CAPÍTULO DOZE

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*to postando dois capítulos hoje pq sim*

Leyr não aguentava mais pisar em mato. Nunca pensara que um dia sentiria falta do Lado de Dentro. Mal conseguia andar, por causa de tantas dores se espalhando pelo seu corpo. Havia um corte em sua perna, não muito profundo, mas dolorido o suficiente para deixá-lo manco. Não tinha ideia de quando o fizera; provavelmente no rio.

Ao notar sua lentidão e as constantes oscilações, Kaya ofereceu ajuda numa língua completamente diferente da do rapaz:

— Tenho uma folha de babosa e uma substância feita com pétalas de calêndula na bolsa. — Ao notar seu olhar de desentendido, explicou melhor: — Posso fazer uma gaze pra você. Só preciso de um pano, de preferência limpo.

Ele aceitou. Como não iriam encontrar nenhum tipo de tecido 100% esterilizado por perto, optaram por rasgar um pedaço da manga curta de sua camiseta. A garota pegou um frasco com algo amarelado dentro e despejou em cima do pano improvisado. Em seguida, tirou a folha verde e grossa da babosa de dentro da mochila e, com uma faca — limpa, não a com aquele veneno paralisante —, removeu a casaca. Colocou um pouco do sumo transparente da planta por cima da ferida; em seguida, fechou-a amarrando a gaze envolta de sua perna, dizendo para não mantê-la ali por tanto tempo.

O conhecimento de Kaya sobre botânica era, de fato, surpreendente. Era raro encontrar alguém no Lado de Dentro que soubesse ao menos o nome de uma árvore.

Continuaram caminhando em silêncio, até chegarem perto da área urbana e os sons começarem a circular pela floresta. Buzinas, motores, conversas, músicas.

— Que barulheira é essa? — indagou a garota, confusa.

— É por aqui. Estamos chegando! — respondeu o rapaz, ansioso para voltar à cidade.

Os adolescentes chegaram às margens da civilização, onde só havia indústrias e estradas. No entanto, além dos prédios cinzas e pequenos, além das casas construídas umas em cima das outras, dava para se ver o brilho triunfante das luzes de LED refletindo nos prédios envidraçados. A iluminação que era capaz de ofuscar a lua e as estrelas. Eles haviam chegado à Metrópolis.

— Seja bem-vinda, Kaya — ele falou, virando para encarar o olhar hipnotizado dela —, ao Lado de Dentro.

***

A adolescente ficou impressionada com a visão. Perguntava-se o tempo inteiro como a coloração daquele lugar conseguia ser tão intensa e diversificada. Era um mundo diferente. Antã não podia existir na mesma realidade que aquela cidade! Não havia como.

Eles passaram, primeiro, por uma parte disforme, vazia e escura daquela sociedade. As pessoas dali não eram muito felizes e nem aparentavam ser amigáveis. Leyr deu um adjetivo àquele lugar: pobre. Descreveu que era onde vivia a maioria das pessoas que não conseguia dinheiro suficiente para viver em boas condições. A movimentação era lenta e um pouco assustadora, principalmente quando passavam pelos becos, passagens feitas entre dois edifícios. As luzes eram escassas e brancas, vindas de hastes de metal, das quais o rapaz chamava de postes, ou das janelas das próprias moradias ao redor. O ambiente ali era hostil, duro, asfaltado e silencioso. No entanto, Kaya ainda conseguia ouvir algumas euforias um pouco distantes. Leyr a explicara sobre as festas que existiam em diversas partes do Lado de Dentro, até mesmo nas mais afetadas pelo sistema. O povo dali era elétrico. Gostava de se divertir o tempo inteiro.

Aos poucos, os estabelecimentos nas ruas foram mudando e ganhando forma, luzes, vida. Música saia alta de certos lugares, feitas com instrumentos dos quais Kaya não conhecia. Eram batidas energéticas, criavam na garota vontade de dançar. As ruas foram ganhando movimento de verdade, com passagem de carros das mais diversas cores, tamanhos e formatos. De algo amedrontador, foram parar em um ambiente cheio de alegria.

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now