CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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A cidade se apagou como se alguém tivesse apertado um interruptor universal. As luzes, os telões, os faróis... tudo foi desligando até deixar o Lado de Dentro numa completa escuridão. Leyr não entendia o que estava acontecendo. Até alguns segundos atrás estava numa boa, sentado no banco do motorista do caminhão e esperando o veículo chegar ao seu novo objetivo enquanto assistia o vídeo passando pelos telões ao seu redor. Agora estava no meio de uma gigantesca confusão, causada pela falta de semáforos nas ruas. Os carros passavam pelos cruzamentos sem conseguir tempo de parar e colidiam-se uns contra os outros.

Os pilotos automáticos não estavam preparados para esse tipo de situação. Tentavam frear quando os sensores sentiam algum obstáculo próximo, mas quase nunca conseguiam evitar os acidentes. Cacos de vidro voavam para todos os lados, estrondos ocorriam a todo instante. O caos havia se instaurado em Metrópolis.

O caminhão roubado atravessou um cruzamento em alta velocidade, por pouco não atingindo um carro vermelho que passava na frente. Percebendo o perigo que corriam, Leyr alterou o controle para manual. Gustavo gritou:

— Você não sabe dirigir!

Os dois haviam se separado dos outros por causa do plano de emergência. Hug e Chloe estavam na van, seguindo a mesma direção que eles. Estavam distantes, mas eles conseguiam se comunicar apelo ponto eletrônico. Por sorte, aquele não funcionava pela internet e não foi silenciado com o corte de energia. No entanto, o GPS do caminhão estava dando erros de direção. O garoto também deduzia que o hack de Chloe estivesse falhando.

Desesperado, o menino se obrigou a aprender a dirigir. Pisou no pedal direito, o qual sabia que servia para acelerar. O automóvel continuou na mesma velocidade — um pouco rápida demais para o adolescente. Com as mãos apertando o volante, movia o veículo para desviar dos outros no caminho. Seus braços tremiam. O corpo suava.

Enxergava tudo à frente por causa dos faróis acesos, as únicas fontes de luz favoráveis. Viu uma mulher surgir correndo e gritando na frente deles, desesperada com o blackout. Leyr prendeu a respiração; girou o volante com tudo para a esquerda, jogando o transporte na direção da pista de mão contrária. Conseguiu desviar da mulher, mas logo teve que se agilizar outra vez: um ônibus vinha com toda a velocidade contra eles. Moveu o caminhão de volta para a direita. Os dois automóveis acabaram raspando as laterais. Ouviam-se gritos vindo de dentro do transporte público. A janela ao lado do adolescente explodiu, chovendo fragmentos de vidro para cima dele. A adrenalina corria uma maratona em suas veias; gotas de suor escorriam pelo seu rosto.

Leyr ouviu o barulho de hélices girando já próximas demais a eles. O som de um motor, vindo de cima, se aproximava. Então, um enorme feixe de luz caiu sobre a cabine do motorista, iluminando os garotos dentro. O mais novo não precisava nem olhar para cima, tinha certeza da presença de um helicóptero ali, os seguindo no ar.

— Leyrdalag, aqui é a Segurança Humanitária de Metrópolis! — anunciou alguém sobre eles, via um alto-falante. — Estamos com o apoio das forças armadas. Não dificulte as coisas. Saia do veículo ou abriremos fogo!

Como haviam descoberto onde eles estavam? Será que perceberam o roubo do caminhão? Será que os caminhões eram monitorados? Tinham rastreadores dentro deles?

— Leyr, temos que voltar! — berrou Hug ao seu ouvido. — Não podemos mais fazer nada! Volte!

— Hug tá certo, Leyr — disse Gustavo, com mais tranquilidade. — Não podemos continuar. Eles nos encontraram...

Porém, ambicioso como era, o garoto pensou em Kaya, em tudo que a garota passara para chegar até ali apenas na intenção de salvar seu irmão. Ele prometera que o traria de volta. Dissera que conseguiria.

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