CAPÍTULO OITO

516 73 15
                                    

Guto despertou confuso. Lembrava-se apenas de ser levado para a máquina e dormir com algo que lhe injetaram no braço. Havia doído bastante. Agora, não sentia mais nada.

Estava deitado em uma cama macia, em um colchão muito confortável. Olhava para o teto feito de um material nunca visto antes, liso e sólido. Parecia estar pintado em leves tons de azul. No centro dele, havia um objeto retangular branco fixado. O garoto não fazia ideia do que era aquilo. Com calma, se ergueu para analisar o quarto. Era escuro, pequeno e com apenas outros dois objetos além da cama: uma poltrona azul e uma escrivaninha de tampo envidraçado e pernas de metal. Ele se surpreendeu com a mesa, nunca vira algo feito daquele jeito. Talvez algumas das coisas que vinham da Área de Coleta apresentassem certa similaridade, mas nunca estavam completamente intactas como aquela mesa.

Pulou para o chão de madeira, pondo os pés sobre um tapete macio e percebendo que estava descalço. Ao olhar para baixo, viu novas roupas: brancas e sem rasgos. Até seu odor havia mudado. Coisas estranhas aconteceram com ele enquanto dormia.

A única janela do ambiente apresentava ao garoto uma vista inovadora. Aproximou-se para ver melhor, se deparando com a noite iluminada por milhares de luzes que não eram estrelas. Elas provinham de estruturas gigantescas, capazes de arranhar o céu, feitas com diversos tipos de materiais, em diferentes formatos. Brilhavam, reluziam, piscavam. Eram torres e mais torres despejando luminosidade. Diferenciavam-se no quesito de cores, a sua maioria era azul, puxado um pouco para o violeta. Além disso, ele percebeu a altura elevadíssima que se situava, o deixando tonto só de olhar. Nunca estivera em um lugar tão alto antes.

O garotinho se dirigiu à única porta no extremo oposto onde estava. Queria Kaya ou seu pai. Estava com medo. Será que havia Sem-Caras ali? O que iam fazer com ele?

O garoto saiu, então, num corredor branco e com forte iluminação. Objetos no teto — parecidos com os do seu quarto — eram os causadores dela. Seus pés congelavam com a temperatura do piso. Ele avançou até o final, onde se deparou com uma escada à direita. Desceu-a correndo, entrando em um ambiente ainda mais bizarro.

Do outro lado de onde estava tinha uma porta de entrada estranha, parecia ser feita de metal e refletia uma imagem distorcida do menino. Ao lado dela, havia uma mureta que separava a entrada de um cômodo com uma mesa pequena e quatro lugares para sentar, além de uma outra mobília desconhecida: parecia-se com um armário, mas também era feita de ferro e estava conectada na parede por um fio preto. À esquerda de Guto, encontrava-se outro aposento, sem divisórias dessa vez. Este era composto por um sofá, uma poltrona e uma mesinha de centro envidraçada — será que todas as mesas dali eram assim?

Além dessas coisas, tinha um grande objeto fino e transparente em cima de uma estante branca, de formato quadrangular e sustentado por um suporte preto, que chamou a sua atenção. Tanto o sofá quanto a poltrona estavam voltados para ele, como se fosse para as pessoas sentarem olhando naquela direção. Guto não resistiu: se aproximou do aparelho para entendê-lo. O material transparente não era vidro, mas parecia. Ao analisar o suporte, viu alguns botões com símbolos estranhos. Apertou o primeiro.

O quadrado ganhou vida. Uma imagem se projetou nele quase no mesmo instante, iniciando uma sequência. Sons também irradiaram do objeto. Guto, assustado, se afastou e caiu de bunda em cima da mesa de centro, com os olhos vidrados na exibição. Era como desenhos que se mexiam e falavam! Ele ficou por um longo tempo olhando para a animação.

De repente, a porta se abriu com um barulho baixo. De lá, um Sem-Cara surgiu, fazendo os pelos do garoto se arrepiarem e ele entrar em pânico. Levantou-se num ímpeto e deu dois passos para trás.

O homem ergueu suas mãos e removeu o capacete, mostrando sua face quadrada e robusta. A porta se fechou sozinha.

— Sou Hock — apresentou-se. — Infelizmente fui convocado a tomar conta de você por enquanto, garoto.

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now