CAPÍTULO VINTE E UM

272 42 14
                                    

O dia inteiro foi baseado em correria. Todos estavam estressados no prédio do governo, trabalhando por horas na preparação do EACEI. Tudo ficara nas mãos deles. E Lynn, exausta, ainda tinha que verificar a lista de convidados que sofria atualizações a cada hora. A mulher não dormia direito há noites, preocupada com a situação de sua população. Sentia-se hipócrita em realizar a premiação mesmo sabendo das taxas altas de mortalidade por doenças no Lado de Dentro naquele ano. As crianças nasciam cada vez pior, sem ter condições de sobreviver a uma simples bactéria. Parecia que os remédios feitos com os habitantes do Lado de Fora, apesar de serem eficazes para a sobrevivência, só pioravam o sistema imunológico daquele povo na questão hereditária.

A tensão a dominava. Encarava a cidade no fim da tarde pela sua parede envidraçada. Via os prédios brilharem ao seu redor, conseguia ver a vida ali, mas, por mais que não parecesse, sabia que a probabilidade de tudo acabar era grande. Eles não aguentariam por muito tempo se continuassem daquela maneira.

E se tivesse que ativar um dos protocolos emergenciais? E se tivesse que acordá-lo?

Bateram em sua porta, a fazendo levar um susto e acordar de sua reflexão. Permitiu entrarem. Hock foi quem veio, apenas para alertar:

— Está quase na hora. Estão te chamando para poderem terminar de arrumá-la, senhora.

Ela balançou a cabeça para cima e para baixo.

— Já estou indo.

O soldado, então, se retirou do ambiente, deixando-a sozinha outra vez.

***

— Tem certeza que eu vesti isso certo? — perguntou Kaya, pela vigésima vez, olhando-se no espelho com Chloe atrás. Estava no vestido vermelho, usando luvas cumpridas da mesma cor que deixavam apenas os dedos despidos.

Era desconfortável andar com aquilo; sentia que poderia pisar em cima da barra do vestido a qualquer instante, mesmo ele acabando acima de seu calcanhar. Nem terminara de se arrumar direito e o suor já escorria pelo seu corpo causado pelo nervosismo. Fez questão de ir ao banheiro muitas vezes antes de vestir aquela roupa complicada, pois não sabia como sentava naqueles vasos do Lado de Dentro usando um vestido.

Chloe arrumara seu cabelo como pôde; não deu para fazer muito por causa do tamanho. Usava um colar de pedras preciosas falsas, furtado por Leyr. Nunca se sentira tão bem produzida antes. Era outra pessoa no reflexo do espelho, uma garota diferente em todos os aspectos.

— Claro que tenho! — respondeu a garota de cabelos azuis, sorrindo. — Você está sensacional.

— E essa maquiagem... — disse a outra, colocando as mãos no próprio rosto. — Não está muito exagerada?

Sentia-se estranha por ter mudado até o rosto. Base, delineador, batom, lápis, sombra... Se voltasse para o Lado de Fora exatamente daquele jeito, nem seu próprio pai a reconheceria.

— Acredite em mim — Chloe falou, colocando as mãos sobre os ombros da garota. — Isso não chega nem perto de ser exagerado. Na verdade, é pouco para onde você está indo. Porém, o suficiente. Vai conseguir tapear todo mundo desse jeito; nos dois sentidos da palavra. Mas não estapeie ninguém de verdade, é só uma metáfora. — Ela deu uma piscadinha pelo reflexo no espelho.

— Estou nervosa... — confessou. — E se der tudo errado? E se eu errar alguma coisa?

Chloe a virou para ambas ficarem de frente uma para a outra.

— Não precisa se preocupar, vai dar tudo certo — tentou tranquilizar a amiga. — Foco em sua missão e apenas nisso. É só colocar o pen-drive no servidor deles e pronto. Nós fazemos o resto. Tente não pensar muito nos caminhões; nem temos certeza se Guto está mesmo em um deles.

O Lado de ForaOnde histórias criam vida. Descubra agora