CAPÍTULO DEZESSEIS

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— Agora que você já conhece um pouco sobre os Três Lados, está na hora de aprender um pouquinho mais sobre esse lugar — falou Chloe ao saírem da estação de metrô abandonada.

Ela e Gustavo estavam levando Kaya para conhecer o Lado de Dentro. A garota, assim que saiu, foi atacada pela luz solar matinal. Por estar no subsolo até aquele momento, não teve contato algum com uma iluminação tão forte. Ficou com os olhos semicerrados por um tempo. Segundo os sons do ambiente, a movimentação na rua já se iniciara logo cedo, abrangendo falatórios, rodas de carros, buzinas...

O espaço quadrangular na frente do edifício aos pedaços era fechado por uma cerca de tela tampada quase por completo com lonas amareladas, das quais impediam um pouco a visão. No entanto, ainda se percebia que na esquerda havia uma rua movimentada, e na direita havia um beco entre a cerca e outro prédio. Kaya ficou olhando na direção da viela em que entrara, imaginando que sairiam por aquele caminho.

— Vamos por aqui — anunciou Chloe, indo em direção à cerca da direita. — A rua está cheia agora. Não tem como sair por lá sem gerar suspeitas.

A garota seguiu os outros dois para o outro beco. Dessa vez, pelo menos, não precisaram agachar para passar pela tela; havia um corte da altura de uma pessoa rasgando o metal. Eles seguiram para fora do corredor escuro, saindo numa outra via com bastante circulação.

— Vocês não deviam estar disfarçados? — indagou a garota para os Insurgentes. — Não são todos procurados?

— Somos — falou a mulher de cabelos azuis. — Mas você acha mesmo que os soldados e os policiais se lembram de todos os rostos de Insurgentes? Normalmente estão focados em Leyr, por ele ser o mais procurado. Ou então nos recém-fugitivos, pois são mais fáceis de localizar.

Kaya notou que Gustavo não falava muito. Parecia ser um pouco tímido ou ter vergonha da garota, mantendo sempre um pouco de distância.

Os três continuaram a caminhar, tentando evitar o máximo possível de policiais durante o trajeto. A garota foi conhecendo sobre novas tecnologias enquanto andava. Viu, parada no céu, uma gigantesca aeronave, da qual Chloe explicou ser a base área do exército, ou seja, onde os veículos voadores dos Sem-Caras ficavam guardados para missões importantes, um lugar inacessível para qualquer cidadão. Funcionava à base de energia solar.

Os carros também eram elétricos — alguns até eram autônomos —, tendo que parar em postos para reabastecer a energia. Nas mãos das pessoas estavam os tais celulares, de diversos tamanhos, cores e funcionalidades. Serviam, em geral, para comunicação. Drone, esse era o nome do objeto metálico que deslocava-se no ar acima das cabeças das pessoas, carregando caixas de entrega para casas nos mais derivados pontos do Lado de Dentro. Alguns modelos desse aparelho podiam servir ainda para uso militar e/ou pessoal.

Conforme Kaya perguntava, Chloe explicava: televisão, noticiários, jornais, tablets, estantes virtuais, filmes, jogos, peças de teatro, outdoors, telões, LED... Todas palavras novas para o vocabulário da garota, que duvidava de sua capacidade de lembrar daquelas coisas. Com seus estudos, pôde concluir, principalmente, que Chloe era o oposto de Gustavo. Gostava de falar, de explicar. Era, claramente, muito inteligente.

A adolescente ouvia tudo, ainda fascinada com a magia ao seu entorno. Os telões mostrando comerciais de produtos, os letreiros rútilos dos estabelecimentos, os prédios espelhados refletindo o céu. Era impossível tirar os olhos de tudo aquilo. As pessoas também eram interessantes no quesito aparência: algumas tinham cabelo colorido, muitas usavam produtos chamados de maquiagem — alguns de forma bem exagerada — e a maioria vestia roupas estranhas.

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