Capítulo 03

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  Olhando a mesma na cama a ouvir os irritantes barulhos dos aparelhos, seguro sua mão olhando a pele pálida, o pequeno aparelho em seu dedo e o tubo pela sua boca, está assim há meses e me pergunto sempre que venho, quando vai abrir seus olhos.
  — Hoje por incrível que pareça o dia foi muito bom. Não tive que atender milhares de pessoas e ligações, pude descansar em paz. Há alguns dias tenho conseguido dormir bem, mas, não me sinto bem. Nunca pensei que estaria nessa situação um dia, quando Emma morreu senti no fundo, por mais que não a amasse, ela estava vivendo comigo e não me sentia tão vazio — não entendia ao certo porque sempre vinha, colocava a caixinha ao meu lado e trocava as flores, falava e falava mesmo sem haver respostas, continuava vindo —
me sinto vazio agora. — Senti minha voz quebrar na minha garganta — e ao mesmo tempo, vejo como fui egoísta, só estive com Emma por odiar a solidão, é tão angustiante, é o mesmo vazio que senti quando vi que Débora matou meu pai — sinto as lágrimas, estou tão vulnerável a ponto de tocar em um assunto que não derrubava uma lágrima apenas sentia ódio, e agora poder liberar toda mágoa que afligia meu coração, é angustiante e bom ao mesmo tempo — nunca pensei que estaria tão vulnerável, porque a última vez que chorei foi quando minha mãe o matou. Agora, toda noite acordo a chorar, no banho a pensar. Já faz cinco meses Anna e não mexeu um dedo se quer. Quero uma resposta apenas, um sinal — os barulhos fazem minha paciência ser pouca a ponto de me levantar e ir direto a porta, caminho pelos corredores para encontrar a cafeteria, olho para o relógio de ponteiro que há na parede para ver que já se passava das nove da noite.
  — Boa noite, senhor Vitsky, o mesmo de sempre? — a voz fina é ouvida e percebo que estou na fila e não havia feito meu pedido.
  — Sim — sorri pequeno para a pequena loira atrás do balcão enquanto seguro meu telemóvel para ver uma mensagem no bloco de notificações.

"Olá, eu disse que se lembraria de você".

  Com confusão tento me lembrar de quem é essa mensagem, mas nada me vem à cabeça, pego meu café e volto até o quarto de Anna ainda olhando o celular, tenho mais uma hora e meia para ficar com ela. Tento descobrir durante esses cinco meses o que ainda venho fazer aqui, realmente essa pequena menina me mudou, aliás, se fosse o Harry de antes, nem viria aqui, esperava em casa uma notícia de que ela deu sinal de vida, mas realmente tenho ainda alguma esperança de ver seus olhos abrirem, tenho esperanças em fazer o pedido que queria. Nunca pensei que perder me faria tão mal, perdas sempre estiveram na minha vida. Meu celular toca me tirando dos devaneios que estava tendo, olho o telemóvel em cima da poltrona e o seguro nas mãos para ver a foto de Mary.
  — Mary aconteceu algo? Você está bem? — pergunto assim que atendo.
  — Calma menino estou bem e está tudo bem, queria apenas avisar que Cristal ligou, disse que tentou contactar seu celular mais cedo, mas que não conseguiu. Dallas foi buscá-la.
  — Está bem Mary obrigado — tomo um gole do líquido quente.
  — Nada pequeno — sorri desligando o telemóvel, lembrando-se da minha infância e como eu odiava ser chamado de "Pequeno Harry" Cristal me disse que lembrava nome de príncipe, e eu só queria ser um grande mafioso fora da lei que matava todos. Hoje realizei esse "sonho" e descobrir que não é uma das melhores coisas e que eu preferia ser talvez um príncipe...

" — Harry, pega o Jamie para mim? — a voz longe da garota me fez despertar, olho para todos os lados tentando adivinhar de onde vem à voz, tudo parece distorcido, estou bêbado? À minha frente percebo que alguma coisa se aproxima — Harry? — a voz ficou mais alta e, ao mesmo tempo, me fez cobrir meus ouvidos com a mão, o eco feito me fez sentir dores, abrindo os olhos devagar observo que os pontos pretos que vinham longe era os seguranças de André e quando o disparo foi ouvido meus olhos se arregalaram e a visão não se tornou turva, mas nítida em uma garota caindo, em choque meus pés se moveram para tentar a pegar e a última coisa que ouvi foi sua voz me chamando — Harry!".

  Acabo despertando olhando a mulher ruiva à minha frente encaro Anna para ver que está do mesmo jeito e olho novamente para Helena.
  — Você dormiu — sorriu a mulher poucos anos mais velha que eu.
  — Me desculpe — olho o relógio de pulso para ver que ultrapassei meia hora do meu horário de visita.
  — Tudo bem, vá para casa, durma e volte amanhã — sorriu para mim e a abraço. Helena tem cerca de seus trinta e três anos, tem uma filha amável de dez e é uma ótima conselheira.
  — Boa noite Helena — me encarou e sorriu.
  — Boa noite Harry — caminho até a porta de saída. Deixo o copo de café vazio sobre o lixo e empurro os fios longos do meu cabelo para trás, quando saí à chuva molhou meu corpo e não hesito em deixar os pingos grossos molharem minha pele, preciso sentir que estou vivo, por que não há nada que me prove isso, me sinto morto por completo, um pouco de chuva fará minha alma voltar novamente para mim.

  O caminho para casa foi um pouco quanto perturbador, lutei para me manter acordado e atento a estrada enquanto ouvia algo no rádio, já se passa das onze e mesmo assim há duas mulheres à cozinha a falar sobre assunto feminino.
  — Tão tarde para duas mulheres estar a conversar sobre moda — me apoio na porta da cozinha a olhar Mary e Cristal a falarem enquanto tomam uma xícara de chá.
  — Quer junta-se a nós? Não está tão longe do seu rumo de trabalho — sorri.
  — Bom minha irmã — caminho até a loira e suspiro chegando a sua beira — a única coisa que quero agora, é não falar do meu trabalho — deixo um beijo a sua bochecha — boa noite meninas — dou as costas para elas e subo para meu quarto. Adoraria por a conversa em dia com Cristal, mas o cansaço me chama e eu não poderia deixar essa chance de uma noite boa passar.

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