CAPÍTULO VINTE E OITO

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Eles andaram pelos trilhos do metrô até chegarem ao limite, no muro que tapa a passagem para o centro de Metrópolis. Saíram pela estação aberta e segura mais próxima do objetivo. Não se atreveram a ir tão perto do prédio. Leyr estava junto e seu rosto passava de toda hora nos telões dali. Era o vagalume do grupo de abelhas, chamaria atenção se fosse visto. Por isso, Kaya e os outros se esforçavam para mantê-lo escondido no meio dos corpos enquanto andavam em locais públicos.

A garota ainda não se acostumara com tanta tecnologia. No centro, sentia-se zonza com as iluminações coloridas enquanto músicas alegres soavam de todos os cantos, acompanhadas por vozes distantes dos alto-falantes: "Compre agora seu holograma show! O primeiro projetor hologramas comercializado!", "Tem SCID ou SIDA? Saiba como controlar as imunodeficiências mais comuns e graves com Dr. Serd. Entre agora no nosso site para mais informações!", "Bug Burguer! Há mistura melhor do que videogames e hambúrguer?"

Os drones eram os pássaros daquele céu. Alguns voavam perto da cabeça dos cidadãos. Outros atingiam alturas bem maiores — esses eram maioria —, criando trânsito no ar. O monotrilho passava zunindo e brilhando por entre os prédios. Kaya se imaginava dentro dele, vendo a cidade passar num borrão rápido enquanto chegava ao seu destino sem precisar andar. Infelizmente, sabia que aquilo nunca aconteceria. O transporte era monitorado com câmeras de reconhecimento facial. Encontrariam os Insurgentes num piscar de olhos.

Eles atravessaram uma extensa viela, pularam o muro do final e acabaram numa área ampla e quadrangular vazia entre construções pequenas. Havia outros três muros além daquele que podiam ser outras saídas dali. Reuniram-se em uma roda, todos olhando para a garota de cabelos azuis enquanto ela pegava algo de sua mochila. Remexeu dentro da bolsa até encontrar o que queria: um aparelho tecnológico com uma telinha e alguns botões embaixo. Havia outra coisa em sua mão, mas Kaya não conseguia ver.

Então, Chloe deu um passo para frente, erguendo o punho para revelar.

— Vamos usar isso para espiar dentro do prédio do governo — falou, abrindo a mão. Sobre sua palma, imóvel como se estivesse morta, estava uma pequena mosca preta.

— Uma mosca? — perguntou Kaya.

O aparelho com a telinha foi parar nas mãos de Gustavo. O garoto ligou e as imagens do monitor portátil foram ativadas. Ao mesmo tempo, o inseto bateu suas asas, erguendo-se no ar. Logo estava voando a poucos centímetros do rosto de Kaya, observando-a. No aparelho do garoto, a imagem reproduzida era a face dela franzida com os olhos virados para o lado.

— Uma câmera — explicou Chloe. — Vamos levá-la até aquele edifício pra procurar seu irmão. Foi com isso que espionamos os caminhões do governo antes de você chegar ao nosso abrigo.

A mosca se ergueu ainda mais, desaparecendo de vista no céu escuro. A menina de cabelos azuis se juntou a Gustavo para ajudá-lo a guiar o inseto metálico. Hug ficou próximo dos dois, apenas observando. Para não ficar sozinha, Kaya permaneceu com Leyr.

— E se eles verem a mosca lá? E se a matarem? Não tem muitos insetos aqui, não é? Vão suspeitar de algo... — ela disse.

O garoto riu, virando os olhos para ela. Estava de braços cruzados, como uma forma de se proteger do frio.

— Relaxa, não vão ver nada — tranquilizou. — Gustavo sabe mexer com controles desse tipo. — Apontou com a cabeça para o aparelho nas mãos do rapaz. — E eu duvido que alguém vai querer matar essa coisa; a galera do Lado de Dentro morre de nojo de insetos.

A adolescente sentiu vontade de rir ao ouvir isso.

— Sério? Acho que vocês nunca iam conseguir ir para a Área de Coleta em Antã, então... é infestado de insetos!

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now