era compreensível o lado deles, afinal, aquela era a melhor Praça de Antã.

— Posso me encontrar com Dan depois para caçar, aí teremos janta — explicou ela.

— É por causa do susto que eu te dei, não é? — indagou Guto, mostrando que nunca deixava a irmã enganá-lo. — Vamos embora por causa disso...

A adolescente nem respondeu por ficar constrangida na frente do mais novo. Ajeitou a mochila nas costas, se ergueu e deu a mão para ele. Juntos, seguiram para a pequena casa de madeira da qual chamavam de lar.

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now