CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

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Hock chegou com seu batalhão para conter a manifestação. Porém, quando os homens saíram do furgão, pisaram no asfalto e penetraram na névoa vermelha deixada pelos protestantes, a única coisa que viram foi a rua deserta. Algumas pessoas abandonaram seus carros só pra fugir da confusão. Todos fugiram antes da chegada deles. Como se tivessem sido avisados de que estavam vindo...

Os soldados ainda insistiram em procurar. Entraram nos becos, abriram as tampas dos bueiros, vasculharam, até mesmo, dentro de alguns edifícios por perto, mesmo os privados. Nada. Eles simplesmente sumiram, deixando apenas os invólucros de suas granadas no chão.

Hock já estava começando a deixar a fúria ganhar forma em seu peito quando recebeu uma mensagem dentro do capacete:

— Hock! Precisamos de vocês aqui de volta! — Era um dos poucos soldados que havia ficado de guarda no prédio do governo. — Invadiram! Leyrdalag está aqui! E... e... eles invadiram nosso sistema. As câmeras não estão pegando! Os drones foram desativados, alguns funcionários estão trancafiados em salas e tem uma confusão acontecendo na entrada. Jogaram granadas de fumaça lá. Estamos desesperados e não conseguimos encontrar os responsáveis ainda. Precisamos de mais homens!

Uma distração, pensou, ficando vermelho de raiva. Aquilo era só uma distração idiota que eles caíram direitinho. O homem anunciou para todos os militares voltarem imediatamente para o prédio.

***

— Chequem os servidores principais, agora! - urrou Lynn para seu ponto de comunicação. — Ativem os alarmes de emergência do prédio. Quero o controle do prédio retomado em dez minutos!

Não esperou respostas. Arrancou o aparelho da orelha e o lançou contra a parede envidraçada. O objeto espatifou. Água agredia o vidro com o mesmo nível da raiva dela. O céu lançava raios - inaudíveis dali - para a superfície.

O sangue da mulher fervilhava em seu corpo. Como deixaram isso acontecer? Como invadiram o prédio mais protegido do Lado de Dentro? Leyrdalag precisava ser eliminado o mais rápido possível. Ele estava ali, ele e a sua turminha de Insurgentes. Eram mais inteligentes do que ela pensava.

Lynn foi até seu quarto, aproximou-se do quadro tosco do Rio Ângelo e, sem cuidado algum, removeu-o de seu lugar, revelando o buraco secreto atrás da parede onde sua espingarda estava guardada junto com a munição. Ela pegou a arma com as duas mãos.

Hora de acabar com isso.

***

Leyr, enquanto subia pelo elevador, pôde ver a entrada do edifício pelo vidro, quando o caos já estava instaurado no ambiente. As granadas foram soltas e a fumaça invadiu o local. Não se tornou mais possível ver quem estava ali ou qualquer metro à frente. Pouco a pouco a fumaça foi subindo, atingindo e ocultando o patamar das sacadas e a ponte de vidro. O rapaz já não conseguia visualizar nem mesmo a escultura de Luther & Lynn. Apenas era possível distinguir alguns funcionários, correndo de um lado a outro, como em um labirinto, sem saber para onde ir. Só espero que Chloe e Gustavo tenham arranjado um lugar pra se esconder, pensava.

Por sorte, não parou em nenhum andar até chegar ao desejado. Não trombou com ninguém no caminho, com nenhum obstáculo. Ao chegar ao pavimento certo, deu de cara com Kaya. Sentiu uma sensação de alívio ao ver que a adolescente estava bem.

— Ah, finalmente! — ela exclamou, soltando um suspiro impaciente. — Fiquei esperando naquela sala do servidor até Chloe me dizer que você estava vindo. Não aguentava mais te esperar.

O garoto sorriu, se aproximando dela. Não havia mais ninguém por perto naquele corredor. Talvez a maior concentração de pessoas ficasse nos primeiros andares.

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now